ONGs e a prestação de contas

9 de junho de 2005

O calcanhar-de-Aquiles do Terceiro Setor

A distribuição de lucros e os balanços revelam a boa ou má performance de uma empresa.  A falta de indicadores para uma prestação de contas mais eficaz têm impedido as organizações da sociedade civil de demonstrar os resultados concretos de suas ações e projetos.
 Não é a pior notícia do dia, mas hoje é seguro afirmar que poucas organizações do Terceiro Setor têm logrado produzir informações que permitem enxergar os resultados realmente concretizados por meio de seus programas e projetos. Saber dessa performance e a diferença que as ações do Terceiro Setor estão fazendo na realidade brasileira interessa – e muito – aos vários atores sociais.
Não por acaso, na última década, vem ganhando corpo e força, inclusive na mídia e entre formadores de opinião,  a perspectiva de que entidades da sociedade civil que têm acesso a fundos privados ou públicos precisam mostrar maior profissionalismo e responsabilidade na prestação de suas contas, pois os recursos que administram para viabilizar sua rotina de trabalho e projetos devem ter como única finalidade o interesse público e a concretização de resultados para o maior número possível de beneficiados.
Outro fato que tem se evidenciado entre financiadores e doadores de recursos públicos e privados voltados principalmente para projetos empreendidos por organizações do Terceiro Setor é que as tradicionais planilhas de entradas e saídas de dinheiro não mais satisfazem como meio de prestação de contas. O que esses financiadores e doadores querem, e necessitam saber com urgência, é se seus recursos, mesmo os rubricados como a fundo perdido, estão mesmo fazendo as mudanças necessárias nas comunidades beneficiadas, especialmente nos países emergentes.


Avaliação necessária
Vale lembrar que, numa empresa, a distribuição de lucros e os balanços anuais revelam a boa ou má performance do negócio. Nesse contexto, como aferir o bom ou mau desempenho de uma organização da sociedade civil? É preciso que todos os interessados comecem a discutir parâmetros para essa avaliação, realmente necessária. Parâmetros realmente capazes de mensurar, com transparência e o devido rigor, não só os impactos quantitativos, mas sobretudo os de ordem qualitativa das ações empreendidas pelas organizações do Terceiro Setor em áreas como educação, saúde, meio ambiente, cidadania, empreendedorismo social etc.
É preciso que se estimule nesse importante segmento a adoção de condutas capazes de ampliar a capacidade profissional de gestão institucional e de projetos, de forma a que as entidades mais exemplares ganhem visibilidade em razão da consistência de suas políticas e compromissos públicos, bem como pela forma com que otimizam toda ordem de recursos administrados e sua disposição em desenvolver novas habilidades para promover as transformações sociais em sintonia com os princípios do desenvolvimento sustentável e de equidade social até nas mais remotas regiões do país.
Uma avaliação de resultados concretizados pelo Terceiro Setor é, na atualidade, absolutamente necessária, pois torna tangível a contribuição de organizações da sociedade civil e de financiadores privados e públicos na construção de um mundo melhor para todos. Aqui, agora e no futuro.



(*) Simone Silva Jardim é jornalista e advogada. Há 15 anos é correspondente da Folha do Meio Ambiente, em São Paulo.  Tem criado e realizado diversos projetos de comunicação corporativa para empresas do setor socioambiental