É Primavera...

As flores da mata

28 de setembro de 2005

As florestas podem ser escuras, de bruxas e monstros. Ou coloridas, de fadas e princesas

Fotos: Vitor Vinícius 


Bromélias e Orquídeas
São as bromélias e as orquídeas as espécies mais famosas dessa mata. São “plantas hospedeiras” que nascem, geralmente, nos galhos das árvores, sobrevivem em ambientes com pouca luz e florescem uma vez por ano. Já foram mais raras e caras.
Nos municípios do interior elas ainda fazem a festa de muitos “mateiros”, que vivem de explorar as matas atrás de ervas, animais, mel e flores para vender nos centros urbanos. Além de serem valorizadas como presente e ornamento, essas flores atraem grande número de admiradores em encontros e exposições.
Maria-sem-vergonha
Mas ao contrário dessas espécies nobres que crescem discretas, sem alardear sua beleza, muitas outras se esparramam e se exibem no solo fértil da Mata Atlântica. Difícil não ver às margens das estradas que cortam as muitas serras dessa mata a singela maria sem vergonha, cientificamente chamada de impatiens walleriana.
Originária da África é considerada uma espécie exótica invasora, ou seja, uma planta que ameaça outras típicas do ecossistema. Segundo pesquisa do Instituto Hórus de Desenvolvimento e Conservação Ambiental, as marias-sem-vergonha dominam “completamente áreas sombreadas, em especial ambientes úmidos, deslocando plantas nativas de sub-bosque”.
Embora uma lenda conte que foi a flor escolhida por D. Pedro I para enfeitar o caminho que ele percorria até a casa da marquesa de Santos, a maria-sem-vergonha ainda é considerada uma praga em muitos jardins. No entanto, ela já ganhou espaço em arranjos nas floriculturas, onde um pequeno vaso com uns poucos galhos da flor sem-vergonha custa, em média, R$ 8. Caro demais para uma praga que pega de galho mesmo quando está apenas jogado sobre a terra.
Inegável é, que a pequena flor de quatro pétalas nas variações, vermelha, rosa, laranja e branca enfeitaram não só o caminho do imperador como enfeitam as muitas estradas que cortam o bioma.
As marias-sem-vergonha adornam, por exemplo, as pistas que cruzam a Floresta da Tijuca e chegam ao Corcovado, no Rio de Janeiro.
Copo de leite
Outra que cresce sem pudor em qualquer terra úmida e sombreada é o copo de leite (zanfedeschia aethiopica). Um clássico para decorações variadas, de enterros a casamentos, são valorizadíssimos.
Um arranjo com 10 flores, numa floricultura de Brasília custa R$ 40. No entanto, é só percorrer os caminhos da serra da Mantiqueira, entre os estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, para vê-los crescendo no quintal de qualquer chácara. Em alguns trechos, onde o turista é passageiro, os moradores já colocam a flor à venda.
Os copos de leite, apresentados em latas com água, são oferecidos ao lado de outros produtos como o mel silvestre, o pinhão, a fruta que dá no quintal do vendedor. O preço varia de acordo com a capacidade de pechinchar do comprador, mas a dúzia pode custar R$ 10.


Lírios d?água
Também brancos e muito perfumados são os lírios d?água que crescem nos brejos e às margens dos córregos. Na serra da Mantiqueira eles praticamente mostram o caminho por onde os córregos passam.
No Parque Nacional de Itatiaia, em Itamonte (MG), a abundância das flores entre as pedras deu nome ao vale (Vale dos Lírios) que cruza o caminho da subida para o pico das Agulhas Negras.


Hortências
Apenas as regiões altas e frias do Sudeste são coloridas, no outono, pelo azul e o rosa arroxeado das hortênsias (Hydrangea macrophylla) que crescem em pequenos arbustos.
 Original da China e do Japão, a hortênsia chegou ao Brasil com a família Real que usou a flor na decoração dos jardins de Petrópolis e Teresópolis. Nas mãos de imigrantes italianos e alemães foram para o Sul. Cultivadas para ornamentar parques e praças nessas regiões, elas começam a se espalhar espontaneamente pelas margens de trilhas e rodovias. Embora exóticas, essas flores compõem os cartões postais de Gramado (RS), Campos do Jordão (SP), Petrópolis e Teresópolis (RJ), São Lourenço e Caxambu (MG), entre outras cidades montanhosas e frias.


Ipês e quaresmeiras
Também colorem a Mata Atlântica de roxo e amarelo, as flores que brotam nos ipês, nas quaresmeiras, nas acáceas.
De outubro a janeiro as embauvas florescem e pintam o verde de prata. A Cecropia hololeuca, também chamada de embaúba, imbaúba e umbaúba é conhecida ainda como a árvore da preguiça, animal que se alimenta de suas folhas.
Essa mistura de cores e formas começa a explodir a partir de setembro nas florestas que cobrem principalmente as regiões de montanhas do Sul e Sudeste do País, ligando o mar ao interior.
Somando isso aos rios e cachoeiras o que se vê é uma paisagem de quadro, de foto, de sonho.