Efluentes oleosos

Pare: um litro de óleo é capaz de poluir um milhão de litros de água

8 de agosto de 2005

Oficinas mecânicas e lava-jatos ainda têm muito o que aprender contra a poluição

Poluição é uma palavra bem conhecida no mundo de hoje. Não é mais novidade para ninguém que as indústrias, os automóveis e o lixo são os piores agressores ao meio ambiente. No entanto, existem diversos outros problemas, ainda pouco discutidos, mas com os quais a humanidade deve se preocupar.
É o caso da poluição causada pelas oficinas mecânicas, aquele serviço essencial que despeja óleo, graxa e outras substâncias químicas no chão e no esgoto, espalhando sujeira nas áreas próximas ao estabelecimento. A atividade não só prejudica a vida dos rios e lagos, como dificulta os esforços em despoluí-los, já que as estações de tratamento trabalham com um processo biológico bastante sensível aos óleos.


A lavagem de veículos também resulta em uma liberação de produtos poluidores que chega através de canaletas aos coletores de esgoto, podendo causar a obstrução das redes e danos aos equipamentos e instalações das estações de tratamento. Os lava jatos são, portanto, uma outra fonte de preocupação das empresas que tratam o esgoto.


A coleta e o tratamento dos esgotos está intimamente relacionada a qualidade de vida. Infelizmente, apenas 0,6% da água no mundo é água doce disponível naturalmente. Embora seja considerada um recurso natural renovável, ainda assim é um recurso finito, pois 98% são água subterrânea e somente 1,25% se apresenta sob a forma de rios e lagos. O respeito e reconhecimento da água limpa é manifestação de cidadania.


Tratamento eficaz
Como os processos de lubrificação e manutenção dos equipamentos mecânicos costumam gerar efluentes oleosos, é preciso adotar uma medida simples, porém, totalmente eficaz. Três caixas são necessárias para reter o material prejudicial ao sistema de esgoto. A caixa de areia serve para reter o material mais pesado, que é conduzido pela água da lavagem de carros e das instalações. Ela deve ter dimensões que proporcionem velocidades baixas no fluxo, que produzam a deposição de areia e outras partículas no fundo da caixa. As partículas impregnadas de óleo que serão retiradas devem ser encaminhadas aos aterros sanitários.


O segundo passo é instalar a caixa separadora de óleo e graxas, que tendem a flutuar e podem ser retiradas do esgoto através de uma tubulação. Uma última caixa coleta todo o óleo. É um depósito que deve ser esvaziado periodicamente. O óleo deve, então ser acondicionado em recipiente próprio e encaminhado para a reciclagem por meio da venda a refinadores credenciados pelo Departamento Nacional de Combustíveis e devidamente licenciados pelo órgão ambiental competente.


O óleo mineral não é biodegradável. Por isso, o maior perigo aparece quando o destino de toda a sujeira causada pelas oficinas é lançado nas galerias de águas pluviais. Todas as Companhias Estaduais de Água e Esgoto têm um cuidado ainda maior com as chamadas ligações clandestinas, pois significa que toda a água é direcionada aos rios e lagos sem nenhum tratamento. Pode também ir parar na rua porque a tubulação de esgoto não agüenta a água da chuva. A regra que esclarece que o esgoto pluvial deve ser completamente independente da instalação do esgoto sanitário parece óbvia, mas nem sempre é seguida e respeitada pelos donos de oficina. As áreas destinadas à lavagem de veículos e serviços mecânicos não são cobertas, de modo a não permitir a entrada de água de chuvas nas caixas de areia e óleo.


Segundo o decreto do Governo do Distrito Federal nº 18969, de 26 de dezembro de 1997, o lançamento de óleos à rede pública sujeita o infrator a uma multa correspondente a 300 vezes o valor da conta mínima de água da categoria residencial. Já o lançamento de águas da chuva na rede pública pode custar sessenta vezes o valor da conta mensal. O usuário também pode sofrer corte no fornecimento de água, caso não tenha adequado suas instalações dentro do prazo fixado em notificação.


Tirando o sono
Mas, o que vem incomodando os moradores próximos às oficinas mecânicas são a poluição sonora e visual. Os trabalhos de lanternagem são realizados em local desapropriado, sem qualquer tratamento acústico. Em Brasília, o setor hospitalar, setor bancário, assim como o setor de diversões foram criados para facilitar a vida da população. O setor de oficinas tinha uma função ainda mais justa: afastar o barulho e a sujeira da residência das pessoas.


No entanto, muitos estabelecimentos estão em pleno funcionamento na W3 Sul e Norte e em algumas entrequadras. “Depois de trabalhar a semana inteira, a gente não tem direito a dormir até um pouco mais tarde nos finais de semana. Os motores começam a roncar logo cedo”, reclama Maria do Socorro, moradora da 703 norte. “Meu filho tem até vergonha de trazer os amigos aqui em casa porque a entrada do prédio fica bem ao lado das oficinas”, ressalta Marcos Pinheiro.


A questão dos ruídos causados pelas oficinas mecânicas em Brasília tem solução: o setor de oficinas. Mas, as outras cidades brasileiras não têm a mesma sorte. Apartamentos, casas, lojas convivem lado a lado com a barulheira, sem saber como se livrar desse incômodo. Não há respeito nem sequer pelos ambientes onde deve prevalecer o silêncio, como escolas, hospitais e templos religiosos.


No Rio de Janeiro, a poluição sonora é líder em números de processos abertos na Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Alguns estabelecimentos só resolvem os problemas quando são intimados ou levam multas, como aconteceu com a Auto Peças e Mecânica JJ Ltda., no bairro Taquara, no Rio de Janeiro. A Secretaria intimou a oficina e deu um prazo de três meses para que as obras fossem realizadas. O revestimento acústico do local é uma das soluções que as oficinas que se encontram ao lado de residências podem utilizar.


E se o problema já e grave quando os mecânicos trocam peças e regulam o motor dos carros, piora na 405 Sul, em Brasília, onde há uma loja de instalação de alarmes e som. “Parece que eles ficam brincando com a nossa cara. Outro dia, testaram tanto um alarme que eu achei que fosse estragar antes do motorista chegar para buscar o carro”, relata o morador da 405 Sul.


A indignação maior dos vizinhos das oficinas existe porque todos sabem que uma área já foi reservada para este tipo de construção bem longe dos apartamentos residenciais. Vários abaixo-assinados já foram encaminhados à Administração de Brasília, mas nenhuma providência foi tomada. Orlando Moraes, fiscal de áreas públicas, diz que algumas oficinas já foram transferidas e que a meta é não deixar nenhuma delas funcionando no Plano Piloto. Mas, é preciso esperar que o governo tome as decisões.


Poluição atmosférica
A saúde da população também é atingida pelas irregularidades das oficinas. Muitas não têm cabines adequadas para os serviços de lanternagem e pintura e acabam realizando o trabalho ao ar livre. A revendedora Mazda, no Rio de Janeiro, foi multada duas vezes por causa do cheiro ocasionado pela pintura dos carros. Só depois, a construção de cabines pôs fim ao problema.


O poder da Secretaria de Meio Ambiente de interditar oficinas pressiona e consegue resolver algumas situações. Às vezes, o local adequado para se trabalhar com a tinta, altamente tóxica, existe. Mas quando o movimento aumenta, a pintura é feita fora da cabine.


Na Zona Norte, subúrbio do Rio de Janeiro, se concentra o maior número de processos em que as oficinas aparecem citadas como poluidoras. Por isso, o Escritório Técnico Regional 2, que cuida desta área, está desenvolvendo, em parceria com a Fundação Bio-Rio, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, um manual orientador. O documento pretende verificar quais são os controles necessários para minimizar os impactos da emissão de gases solventes.


Um dos caminhos indicados seria o da substituição do sistema de cortina d’água pelo de carvão ativado, eliminando em boa parte o odor oriundo da repintagem dos veículos. Este manual servirá mais tarde como um meio para que a população, as oficinas, as indústrias e outras atividades comerciais possam se basear a fim de se evitar danos graves causados pela liberação de vapores orgânicos na atmosfera.


Entretanto, não é apenas nos bairros de periferia que a poluição paira no ar. Numa das áreas que mais crescem no Rio de Janeiro, a Barra da Tijuca, as oficinas também dão dor de cabeça. São 24 que já tem processo aberto na Secretaria. As mais problemáticas não têm cabine para pintura e sistema separador de óleo, mas ainda estão sob fiscalização.


Pequenas mudanças e simples cuidados, podem manter a rede de esgoto desobstruída.  O reconhecimento de todos esse agentes poluidores e da importância do silêncio, da água e do ar puro é manifestação de cidadania. A sujeira e o barulho podem e devem estar afastados da casa e do trabalho de todos para que a vida seja mais saudável e tranqüila.


Maiores informações:
www.caesb.gov.br
www.cetesb.gov.br