Reciclagem Solidária
19 de agosto de 2005CNBB investe no cooperativismo do lixo para reduzir a poluição ea exclusão social no entorno da Baía de Guanabara
Professor Elmo da Silva Amador: “É muito gratificante dar aulas sobre meio ambiente, história e economia no projeto Reciclagem Solidária. Os jovens estão ávidos por conhecimento e precisam se transformar em agentes multiplicadores dos conceitos da cidadania”.
Coordenado pelo consultor de projetos Amaury Queiroz e pelo ambientalista Sérgio Ricardo, o Reciclagem Solidária visa resgatar indivíduos da exclusão social além de reduzir a poluição do ecossistema mais degradado e assoreado da cidade. “Queremos eliminar os intermediários do cotidiano desses catadores e fortalecer a idéia do cooperativismo entre eles”, explica Amaury Queiroz.
O coordenador, inicialmente, orienta os núcleos das favelas de Nova Hollanda, Marcílio Dias, da Vila do Pinheiro e da Baixa do Sapateiro cuja meta inicial é que cada comunidade processe cerca de duas mil toneladas de resíduos ao mês. Se espera que até o final do ano 100 mil T. tenham sido retiradas do meio ambiente. Para Sérgio Ricardo, a iniciativa da Cáritas é um contraponto à política da principal companhia de limpeza urbana da cidade. “Temos de acabar com a prática de se enterrar lixo como fazemos em Jardim Gramacho, em Duque de Caxias, e a Comlurb ainda quer fazer no aterro sanitário de Paciência.
O lixo é um gerador de transformação econômica”, defende. Ex-porteiro de edifícios da zona sul carioca, o catador Luiz Carlos Santiago, 50 anos, hoje preside a Cooperativa dos Trabalhadores do Bonsucesso – Cootrabom e lidera os núcleos de Bento Ribeiro e Vila do Pinheiro com a reciclagem. “Aprendi a agregar valor à embalagem PET e a sociedade não nos vê mais como mendigos”, disse.
Para o geógrafo Elmo da Silva Amador, tem sido muito gratificante dar aulas sobre meio ambiente, história e economia no projeto Reciclagem Solidária. Entretanto, Elmo acredita que o projeto deverá dar mais ênfase aos núcleos voltados aos jovens entre 15 a 20 anos. “É no Complexo da Maré onde narcotráfico adentra a Baía de Guanabara. Os jovens estão ávidos por conhecimento e precisam se transformar em agentes multiplicadores dos conceitos da cidadania e agregar à atividade da coleta seletiva, estes valores”, garantiu Elmo Amador.
Principal porta de entrada da cidade desde o período colonial brasileiro, a Baía de Guanabara atualmente é um convite ao exercício da imaginação humana. Ao longo do século XX, se transformou no símbolo da destruição imposta pelo homem em nome de um velho conceito de modernidade. Nela, quinze mil litros de esgotos são despejados por segundo e três toneladas de óleo são jogados por dia. Isso sem contar com o mar de rejeitos industriais.
A expectativa da Cáritas é que cerca de 60 núcleos habitacionais do entorno da Baía de Guanabara possam participar do Reciclagem Solidária.