Césio de Goiánia

Uma tragédia sem fim

21 de outubro de 2005

O fantasma da morte e das lesões deformantes ronda a vida de centenas de pessoas

Até o soldado da PM de Goiás, Marques de Souza, que montou guarda na Rua 57,
 foi terrivelmente afetado pela radicação do césio 137

 

Muitas vítimas do césio apresentam, além do câncer, hipertensão arterial, perda de massa óssea, da dentição, da memória, cegueira, hérnia de disco, cansaço, depressão, disfunções das glândulas tireóides, anomalias cardiovasculares e renais, além de outras.
Em março deste ano morreu mais uma vítima. Trata-se de Nilson Terenso de Santana, que em 1998, onze anos após a tragédia, teve de amputar as duas pernas. Na época do acidente ele trabalhava no consórcio rodoviário que ajudou a remover os rejeitos radioativos. Nilson contraiu várias doenças ao longo do tempo, tais como pressão alta, diabetes, perda da visão, osteoporose e trombose. Morreu no Hospital de Urgências de Goiânia, vítima de edema agudo do pulmão, insuficiência renal crônica e diabetes. Aposentado por invalidez pelo INSS com uma aposentadoria de R$ 740,00, jamais foi reconhecido pelo governo de Goiás como uma vítima do césio, para fins de receber assistência.

Outras Vítimas
Lembrou Odesson que as vítimas da radiação não foram apenas as pessoas que entraram em contato direto com o césio encontrado no interior do equipamento odontológico descoberto no ferro velho de Goiânia. As outras vítimas – disse – são pessoas que na época serviram na Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, Secretaria de Saúde,  Vigilância Sanitária, além do Consórcio Rodoviário Intermunicipal S/A, – CRISA – empresa que cedeu seus servidores e equipamentos como tratores, patrols, pás-carregadoras, guinchos, empilhadeiras, guindastes, caminhões e veículos de transporte de pessoas.
Toda essa estrutura, que acabou também contaminada, foi posta à disposição da Comissão Nacional de Energia Nuclear – CNEN – para localizar, isolar, fazer as caixas coletoras e armazená-las, transportar os rejeitos radioativos do Césio-137, além de construir os depósitos provisório e definitivo no município de Abadia de Goiás. Posteriormente, o consórcio foi extinto.

Reivindicações
Os antigos operários do CRISA  se articularam no Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção de Estradas e Pavimentação do Estado de Goiás – STICEP – e, em conjunto com a Associação das Vítimas do Césio, passaram a lutar mais ativamente por mais assistência do poder público, tanto federal como estadual.
Na audiência na Câmara dos Deputados, eles reivindicaram um fim às divisões das vítimas nos grupos um, dois e três, para fins de acesso aos hospitais, alegando que todos sentiram os efeitos da radiação e, portanto, têm direito à assistência médica. As vítimas foram classificadas em três grupos, em função do nível de radiação a que foram submetidas.
Além da autonomia e do fortalecimento da Funleide, a fundação criada pelo governo de Goiás para atender às vítimas, da criação de gabinetes odontológicos e do atendimento social e psicológico, eles solicitaram aos deputados que defendam uma ação assistencial mais eficaz do governo federal, por ser a União responsável pela política nuclear.
Eles querem também que o direito à pensão seja extensivo a todas as vítimas do césio e não apenas aos classificados nos grupos um e dois.