Temporada de queimadas

Florestas ardem em chamas

29 de setembro de 2005

A flora e a fauna do Centro-Oeste e da Amazônia sofrem com as queimadas e até vôos são cancelados por causa da fumaça. Jardim Botânico de Brasília teve perda de 80%.

Fotos: Kleber Lima/CB, Rui Faquini


 Ao Lado, o Jardim Botânico de
Brasília sendo terrivelmente devastado
pelo fogo.



Ao lado, o triste cenário de um incêndio florestal


Segundo a Federação de Camponeses de Riberalta (FCR), o incêndio alcança a crucial região serrana de Alto Ivón, onde ficam os mananciais mais importantes. Até o momento, 17 comunidades indígenas foram evacuadas, enquanto uma intensa fumaça cobre uma extensa zona do norte, nordeste e leste do país.


Vergonha Nacional
A maior crítica vem de Evaristo De Luca,  professor de sociologia da Universidade Federal do Acre e ex-secretário do governador Jorge Viana: “Para nós é uma vergonha o que está acontecendo no Acre. Nós que tanto lutamos por ar puro! Isso é uma vergonha nacional. Deixamos pegar fogo na Reserva Extrativista Chico Mendes! Ela era o símbolo da nossa resistência. Nós precisamos de uma moratória de cinco anos, proibindo derrubadas e queimadas de florestas na Amazônia. Cinco anos ainda é pouco para gente avaliar e tentar recuperar os estragos que estão sendo causados durante essa estiagem na região.”


Amazonas
No Estado do Amazonas, em um mês houve um aumento de 400% nos focos de queimadas. De 9 de agosto a 9 de setembro de 2005, o Sipam registrou 1.976 incêndios. O aumento em relação ao ano passado foi muito grande, pois no mesmo período, o satélite havia registrado apenas 407 áreas com fogo. Isso tem provocado o isolamento por via aérea de vários municípios da região Sul, bem como em Cruzeiro do Sul, no Acre. Lábrea, Apuí, Boca do Acre, Manicoré, Novo Aripuanã, Canutama, Guajará, Envira, Humaitá e Tabatinga.


Cerrado
Na área do Cerrado, especialmente no Centro-Oeste, os focos de incêndio também são muitos. E, pelo tempo muito seco, segundo as corporações de Corpo de Bombeiro, a tendência é aumentar até o início do período de chuvas.
No Distrito Federal aconteceu um desastre ambiental: o Jardim Botânico teve sua riqueza natural devastada.  Um dos maiores patrimônios naturais do Cerrado, o Jardim Botânico de Brasília sofreu com um incêndio de grandes proporções que atingiu também a reserva florestal do IBGE e parte da Fazenda Água Limpa. Até a área de visitação pública, recentemente revitalizada, correu risco grave e foi um dos maiores momentos de tensão por parte dos bombeiros e técnicos do JBB.
A diretora do JBB Anajulia Heringer Salles lamentou a dimensão do maior incêndio registrado na cidade este ano. “É possível que a perda represente 80% da área total do Jardim Botânico”.
O parque não registrava um incêndio de grande porte há pelo menos sete anos, segundo informações de Anajulia. Na região das veredas do parque era possível avistar chamas de pelo menos três metros de altura, justamente onde animais como o lobo-guará e o tamanduá-bandeira buscavam refúgio. No mesmo local estão três captadores de água para abastecimento de Brasília e na opinião dos funcionários do Jardim Botânico, na primeira chuva as cinzas irão para dentro dos reservatórios. Isso pode prejudicar o abastecimento de águas dos moradores dos condomínios localizados em volta do parque.


Fogo contra fogo
O Corpo de Bombeiros chegou a mobilizar um efetivo de 300 homens e 14 veículos para controlar o fogo. A situação era tão crítica que até a estratégia do fogo-contra-fogo foi utilizada. Normalmente ela é usada em último caso, quando é necessário provocar fogo em um determinado local para conter o avanço do incêndio.
Além da vegetação alta, o clima seco, a umidade de apens 22% e o forte vento foram os principais vilões.