São Francelmo! Rogai por nós!

25 de novembro de 2005

O ambientalista Francisco Anselmo Barros [Francelmo] se deu sua vida pela vida do Pantanal

“Já que não temos voto para salvar o Pantanal, vamos dar a vida para salvá-lo.”
Francelmo


Presidente da Fundação para Conservação da Natureza de Mato Grosso do Sul (Fuconams) e coordenador do Fórum em Defesa do Pantanal, Francelmo participava da manifestação contra a instalação de usinas de álcool na BAP, organizada pela Ecoa – Ecologia e Ação, com apoio de artistas e músicos. Quase no fim das apresentações, ele dirigiu-se a uma Kombi, onde pegou dois colchões e os colocou em formato de cruz. Em seguida, despejou dois galões pequenos de gasolina nos colchões, sentou-se e ateou fogo no próprio corpo. Segundo testemunhas que participavam do ato, ninguém fez nada para impedir porque todos achavam que ele estava preparando uma encenação como parte do protesto.
Francisco Anselmo Barros fundou uma das primeiras ONGs brasileiras. Jornalista e editor, Anselmo ocupou cargos no Conselho Municipal de Controle Ambiental, foi membro da Associação Brasileira dos Jornalistas de Turismo, da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra, diretor executivo da Editora Saber Ltda, diretor executivo da Associação de Fomento e Apoio às Artes e a Cultura em Geral. Era, ainda, filiado ao Fórum Brasileiro de ONGs, à Associação Brasileira de ONGs e participante de inúmeras entidades nacionais e internacionais.
O ambientalista deixou uma carta justificando seu ato. Nela, faz um desabafo sobre a questão ambiental, especialmente sobre a construção de um canal de navegação no rio Paraguai e a construção das usinas. Concluiu sua carta dizendo: “Já que não temos voto para salvar o Pantanal, vamos dar a vida para salvá-lo.”


Carta de Francelmo fala do Pantanal e da Transposição do São Francisco


Francelmo deixou várias cartas. A mais importante, ele deixou para seus companheiros ambientalistas. Ele fala dos maus políticos, marca sua posição contra a transposição do rio São Francisco no lugar da revitalização, denuncia o contrabando de sementes transgênicas e diz da impassividade do governo sobre as queimadas na Amazônia.


Meus queridos pares:


“Nós fomos os pioneiros no Brasil, na questão do meio ambiente.
Hoje somos passados para trás pelos interesses de maus políticos, maus
empresários e os PhD’s de aluguel.


Em termos de Brasil, estamos vendo o barco afundar e ninguém diz nada.
São transgênicos entrando de contrabando pelo sul e o governo apoiando,
são as queimadas na Amazônia e o governo impassível. É gente com terra
do tamanho de um estado e é gente sem terra. É transposição do Rio São
Francisco no lugar de revitalização.


No Pantanal querem fazer do rio Paraguai um canal de navegação com portos
para grandes embarcações e grandes comboios. É pólo siderúrgico e
pólo gás químico. Agora  querem fazer usinas de álcool no rio Paraguai.
Um terço dos deputados a favor, um terço contra e um terço sem saber o
que é. Já que não temos voto para salvar o Pantanal vamos dar a vida  para salvá-lo”.


Francisco Anselmo Gomes de Barros


Uma luta pela valorização das árvores acuadas pelos outdoors


 


 No Dia da Árvore, de 2003, Francelmo usou de muita ironia contra o então prefeito de Campo Grande e saiu em defesa das árvores “pois incrivelmente as administrações públicas cortam as árvores para favorecer as placas de propaganda”.


O engenheiro Jorge Gonda ficou com a difícil missão de substituir Francelmo. 


Tolerância zero para aqueles que valorizam mais
os painéis de propaganda do que as árvores


Com o ambientalista Francelmo não tinha meio termo: antes de dar a própria vida pela causa ambiental, ele lutou muito. São muitas as suas ações em favor do meio ambiente, mas uma delas vale a pena destacar.
No Dia da Árvore, 21 de setembro de 2003, ele fez questão de mandar um recado irônico para o  então prefeito de Campo Grande, André Puccinelli. Francelmo fez um protesto importante. Denunciou um crime que aconteceu em Campo Grande, já aconteceu em Brasília (cinco árvores foram envenenadas e depois cortadas na L-2 Sul para proporcionar melhor visualização de um painel eletrônico) e continua acontecendo em muitas cidades brasileiras.
Qual o crime? Tolerância zero para árvores que atrapalham a visão de outdoors nas vias públicas.
Na maioria das vezes, essas árvores são envenenadas e, quando secam, recebem o golpe fatal: a licença da administração para o corte.
Em 2003, no Dia da Árvore, Francelmo fez seu protesto. Como nesta esquina cinco árvores já haviam sido cortadas para melhorar a visão dos outdoors, o ambientalista não teve dúvidas. Fez sua própria placa e se plantou em frente à última árvore condenada, pois já dava mostras da doença.


“DR. ANDRÉ (prefeito André Puccinelli) Mande cortar esta árvore, ela está atrapalhando a visão da placa de propaganda.”
Francelmo


Jorge Gonda vai dirigir a ONG
de Francelmo


Em outra carta, ele disse: “Foi difícil tomar essa decisão de sã consciência. A minha vida sempre foi um sacerdócio em defesa da natureza. É a nossa casa e o presente maior de Deus. Se ele deu a vida por nós, eu estou dando a minha vida por ele, defendendo o futuro dos nossos filhos. […] Continuem a luta por mim”.
A entidade será agora dirigida pelo vice-diretor, Jorge Gonda, para quem o gesto do ambientalista não foi impensado. “Será difícil encontrar um homem como Francelmo, dedicado ao meio ambiente mais do que à própria vida. Vou tentar exercer o cargo com a mesma responsabilidade”, disse Gonda, que é engenheiro, foi diretor da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES-MS) e também já exerceu funções como membro de conselhos municipais e estaduais de meio ambiente.