Mais educação e menos repressão

A POLÍCIA DA VIDA

25 de novembro de 2005

Policiais ambientais do Brasil discutiram no Pantanal novas estratégias de fiscalização


Além de teorias sobre conservação e discussão de ferramentas eficazes para proteger a natureza,
a programação incluiu, ainda, visitas em grupos a ambientes pantaneiros, como às lagoas de salinas.


 


Em 1991, a corporação realizou pela primeira vez essa integração, na fazenda Xaraés (Corumbá), como preparação para a RIO?92. A discussão visou, também, um novo componente que acabou por mudar o modo de agir da fiscalização: a educação ambiental. De lá para cá, os encontros anuais realizados no Estado promoveram mudanças na forma operacional de controlar a exploração dos recursos naturais.
A polícia ambiental não se limitou a atender apenas denúncias de desmatamento e caça e pesca ilegais, mas buscou atuar com base em apoio e pesquisa científica, antecipando-se às ocorrências.


Ângelo Rabelo,
o idealizador
O idealizador desse encontro é o tenente-coronel Ângelo Rabelo. Denominado Estratégias de Conservação da Natureza, o encontro começou quando Rabelo era comandante da então Polícia Florestal de MS. Ele ainda continua à frente, e é o responsável pela organização técnica, através do Instituto Homem Pantaneiro.
“Ao longo dos anos, esse novo olhar do aparelho repressor para a preservação da natureza foi ganhando força na medida em que as corporações perceberam que o aparato militar vinha perdendo seu símbolo de eficiência. Com isso, passou-se a investir mais em recursos humanos, em tecnologia, e apostou-se na educação ambiental”, explica Rabelo. “Outro grande avanço foi sermos contemplados com uma cadeira no Conama”, diz ele.
Este ano o evento teve o apoio da Fundação O Boticário, da Conservation International (CI) e da ANA.


“Esse encontro é um aprendizado que promove, ao mesmo tempo, a integração dos estados e faz refletir as questões ambientais e o papel do policial como agente de políticas públicas de conservação da natureza”.
Jaime Doxsey, da Universidade Federal do Espírito Santo


“O policiamento preventivo é de suma importância, principalmente em se tratando de meio ambiente. O fato de apenas autuarmos, revelando números expressivos de apreensões e a extensão das agressões, significa falha na fiscalização. Estamos avançando em todo o país num novo modelo conceitual”.Tenente Adílson Carneiro, de Minas Gerais.


A nova polícia ambiental


Os policiais exercitaram discussões paralelas como o comportamento humano e a evolução das espécies.


 


 O encontro na centenária fazenda Rio Negro, uma RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural) de 7 mil hectares mantida pela CI, reuniu 33 oficiais da polícia ambiental do País e ainda um representante de Roraima, Estado que pretende implantar uma unidade militar.
Também participaram agentes da Polícia Federal e da Rodoviária Federal, um oficial do Paraguai e o queniano Samuel Tokore, diretor de um dos parques nacionais africanos.
Além de teorias sobre conservação e discussão de ferramentas eficazes para proteger a natureza, desde o conceito de biomas, os policiais exercitaram discussões paralelas, como o comportamento humano e a evolução das espécies. Vivenciaram em grupo o que aprenderam e ainda trocaram experiências, definindo estratégias de ação integrada, numa visão macro. A discussão também permitiu identificar problemas internos, como a falta de estrutura.
Complementando estas tarefas, os policiais participaram de sessões de reflexões e teorias de conservação da natureza com o sociólogo Jaime Doxsey, americano que mora no Brasil desde 1971 e atualmente é professor na Universidade Federal do Espírito Santo, e com a engenheira florestal Maysa Guapyassu, da Fundação O Boticário.
A programação incluiu, ainda, visitas em grupos a ambientes pantaneiros, como às lagoas de salinas, comuns na região.
A polícia ambiental no Brasil hoje conta com oito mil homens. A maioria dos países criou apenas a figura do guarda-parque.
Em alguns estados a corporação ainda é denominada florestal. São Paulo criou a primeira unidade, em 1946. O segundo estado a tomar a iniciativa foi o Paraná, em 1957, depois Minas Gerais, em 1966. A Polícia Florestal de MS foi criada em 1986, no auge do combate aos contrabandistas de peles de jacaré.


“Essa iniciativa promove a integração do aparelho de fiscalização dos recursos naturais do País e vivencia um novo momento da política conservacionista. Esse encontro cria um relacionamento mais estreito e de cumplicidade do policial com a natureza”.Maysa Guapyassu, engenheira florestal e integrante do programa de mobilização da Fundação O Boticário.


“As polícias têm que se adaptar a esta nova missão conservacionista e de educação da população para o exercício da cidadania ambiental plena. Aí está a importância deste encontro, pois temos que unificar nossos procedimentos, definindo estratégias onde a regra é a educação e a exceção é a repressão”.Major Denis Sena, diretor de controle ambiental da secretaria de Meio Ambiente do Amazonas.