Nascentes e fozes
19 de agosto de 2005Dos píncaros andinos à Amazônia em chamas
A lente e a veia jornalística do casal resgatam paraísos do imenso país tropical, escuro, escondido, que de tão grande parece terra de ninguém e por isto mesmo sem valor. Haja visto a volúpia dos madeireiros, piromaníacos, pecuaristas, sojeiros e reis, isto mesmo, reis amazônicos (e coniventes oficiais) em se apossar e colocá-lo abaixo, devorando suas imensas florestas e cerrados como se patriotismo e soberania isso fossem.
Essa famigerada agropecuária de fronteira é coisa do pau-brasil, uma cultura atávica quinhentista e medieval. Produção e produtividade sustentáveis se obtém onde já existem infraestrutura de transporte, energia elétrica e escolas. Isto é, onde existe planejamento. Não pelo avanço do fogo, dos buldozzers, da moto-serra, às custas da delgada terra preta, da floresta tombada.
É inconcebível, é criminoso, destruir tanta biodiversidade, tantos ecossistemas e habitats a troco de grãos e bois. Pior: territórios imensos e já desmatados vão ficando para trás, improdutivos. Isto sem falar do desarranjo climático mundial.
O custo-Brasil da destruição (o último monitoramento divulgado referente a 2003/4 é de uma Alagoas ou 28 mil km²) será pago pelas gerações futuras. E pela atual que a tudo acompanha “como bois olhando para o palácio”. A pergunta é: algum economista já calculou e comparou o custo-benefício da riqueza da biodiversidade amazônica, do turismo sustentado, frente a suposta riqueza dos bois e grãos aí produzidos? Isto compensa? Coisa para um prêmio Nobel, mas urgente, senão a tese será sobre o deserto amazônico…
Voltemos às belezas do rio e da mata. Lendo e relendo a bela reportagem “Pororoca de Expedições” e a entrevista de Paula e Roberto, percebi que a latitude da nascente é de 15° 30′ 49″ S, praticamente o mesmo paralelo que corta Brasília, 15° 33′ 30″ S. Coisas da geografia, essa ciência que parece estática mas é tão dinâmica quanto os rios e os sonhos. Nossos e de D. Bosco…
Outro aspecto interessante é o rio Amazonas desembocar na forma de delta, e não em estuário. Parece que a coisa é mesmo obscura. A dúvida está até mesmo na pesquisa do google.com, feita pela reportagem. Mas na minha opinião, creio que a foz (ou as fozes) sejam mesmo na forma de estuário, uma vez que um delta tem, antes de tudo, a forma desta letra grega, tão bem caracterizado nos deltas do Nilo, que conheço (tão bem descrito pelos geógrafos Diodoro e Estrabão em cerca de 50 a. C.), do Danúbio, do Mississipi, do Mecong e do nosso Parnaíba que também conheço.
Há que se considerar, ainda, que o estuário amazônico tem dois braços, o “braço norte” e o “braço de Breves” marajoara. Então, basta medir os comprimentos de cada um obtendo-se as dimensões do rio por ambos os canais.
Assim como o rio São Francisco tem duas nascentes, a histórica da Serra da Canastra e a geográfica do rio Samburá, e o Nilo tem várias, quem sabe o rio Amazonas não tem duas fozes…
Se a nascente do rio Amazonas é um mito, sua foz é uma lenda
O custo-Brasil da destruição – o último monitoramento divulgado referente a 2003/4 é de uma Alagoas [28 mil km²] – será pago pelas gerações futuras e pela atual, que a tudo acompanha “como bois olhando para o palácio”.
O estuário amazônico tem dois braços, o “braço norte” e o “braço de Breves” marajoara. Então, basta medir os comprimentos de cada um, obtendo-se as dimensões do rio por ambos os canais. Assim como o rio São Francisco tem duas nascentes e o Nilo tem várias, quem sabe o Amazonas não tem duas fozes…
A pergunta é: algum economista já calculou e comparou o custo-benefício da riqueza da biodiversidade amazônica,
do turismo sustentado, frente a suposta riqueza dos
bois e grãos ali produzidos?