Ecoturismo de observação

Observação de aves: o turismo emergente

23 de maio de 2005

A atividade que educa, preserva e causa menos impacto ambiental

O turismo é a indústria da paz. É a atividade econômica que mais cresce no mundo. Mais de 180 milhões de pessoas vivem diretamente do turismo, um negócio que movimenta trilhões de dólares anualmente. Existem várias formas de turismo: o religioso, o de convenções, o esportivo, o cívico e o ecoturismo. O turismo ecológico é uma modalidade que está em franco crescimento e é muito importante por estar atrelado à educação ambiental e à preservação da natureza. O Brasil, por ser um país rico em biodiversidade, florestas, praias, águas interiores e grutas tornou-se um dos principais destinos para os ecoturistas. Além de gerar empregos, melhorar a renda e proporcionar melhor qualidade de vida, o turismo de observação de aves é importante porque é o que causa menos impacto no ambiente. Para falar sobre o turismo de observação, conversamos com Antônio Silveira dos Santos, magistrado aposentado de São Paulo, atualmente advogado ambientalista e ainda birdwatcher e criador do programa ambiental: “A Última Arca de Noé” <www.aultimaarcadenoe.com>  e um dos grandes entusiastas brasileiros desta atividade.


Antônio Silveira – Entrevista


FMA – O senhor que foi magistrado e agora é advogado, por que tanto interesse pelas questões ambientais, sobretudo pela observação de aves?
Antônio Silveira – A minha ligação com o meio ambiente e meus estudos sobre animais, principalmente sobre as aves e minhas saídas para observá-las, vêm  há mais de 40 anos. Com a entrada em vigor da Constituição Federal de 1988, foi possível deixar transparecer isto oficialmente, pois a nossa Carta Magna determina que a preservação ambiental é uma obrigação de todos.
Assim, comecei a escrever artigos e fazer palestra como magistrado engajado neste tema. Aliás, a primeira palestra que fiz foi justamente para juizes e promotores públicos em 1995, às portas fechadas em uma universidade paulista.
Neste processo participativo criei o Programa Ambiental: a Última Arca de Noé. Um programa de educação ambiental que se realiza mediante palestras, publicações de artigos e criação de projetos.
O programa foi lançado em agosto de 1995, no anfiteatro de Zoologia da USP, em São Paulo, com uma palestra para a comunidade científica e ambientalista. Ao que se sabe foi o primeiro programa ambiental no Brasil. Nosso site  foi criado em 1999 e hoje tem mais de 3,3 milhões de visitas. Ele  tem servido de instrumento de estudo para muitas pessoas e é citado por cerca de 800 sites do mundo, conforme consta no setor Ecolinks. Além disso, por ele tenho divulgado o turismo de observação, que reputo talvez a mais importante tendência turística.


FMA – Como e quando se originou o turismo de observação?
Silveira – O turismo de observação é o segmento do ecoturismo, onde o turista vai para alguma área natural e passa a observar sua beleza, contemplando-a, ou especificamente algum ou alguns de seus elementos como as aves. Originou-se do chamado safári fotográfico, por volta dos anos sessenta. E é, ainda, muito comum, notadamente no continente africano onde a mastofauna permite melhores registros fotográficos.
Todavia um dos fatores principais que propicia o desenvolvimento do turismo de observação, sem sombra de dúvida é o aumento da conscientização ecológica com a conseqüente preservação de áreas naturais.
 Uma das suas formas que vem emergindo mais é a observação de aves (birdwatching ou birding) um meio muito interessante de lazer e entretenimento. Deve-se  registrar que esta atividade, em que pese já venha sendo praticada desde a década de 30 por ingleses e americanos, somente nos últimos 20 anos é que se tornou  uma forma turística organizada. 


FMA – Quanto à observação de aves, o que esta atividade representa para a preservação e para o incremento econômico?
Silveira – Esta última forma de turismo de observação representa um enorme potencial econômico, se considerarmos que os praticantes pertencem, na sua grande maioria, a países desenvolvidos. Logo, gente com poder aquisitivo para viagens internacionais. O turismo de observação tem muitas vantagens, dentre elas: é uma atividade que se bem planejada produz o mínimo impacto possível; tem caráter educativo; pode ser praticado por pessoas de qualquer idade; trás renda para regiões naturais que têm pouca possibilidade de desenvolver as atividades econômicas tradicionais; emprega a massa rural dando oportunidade de desenvolvimento pessoal, criando ainda novas atividades profissionais como biólogos especializados, guias especializados e colabora com os princípios do desenvolvimento sustentável preconizado pela Agenda 21 etc.


FMA – Quais os paises mais bem preparados para esse turismo?
Silveira – A observação de aves é muito desenvolvida nos EUA, Inglaterra, Alemanha, Espanha, Japão, Costa Rica, entre outros. Calcula-se que existam cerca de 80 milhões de “birdwatchers” pelo mundo. 


FMA – Em que pé está o Brasil no ranking do turismo de observação?
Silveira – No Brasil, a observação de aves já vem chamando a atenção de fazendeiros que querem mais uma alternativa de renda. Também de resorts, hotéis e pousadas, que estão começando a implementar esta prática, incorporando mais uma distração a seus hóspedes. Por ter a maior biodiversidade do mundo, e por ter ainda grandes áreas naturais relevantes e possuir cerca de 1700 espécies conhecidas, nosso país pode se tornar “a meca dos birdwatchers”.


FMA – Quais os estados e municípios brasileiros que melhor atendem as exigências técnicas para promoção do turismo de observação de aves?
Silveira – Acho que todos os estados brasileiros têm condições de implementar o turismo de observação de aves, pois em todos eles há áreas naturais e aves interessantes em termos de raridade e beleza.


FMA – Como uma pessoa pode ser tornar um experiente observador de aves? Existe curso para isso?
Silveira – Para ser um observador de aves primeiro é necessário gostar das aves. Ou pelo menos apreciá-las. Segundo, é preciso procurar algum grupo de observadores e se juntar a ele, onde poderá conviver com outros observadores e aprender a técnica de observação. Ou, então, comprar livros sobre aves, um binóculo e sair a campo procurando ver e identificar as aves. Poderá ainda consultar sites na web, como o nosso, que tem um setor especialmente dedicado a esta prática e às aves. Há também alguns cursos de observação de aves, mas ainda são raros.
Para ser um experiente observador de aves, o interessado deve estudar muito e fazer muitas saídas a campo. Só o tempo e a dedicação poderão torná-lo um experiente conhecedor das aves.