Editorial

Caro Leitor

21 de outubro de 2005

O mundo mudou. E é duro constatar: mudou para pior. Se a raça humana teve ganhos fantásticos de qualidade de vida às custas do comprometimento dos recursos naturais do planeta, com a Terra não foi bem assim. Ela dá sinais de esgotamento e de mudanças climáticas profundas. Nos países ricos, a produção de automóveis ultrapassou… Ver artigo

O mundo mudou. E é duro constatar: mudou para pior. Se a raça humana teve ganhos fantásticos de qualidade de vida às custas do comprometimento dos recursos naturais do planeta, com a Terra não foi bem assim. Ela dá sinais de esgotamento e de mudanças climáticas profundas. Nos países ricos, a produção de automóveis ultrapassou a taxa de natalidade das crianças. Novas tecnologias vão despejando, rapidamente, nas lixeiras computadores, celulares, baterias, materiais tóxicos, tevês, eletrodomésticos e brinquedos. Tudo porque a compulsão consumista aumentou muito pela comodidade dos descartáveis. E o que dizer da violência dos furacões e até da seca onde nunca teve seca, como a Amazônia Ocidental? Alguma coisa está errada.


Estudos do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia sugerem que a seca que assola os rios dos estados do Amazonas, Acre e Rondônia têm conseqüências locais e globais. Locais, pelos desmatamentos e queimadas. Globais, pelo efeito estufa e pelo aquecimento das águas do Atlântico. Este mesmo aquecimento pode ter alterado o padrão de circulação das correntes de ar resultando no deslocamento de massas de ar seco para a Amazônia. O resultado é óbvio: seca em regiões cobertas por florestas e a terrível temporada de furacões, como o que arrasou Nova Orleans.


A gestão ambiental não é obra apenas de um governo, de uma nação e nem de um continente. As chuvas ácidas, o El Niño, os furacões, o clima, as pragas e a camada de ozônio não obedecem fronteiras. A Terra tem mais de seis bilhões de habitantes. Uma formidável concentração de pessoas que exploram os recursos naturais ao extremo. Por ganância ou por necessidade.


Voltemos ao caso do lixo. Os descartáveis da era do plástico e metais pesados facilitam o dia-a-dia, mas comprometem a vida. Onde colocar tantas fraldas, toalhas, guardanapos, luvas e embalagens de todos os tipos sem uma política eficiente de coleta seletiva, de reciclagem e de re-úso? O lixo vai entrando na vida dos homens, mas encontram dificuldades em sair da vida das cidades.
Tal qual o lixo, também o problema da poluição dos rios e a falta de saneamento é grave. E para os dois assuntos, projetos de lei se acumulam no Congresso Nacional há anos em busca de uma definição política.
A verdade é que os governos encontram muito mais facilidade e apelo eleitoral para fazer obras do que para consertar erros.  Vamos ao exemplo mais clássico e recente: a transposição do rio São Francisco.
A transposição virou um impasse porque o governo quis fazer uma obra no valor de R$ 4,5 bilhões a toque de caixa, enquanto finge investir num programa de revitalização do rio. Se para a transposição tem muitos recursos e agressivo apoio federal, para a revitalização tem apenas promessas. Precisou aparecer um novo profeta, dom Luiz Cappio, para recolocar as coisas no seu devido lugar. O grito do Bispo de Barra devolveu o tema à mídia e à re-discussão governamental.


Ao amigo leitor, gostaria de lembrar nossa edição de setembro, quando falamos do deserto vermelho de Gilbués. Lá o homem se enriqueceu e se enfeitou com a mineração de diamantes e com o que veio no seu rastro. Mas, paga, hoje, o preço da desertificação que tomou conta da região piauiense. É por ações como esta que o mundo está mudando. E é duro constatar que o homem, hoje mais rico e mais enfeitado, é antecedido por belas florestas e sempre sucedido por tristes desertos e terríveis secas e furacões.


SUMMARY


                    Dear reader
AThe world has changed and the hard reality is that it has not changed for the better.  If the human race has had fabulous gains in the quality of life at the price of compromising the planet’s natural resources, Earth has not fared so well.  It is showing signs of wear and tear and profound climatic changes.  In rich countries automobile production surpasses the birthrate of children.  New technologies are quickly piling up computers, cellular phones, batteries, toxic materials, televisions, electrical appliances and toys in the garbage dumps.  All of this is owed to the fact that the compulsion to consume has grown tremendously toward the convenience of disposable goods.  What can be said of the violence of hurricanes and even drought where there has never been drought, such as in the Eastern part of the Amazon? Something is wrong.  
Studies conducted by the Amazon Environmental Research Institute suggest that the drought afflicting the rivers in the states of Amazonas and Acre have had local and global consequences.  Local consequences result from deforestation and slash and burn techniques and global consequence result in the warming of the waters of the Atlantic Ocean.  This same warming may have changed the circulation of air currents resulting in the displacement of dry air masses to the Amazon.  The result is obvious – the drought in forest covered regions and the horrifying hurricane season that has devastated New Orleans.
Environmental management is not just the duty of one government, one nation or even one continent.  Acid rain, El Niño, hurricanes, the climate, pests and the ozone layer do not obey any boundaries.  Earth has over six billion inhabitants.  There is a formidable concentration of people who exploit the natural resources to the extreme out of greed or need.
Back to the question of waste – disposable items from the era of plastic and heavy metals have simplified day-to-day life, but have jeopardized our very existence.  Where are we supposed to put so many diapers, paper towels and napkins, gloves and packaging of all types without an efficient policy of selective trash collection, recycling and reuse? Garbage has entered our lives but does not easily leave life in the cities. 
Just as bad as the waste dilemma are the serious issues concerning pollution of our rivers and poor sanitation.  Bills of law concerning these two problems have piled up in National Congress for years in search for political definition.  Truth be told, governments find it much easier and gain greater electoral appeal by engaging in public works rather than fixing errors.  Let’s take the recent classic example of moving the São Francisco River.  
This proposed move has reached an impasse because the government wanted to implement public works in the amount of R$ 4.5 billion quickly, on the pretext of investing in a program to revitalize the river.  If there is an abundance of funds and a tremendous amount of federal support for the move, there are only promises for the revitalization plan.  Only with the appearance of a new prophet, father Luiz Cappio, were things put into their proper perspective.  The cry of the Bishop de Barra drew the attention of the media and reopened discussions on a government level.
I would like to remind our readers that which we discussed in our September issue concerning the red desert of Gilbués. This is where man drew wealth and adornment from diamond mining and that which came in its wake.  However, today, we are paying the price for turning the land into the desert, which has spread throughout the region of the state of Piauí.  It is actions such as this that have caused the world to change and it is hard to acknowledge the fact that today’s richer and better adorned man was preceded by lush forests but always followed by sad barren lands and terrible droughts and hurricanes.
SG