Lista da fauna brasileira ameaçada de extinção
15 de julho de 2005Os biomas Mata Atlântica e Cerrado, em conjunto, respondem por mais de 78% da lista de espécies ameaçadas ou extintas
Fotos: Biodiversitas
Marília Marini, Márcio Martins e Luiz Cláudio Marigo
Angelo Machado é professor do departamento
de Zoologia do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, um dos fundadores da Biodiversitas e presidente da Conservação Internacional do Brasil. Pesquisador de reconhecimento internacional, destaca-se também como autor de 31 livros infantis.
Gláucia Drummond:
a lista vermelha é importante instrumento de política ambiental.
A Fundação Biodiversitas, em parceria com a Conservação Internacional do Brasil, lançou dia 16 de julho, o livro da Lista da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção. O lançamento da publicação aconteceu paralelamente à programação do XIX Congresso Anual da Society For Conservation Biology, em Brasília. Segundo a Coordenadora Geral da Biodiversitas, Gláucia Drummond, para classificar as espécies foram propostas categorias de ameaças baseadas em critérios adotados pela União Mundial para a Natureza (IUCN), referência mundial na elaboração das Red Lists.
Os critérios IUCN buscam evidências relacionadas ao tamanho, isolamento ou declínio populacional das espécies e extensão de suas áreas de distribuição. A partir desses dados, as espécies são agrupadas conforme as seguintes categorias: Extinta, Extinta na natureza, Criticamente em perigo, Em perigo, Vulnerável, Quase Ameaçadas e Deficientes em Dados.
Números por biomas
Segundo informações da Fundação Biodiversitas, para se ter uma idéia da atual situação da fauna brasileira, do total de 633 táxons (1) apontados na Lista, 624 estão classificados em uma destas três categorias de ameaça: Criticamente em Perigo, Em Perigo e Vulnerável. Os Vertebrados somam 67% do total de espécies indicadas sendo que, entre estes, estão cerca de 13% das espécies brasileiras de mamíferos.
Mata Atlântica – O bioma Mata Atlântica é o que apresenta maior número de espécies ameaçadas ou extintas, com 383 táxons;
Cerrado – Logo em seguida, vem o bioma Cerrado com 112 táxons;
Mar – Em terceiro lugar vem a área marinha com 92 táxons;
Campos do Sul – O bioma vem em quarto lugar com 60 táxons;
Amazônia – A região amazônica está em quinto lugar com 58 táxons;
Caatinga – O bioma Caatinga, com 43 táxons, está em sexto lugar;
Pantanal – Em sétimo lugar está o bioma Pantanal com 30 táxons.
Pelo estudo da Fundação Biodiversitas, os biomas Mata Atlântica e Cerrado, em conjunto, respondem por mais de 78% das espécies da lista de espécies ameaçadas ou extintas, ou seja, 495 táxons.
Listas Vermelhas
Para Gláucia Drummond, as Listas Vermelhas que indicam as espécies ameaçadas de extinção são importantes instrumentos de política ambiental. Esse trabalho possibilita o estabelecimento de programas prioritários para a proteção da biodiversidade. As informações contidas nestes documentos fornecem subsídios para a formulação de políticas de fiscalização, criação de unidades de conservação e definição sobre a aplicação de recursos técnicos, científicos, humanos e financeiros em estratégias de recuperação da fauna ameaçada. As listas também são um importante mecanismo de combate ao tráfico e ao comércio ilícitos das espécies.
GLOSSÁRIO
(1)TÁXON – São as unidades hierárquicas de classificação dos organismos, a saber: Reino, Filo (Divisão) Classe, Ordem, Família, Gênero e Espécie.
[plural: taxa]
ENTREVISTA – Cássio Soares Martins
Brasil tem mais de 633 espécies em extinção
Silvestre Gorgulho
Cássio Soares Martins sabe das coisas. Experiente e dedicado, Cássio tem atuado há mais de 10 anos na elaboração de metodologias de gerenciamento de informações sobre a biodiversidade brasileira. O foco principal de seu trabalho é a interação entre a comunidade científica e setores governamentais em projetos envolvendo espécies e áreas prioritárias para conservação da nossa biodiversidade. Engenheiro-agrônomo formado em Viçosa, Ms. Geografia pela UFMG, Cássio Martins é o gerente de Geoprocessamento de Dados da Biodiversitas e o coordenador do Centro de Dados para Conservação da Biodiversidade – CDCB.
Folha do Meio – Quando foram elaboradas as listas de espécies ameaçadas no Brasil?
Cássio – A primeira lista de espécies da fauna brasileira ameaçada de extinção foi elaborada em 1972 e contava com 86 espécies. Na revisão de 1989, a lista passou para 208 espécies e excluiu grupos importantes como os peixes, quirópteros e diversos grupos de invertebrados devido à insuficiência de informações sobre as espécies.
A lista atual, elaborada no final de 2002, após 13 anos, já conta com 633 espécies.
FMA – Que mudanças metodológicas foram estas utilizadas na elaboração da lista atual?
Cássio – A revisão da Lista Oficial da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção foi encomendada pelo Ibama à Biodiversitas. Hoje a Biodiversitas é considerada centro de referência no levantamento e aplicação do conhecimento científico no desenvolvimento de programas envolvendo a conservação da biodiversidade brasileira, como a elaboração de listas vermelhas. Vale salientar que o Centro de Dados para Conservação da Biodiversidade da Biodiversitas conta com mais de 200 pesquisadores, ligados a conceituadas instituições científicas de ensino e de pesquisa em todo o País e no exterior. E o CDCB da Biodiversitas reuniu informações de aproximadamente 1,2 mil espécies candidatas, durante 11 meses na formação de um minucioso banco de dados referente às espécies brasileiras ameaças de extinção.
Os pesquisadores tiveram a Internet como um agente facilitador dos trabalhos através de uma ampla consulta por meio de um banco de dados on-line, ou seja, atualizado em tempo real em qualquer lugar. Esta metodologia permitiu democratizar o acesso entre os pesquisadores na busca de um consenso sobre as espécies a comporem a nova lista, além de reunir um maior volume de informações com um baixo custo operacional.
FMA – Quais as maiores mudanças em relação à lista anterior?
Cássio – A nova lista foi elaborada segundo os critérios de avaliação adotados pela IUCN na avaliação das espécies a nível mundial. Com isso, o Brasil passa a ter uma avaliação por critérios padronizados, visando acompanhar as mudanças quanto à conservação das espécies a nível nacional e internacional.
Com relação à lista de 1989, saíram da lista espécies como a harpia [a maior ave de rapina brasileira], a surucucu-bico-de-jaca, o pirarucu e o jacaré-de-papo-amarelo (Caiman latirostris). Para algumas dessas espécies, o manejo tem sido maior importância na preservação dessas espécies. No entanto, para a maioria das espécies da lista, a perda de habitat tem tornado as populações vulneráveis e de forma irreversível.
FMA – Qual a importância da publicação da lista pela Biodiversitas?
Cássio – Na desta publicação da Biodiversitas, além da categorização das espécies ameaçadas de extinção, foram incluídas também a lista das espécies consideradas “quase ameaçadas” e a lista das espécies avaliadas como “deficiente em dados”. Todas estas listas são importantes, pois servirão para direcionar as pesquisas, uma vez que a inclusão de uma espécie na lista sugere que seu ecossistema está fragilizado, além de que muitas outras espécies estão desaparecendo antes mesmo de sabermos de sua existência.
FMA – Que tipo de resultados a publicação desta lista tem trazido para a conservação das espécies?
Cássio – As listas vermelhas são um mecanismo utilizado internacionalmente como mecanismo de conter o tráfego e o comércio ilegal de espécies. Permitem ainda a priorização de recursos e ações de proteção das espécies, além de alertar a sociedade e os governos sobre a necessidade de adoção de medidas efetivas para sua proteção. Neste sentido, após a elaboração da lista a Biodiversitas lançou o Programa Espécies Ameaçadas, subsidiado pelo Fundo de Parceria para Ecossistemas Críticos. O objetivo máximo é promover a proteção e o manejo das espécies da fauna e flora ameaçadas da Mata Atlântica do Brasil.
“A nova lista foi elaborada segundo os critérios da União Mundial para a Natureza. Assim, o Brasil passa a ter uma avaliação por critérios padronizados mundialmente, visando acompanhar as mudanças quanto à conservação das espécies a nível nacional e internacional”. Cássio Soares Martins, Coordenador do CDCB da Biodiversitas
Informações gerais e exemplos (Por grupos)
Aves – Total: 160
Algumas Aves brasileiras ameaçadas na categoria Criticamente em Perigo:
— Pato-mergulhão – Mergus octosetaceus (Vieillot, 1817) – BA, GO, MG, PR, RJ, SC, SP, TO
— Arara-azul-de-lear – Anodorhynchus leari Bonaparte, 1856 – BA
Ave brasileira Extinta:
— Arara-azul-pequena – Anodorhynchus glaucus (Vieillot, 1816) – MS, PR, RS, SC
Espécies de aves brasileiras Extintas na Natureza:
— Mutum-de-Alagoas – Mitu mitu (Linnaeus, 1766) – AL, PE
— Ararinha-azul – Cyanopsitta spixii (Wagler, 1832) – BA, MA, PE, PI, TO
Mamíferos – Total: 69
Alguns mamíferos brasileiros ameaçados na categoria Criticamente em Perigo:
— Muriqui – Brachyteles hypoxanthus (Kuhl, 1820) – BA, ES, MG
— Mico-leão-de-cara-preta – Leontopithecus caissara (Lorini & Persson, 1990)- PR, SP
— Baleia-azul – Balaenoptera musculus (Linnaeus, 1758) – PB, RJ, RS
— Peixe-boi-marinho – Trichechus manatus (Linnaeus, 1758) – AL, AP, CE, MA, PA, PB, PE, PI, RN
Peixes – Total: 159
Alguns peixes brasileiros ameaçados na categoria Criticamente em Perigo:
— Cação-bico-doce – Galeorhinus galeus (Linnaeus, 1758) – PR, RJ, RS, SC, SP
— Peixe-serra – Pristis perotteti (Müller & Henle, 1841) – AM, AP, MA, PA, RJ, SP
— Andirá, anjirá – Henochilus wheatlandii (Garman, 1890) – MG
— Cascudo laje – Delturus parahybae (Eigenmann & Eigenmann, 1889) – MG, RJ
Répteis – Total: 20
Alguns répteis brasileiros ameaçados na categoria Criticamente em Perigo:
— Lagartixa-da-areia – Liolaemus lutzae (Mertens, 1938) – RJ
— Jibóia-de-Cropan – Corallus cropanii (Hoge, 1953) – SP
— Jararaca-de-Alcatrazes – Bothrops alcatraz (Marques, Martins & Sazima, 2002) – SP
— Tartaruga-de-couro – Dermochelys coriacea (Linnaeus, 1766) – AL, BA, CE, ES, MA, PE, PR, RJ, RS, SC, SP
Anfíbios – Total: 16
Alguns anfíbios brasileiros ameaçados na categoria Criticamente em Perigo:
— Sapinho-narigudo-de-barriga-vermelha – Melanophryniscus macrogranulosus (Braun, 1973) – RS
— Perereca-de-folhagem-com-perna-reticulada – Phyllomedusa ayeaye (B. Lutz, 1966) – MG
— Perereca-verde – Hylomantis granulosa (Cruz, 1988) – PE
Anfíbio brasileiro Extinto:
— Perereca – Phrynomedusa fimbriata (Miranda-Ribeiro, 1923) – SP
Invertebrados terrestres – Total: 130
Alguns invertebrados terrestres classificados na categoria Criticamente em perigo:
— Aranha-chicote – Charinus troglobius (Baptista & Giupponi, 2003) – BA
— Abelha – Exomalopsis atlantica (Silveira, 1996) – SP
— Borboleta – Drephalys mourei (Mielke, 1968) – RJ, SC
— Borboleta- Nirodia belphegor (Westwood, 1851) – MG
— Mariposa – Dirphia monticola (Zerny, 1923) – RJ
— Libélula – Mecistogaster pronoti (Sjöstedt, 1918) – ES
Alguns invertebrados terrestres classificados na categoria Extinta:
— Formiga – Simopelta minima (Brandão, 1989) – BA
— Libélula – Acanthagrion taxaensis (Santos, 1965) – RJ
— Minhocuçu, Minhoca-gigante – Rhinodrilus fafner (Michaelsen, 1918) – MG
Invertebrados aquáticos – Total: 79
Alguns invertebrados aquáticos classificados na categoria Criticamente em perigo:
— Marisco-do-junco – Diplodon koseritzi (Clessin, 1888) – RS, Sub Bacia rio Jacuí e Bacia Atlântico Sul;
— Ouriço-do-mar-irregular – Cassidulus mitis (Krau, 1954) – RJ – Ambiente marinho.
Mais informações:
Fundação Biodiversitas – (31) 2129-1300
www. biodiversitas.org.br
[email protected]