Estação Antártica Comandante Ferraz

8 de agosto de 2005

15 anos de pesquisas no Pólo e consolida a presença do Brasil no Continente Branco

A Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF), foi construída pelo Brasil no verão de 1983/84. Erguida na Península Keller, ilha de Rei George, no Círculo Polar Antártico, Ferraz comemorou 15 anos de vida no dia seis de fevereiro. Ao ser construída durante a Operação Antártica II, a estação contava com apenas oito módulos (containers), que somavam 250 metros quadrados, o suficiente para abrigar doze pessoas. No decorrer das expedições antárticas, a estação foi sendo ampliada, até chegar aos atuais 1.500 metros quadrados de área construída e condições para alojar 40 pessoas.


Ferraz foi construída ao lado de uma antiga estação baleeira, transformada em centro de pesquisa na década de 40 e desmontada no verão 1995/96. Em conseqüência das cassadas, a praia ficou repleta de ossos de baleias. Em 1972, o oceanógrafo francês Jacques Cousteau conseguiu reunir vários ossos e remontou o esqueleto de uma baleia, que é uma vizinha cativa de Ferraz e atração turística na Península Keller.


Para construir a estação de pesquisa, o Brasil primeiramente teve de aderir ao Tratado Antártico, o que aconteceu em 1975. Junto com mais de 30 países, o Brasil faz parte do Comitê Consultivo do Tratado. O texto estabelece o interesse de toda a humanidade no continente, que só pode ser utilizado para fins pacíficos e não comerciais. O tratado é de 1957 e, ao longo dos anos, foi sendo aprimorado. Na última revisão do texto, nesta década, foi determinada a retirada da flora e da fauna exóticas da região. Ou seja: hortaliças plantadas em estufas e cães esquiadores não podem mais ser levados ao continente para que não comprometam as espécies nativas.


Na península, o Brasil tem desenvolvido pesquisas relacionadas a física e a química da atmosfera, astrofísica, ciências da vida e ciências da terra. Esses trabalhos permitem conhecer as proporções do buraco da camada de ozônio, a influência das ondas magnéticas nas transmissões –  inclusive na TV, o efeito estufa e um possível aproveitamento das proteínas da região na alimentação humana. Um dos trabalhos mais interessantes é coordenado pelo glaciólogo gaúcho Jefferson Cardia Simões, que há anos acampa na calota polar da ilha Rei George para estudar as modificações provocadas pelo degelo.


Também há vários estudos sobre a avi/fauna, bastante rica no continente antártico. Entre os animais, destaque para a foca de Weddell, o elefante-marinho – que pode chegar a seis metros e pesar quatro toneladas, o lobo marinho, o pingüim Adélia, a skua – uma espécie de gaivota de rapina – e o petrel, que tem uma envergadura de aproximadamente dois metros.


O continente antártico representa quase 10% da área do planeta (cerca de 14 milhões de quilômetros quadrados) e 95% dessa área estão cobertos de gelo durante todo o ano, com uma espessura que oscila de 200 metros a 4,8 quilômetros. Em mapas do ano de 1500, já existiam referências ao continente. Nos séculos 18 e 19, foram organizadas as primeiras grandes expedições à Antártica. Mas alcançar o pólo geográfico do continente seria o grande feito deste século.


A conquista
O norueguês Roald Amundsen, partindo da Baía das Baleias em nove de outubro de 1911, com 52 cães puxando quatro trenós, alcançou o Pólo Sul em 14 de dezembro de 1911- em sua homenagem uma das bases norte-americanas recebeu seu nome. Antes deste feito, Amundsen havia passado inverno de 1897/98 na Antártida, para onde viajou a bordo do navio Bélgica.
Ele morreu em 1928, com 56 anos, em acidente aéreo no Ártico. Logo após a conquista de Amundsen, o inglês Robert Falcon Scott, partindo da Ilha Ross em dois de novembro de 1911, atinge o Pólo junto com mais quatro companheiros no dia 17 de janeiro de 1912. Ele encontra o acampamento de Amundsen com a bandeira norueguesa e uma carta. No retorno, morrem dois de sua expedição.


Os demais estabelecem o último acampamento em 19 de março de 1912, onde morrem de frio e fome a apenas 18 quilômetros de um refúgio especialmente preparado para eles. Seus corpos foram encontrados oito meses depois, junto estava o diário de Scott, escrito até o último instante. Outro inglês, Ernest Henry Shackleton, chegou até 880 23′ S em nove de janeiro de 1909 e, para garantir a sobrevivência de sua equipe, regressou quando estava a 180 km do Pólo.


Entre outros aventureiros famosos, o navegador inglês Francis Drake, que deu seu nome a passagem- ou Mar de Drake, que separa a América do Sul da Antártica, em 1578. Ele chegou próximo ao continente, avistou icebergs e pilhou os índios da Patagônia.


O começo
Na Península Keller estão cerca de 50 estações de pesquisa. Geologicamente falando, a península é uma continuação direta da Cordilheira dos Andes. A maior parte das terras são depósitos vulcânicos da Era Mesozóica, do fim do Período Cretáceo e início do Período Jurássico, com um tempo decorrido de 180 milhões de anos.


A península e as ilhas na sua proximidade começaram a ser exploradas no início de 1820 pelo almirante russo Fabian Bellingshausen, pelo capitão britânico Edward Bransfield e pelo caçador de focas americano Nathaniel Palmer. Entre 1897 e 1898, Adrien de Gerlache e sua equipe, a bordo do Bélgica, foram os primeiros a estudar a Península Antártica.


Em 1946, após a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos realizaram sua primeira expedição de grande porte à Antártica, chamada Operação High Jump (Grande Salto), comandada pelo Almirante Byrd, com nove navios, um submarino e um navio quebra-gelo. Depois, entre 1950 e 1952, ocorreu a primeira expedição internacional com a participação da Inglaterra, Noruega e Suécia.


Maiores informações:
E-mail: [email protected]; Internet: http://www.antartica.com.br


Curiosidades do mundo antártico


A Antártica é mais fria do que o Ártico. No Pólo Sul foi registrada a mais baixa temperatura do planeta, 89,2 graus negativos no dia 21 de julho de 1983 na base russa Vostok, perto do Pólo de Inacessibilidade Relativa- o ponto mais distante do mar em todas as direções. Um clima semelhante ao de Marte, onde o ser humano não vira pedra porque não há umidade. Na Antártica, o clima é mais seco do que no deserto do Saara: chove menos no coração da Antártica do que no deserto africano.


Há cinco pólos na Antártica: o Pólo Magnético não é fixo e a cada ano se afasta mais, os outros são o Geográfico Sul, de Inacessibilidade Relativa, do Frio, Geomagnético Sul e Magnético Sul. Em 1899, próximo ao Pólo de Inacessibilidade, o norueguês Carsten Borchgrevink tornou-se o primeiro homem a invernar na Antártica. Desde 1841, o Pólo Magnético avança 9 km/h ao ano, no sentido noroeste. Ele já está a mais de dois km de distância do Pólo Geográfico.


O primeiro “antarticano” nasceu em 1978, na base argentina de Esperanza, dentro de um projeto de colonização já encerrado. O governo argentino reivindica direito de posse sobre parte do continente antártico, junto com mais seis países. Em 1903, a Argentina instalou a primeira base meteorológica do continente- uma casa de madeira construída por dois ingleses nas Ilhas Orcadas. O primeiro grande acidente ecológico do mundo aconteceu em 1989, quando o navio argentino Bahia Blanca derramou 170 mil toneladas de diesel na costa antártica.


Em 1830, o arqueológo americano James Eights descobriu nas Ilhas Shetland do Sul o primeiro fóssil antártico: um pedaço de árvore, confirmando a teoria de que, um dia, a Antártica já foi selva. Pelo estudo das rochas e fósseis animais e vegetais, há uma anologia entre a Antártica e outros continentes, especialmente África, Ásia (Índia) e América do Sul, aos quais esteve justaposta, formando o supercontinente do Gondwana, até o início do processo de movimentação das placas litosféricas, que levou à dispersão global dos vários continentes cerca de 150 a 180 milhõe de anos atrás. Processo que continua até hoje, de acordo com a teoria da deriva continental.


No final da década de 80, a base inglesa Halley foi a primeira a dar o alerta sobre o buraco na camada de ozônio. A Baía de Commonwealth é considerada o lugar onde mais venta no mundo; mesmo assim, há uma base australiana lá. Estimativas indicam que quatro mil turistas visitaram a Antártida em 1990.


Em relação as baleias, em 1930 havia 32 indústrias de beneficiamento de carne de baleia na Antártica. Uma única indústria capturou, em um único mês, 900 baleias-azuis. Quando adulta, a baleia pesa o equivalente a 25 elefantes. No próximo século, 10% do rebanho original de baleias estará recuperado com a proibição a sua pesca. Salvo novas descobertas, a Antártica possui 45 tipos de foca, 34 espécies de aves voadoras, 16 de pinguins (aves não voadoras) e uma infinidade de animais aquáticos, entre eles o krill e o ice-fish.