Falando muito sério…
21 de outubro de 2005Água benta“Toda água é benta. Toda água é santa. Toda água é cura. Toda água que não é negada é dádiva. A água que mantém o fio de vida do bispo da diocese de Barra (BA), Dom Luiz Cappio, talvez seja mais benta. Mais santa, mais dádiva, mais cura. Esta água do rio São Francisco… Ver artigo
Água benta
“Toda água é benta. Toda água é santa. Toda água é cura. Toda água que não é negada é dádiva. A água que mantém o fio de vida do bispo da diocese de Barra (BA), Dom Luiz Cappio, talvez seja mais benta. Mais santa, mais dádiva, mais cura. Esta água do rio São Francisco tem seu curso marcado pela tragédia da morte. É cura se as autoridades que permitem a transposição (antes de revitalizar o rio) recuarem e aceitarem o suave orvalho do perdão em suas frontes tecnocratas.
É loucura se continuarmos a tratar nossos bens naturais como infinitos. Fazer do rio um produto ofende o princípio da vida. (…) Frei Luiz demonstra que toda água é benta. Não só a que cai do céu, ou brota na pia batismal, ou é derramada pelo sal amargo de uma lágrima. Toda água é um bem a nós confiado. E luxo é o bem que perde o fluxo. Água parada apodrece. Governo fechado, enlouquece”.
TT Catalão, jornalista (5/10/2005)
O velho e o bispo
“O rio que atravessa nossos corações nasce em Minas e passa por outros quatro estados antes de mergulhar no mar. Tem nome, mas os íntimos preferem o apelido: Velho Chico. É daqueles tesouros que o país tem degradado por séculos. Um amor maltratado. Por ele, nos últimos dias, um bispo, Dom Luiz Flávio Cappio, chegou a uma medida extrema. O governo diz que a transposição vai matar a sede de 12 milhões de pessoas sem prejudicar um brasileiro; o bispo diz que o rio está à morte e a obra prejudicará os mais pobres.
Há razões e números de lado a lado, mas não é preciso ser especialista para saber que o Rio São Francisco está doente”.
Míriam Leitão, colunista (O Globo – 06/10/2005)
Bispo presta serviço ao país
“O bispo de Barra (BA), Luiz Flávio Cappio, tem um mérito inegável: sua greve de fome reacendeu com força nunca vista antes o debate sobre a obra de transposição de parte das águas do rio São Francisco. A mídia já não estava dando mais bola a um assunto polêmico desde os tempos de dom Pedro II. Ponto para Cappio. Governos recentes, como o do tucano FHC, desistiram da obra. Promessa do petista Luiz Inácio Lula da Silva na campanha eleitoral de 2002, a transposição está com o cronograma atrasado. Dificilmente terá avanço significativo até o fim do mandato do presidente”.
Kennedy Alencar – colunista (Folha de S. Paulo – 7/10/2005)
“Dom Frei Luís desenvolveu especial tino para as coisas dos pobres e da degradação do Velho Chico. O governo fala de soluções técnicas. Ele fala de soluções sociais. Não é contra a transposição que não foi adequadamente discutida com os atingidos e que não garante a solução social. Num mundo onde tudo vira mercadoria e ocasião de lucro, as águas transpotas servirão 70% ao agronegócio de exportação. Os estados devem distribuir o resto ao povo sedento. Irão fazê-lo sem cobrar? Dom Frei Luís, em 30 anos de identificação com os pobres do vale, entendeu onde está o impasse. Fez-se “louco de Deus”, portador de uma sabedoria mais alta”.
Leonardo Boff (JB em 14/10/2002)