Caro Leitor
25 de novembro de 2005Liberdade é defendida em discursos, mas é atacada com metralhadoras, costumava dizer Carlos Drummond de Andrade. Meio Ambiente, também, é assim: defendido veementemente em discursos, em programas eleitorais, em artigos, mas atacado, violentamente, com metralhadoras. Os exemplos são fartos e estão aí. Em Mato Grosso do Sul, o ambientalista Francisco Anselmo Barros precisou se imolar,… Ver artigo
Liberdade é defendida em discursos, mas é atacada com metralhadoras, costumava dizer Carlos Drummond de Andrade. Meio Ambiente, também, é assim: defendido veementemente em discursos, em programas eleitorais, em artigos, mas atacado, violentamente, com metralhadoras. Os exemplos são fartos e estão aí. Em Mato Grosso do Sul, o ambientalista Francisco Anselmo Barros precisou se imolar, ateando fogo ao próprio corpo, para defender o Pantanal.
Em Barra, na Bahia, o Bispo D. Luiz Flávio Cappio fez greve de fome para recolocar na pauta de debate a transposição e, sobretudo, defender a prioridade da revitalização do rio São Francisco.
Na Amazônia, os ribeirinhos passaram dias difíceis com a estiagem, vendo rios e igarapés secarem e peixes morrerem no lamaçal. Enquanto isto, o desmatamento continua, a fiscalização relaxa… as queimadas não cessam, a fiscalização não chega… os madeireiros comercializam mognos e sucupiras, a fiscalização não vê… o patrimônio brasileiro chamado Parque da Serra das Capivaras se deteriora, e a fiscalização não sabe… e os traficantes de animais silvestres teimam em retirar aves e bichos de seus habitats, e a fiscalização… Coitada da fiscalização, sem gente, sem recursos e sem motivação passa ao largo de tantos crimes ambientais.
Meio Ambiente continua sendo muito defendido nos discursos, mas não deixa de ser violentamente atacado pelas metralhadoras, pelas motosserras, pelos projetos insustentáveis, pelas ambições e pelas ganâncias.
Um outro exemplo: os projetos de interesse ambiental que correm nas comissões da Câmara Federal e Senado foram relegados ao esquecimento. Dormem nas gavetas do Congresso. Mesmo sabendo que 82% da população brasileira vivem em cidades que não oferecem serviços de coleta e tratamento de esgoto de forma adequada; que diariamente são produzidas 125 mil toneladas de lixo, das quais 70% são resíduos sólidos despejados em lixões a céu aberto, contaminando fontes de águas superficiais e subterrâneas, governo e parlamentares deixam o tempo correr. Não parecem tão impressionados com a triste estatística. O Projeto de Lei nº 5.296, que dispõe sobre a nova política de saneamento, está com sua tramitação paralisada na Câmara dos Deputados. Como ao projeto já foram apresentadas nada menos de 862 emendas, este ano não há mais tempo para sua apreciação. E, no ano que vem, ano eleitoral, vai ser ainda mais difícil votar, pela complexidade que o tema encerra e pelos lobbies que o rico mercado do saneamento planta.
E assim, mais um ano termina e um novo se aproxima. Não há como escapar: continuaremos a caminhar entre liberdades, metralhadoras e motosseras.
SUMMARY
Dear reader
Liberty is defended in speeches but attacked by machine guns, as Carlos Drummond de Andrade was fond of saying. The environment is also that way: fervently defended in speeches, during election campaigns and in articles, but attacked violently by machine guns. There are many examples out there. In the state of Mato Grosso do Sul, the environmentalist Francisco Anselmo Barros had to self immolate, setting fire to his own body to defend the Pantanal.
In Barras, Bahia State, Bishop Dom Luiz Flávio Cappio staged a hunger strike to make sure that the transposition of the São Francisco River and moreover the priority of its revitalization were put up for debate.
In Amazônia, the river dwellers suffer with the drought while rivers and igarapés become dry and fish die in the mud. At the same time, deforestation continues, inspection is relaxed… the slashing and burning do not cease, inspection of the sale of the mahogany and sucupira trees goes unchecked, the national heritage Brazilians refer to as the Parque da Serra das Capivaras has deteriorated and there is still no inspection and traffic of wild animals threatens to remove birds and other animals from their natural habitats and yet the inspection… Poor inspectors, they lack human resources and funds as well as any motivation, and take steer clear of so many environmental crimes.
The environment continues to be much defended in speeches but continues to be attacked by machine guns, chain saws, unsustainable projects and by ambition and greed.
Another example: the environmental projects of interest which are under study by commissions in the Federal House of Deputies and the Senate have relegated to neglect, placed on some back burners in Congress. Even though they know that 82% of the Brazilian population lives in cities which do not provide proper garbage collection and sewage treatment resulting in the fact that 125 million tons of trash are being produced and 70% of solid waste is poured into open air garbage dumps, contaminating surface and underground water sources, the government and elected officials let the sands of time run out. They do not appear to be impressed or upset by these sad statistics. Bill of Law 5.296, which provides for a new sanitation policy, is stuck in the House of Deputies. Since there have been no fewer than 862 amendments to the bill, it does not look like it will be reviewed any time soon. Next year, an election year, it will be even more difficult to bring it up for a vote, owed to the complexity of the issue and thanks to the lobbies that the rich sanitation market has employed.
As one more year comes to a close and another one nears, there is no escaping the fact that we continue to walk the path between liberties, machine guns and chain saws. SG