Índice de Sustentabilidade Empresarial

Bovespa reúne as 28 companhias brasileiras mais comprometidas com a sustentabilidade

20 de dezembro de 2005

Os nomes das empresas excluídas do ISE não serão divulgados, mas as 35 desclassificadas que enviaram questionários serão as que mais vão investir em seus pontos fracos para, num prazo de três anos.

Ricardo Nogueira conseguiu reunir no ISE-Bovesta companhias de 12 setores da economia.


 


“Na atualidade, a indústria de cigarros é 100% prejudicial à saúde, só vai entrar no ISE se mudar o produto a ponto de torná-lo inofensivo às pessoas”.


“A indústria de armamentos também está na contramão dos princípios da sustentabilidade”.


“O setor de bebidas é caso a parte. Se numa
empresa o percentual de produtos alcoólicos for muito pequeno e seus resultados em todas as áreas do questionário forem altos, não há porque
excluí-la do ISE”.


“As teles lideram as reclamações nos órgãos de defesa do consumidor. Não por acaso nenhuma delas está em nossa nova carteira”.


Ricardo Nogueira


 


“As companhias que responderam satisfatoriamente aos vários quesitos alcançaram a pontuação necessária para participar do recém-criado portfólio da Bovespa, que se renova anualmente”, informa Ricardo Nogueira (foto), superintendente de operações da Bovespa. Nogueira está no comando do ISE Bovespa, que  reúne companhias de 12 setores da economia.
Sem surpresas
Para alguns analistas, foi muito baixa a adesão das companhias brasileiras de capital aberto ao ISE Bovespa, mas Nogueira faz outra leitura do fato. Segundo ele, as 28 companhias de capital aberto participantes da primeira carteira do índice de sustentabilidade foram selecionadas dentre as 63 empresas que responderam ao questionário criado pela Fundação Getúlio Vargas.
Vale lembrar que o questionário foi enviado à 121 companhias. Desse total, 93 abriram o questionário, sendo que 8 delas não responderam e 22 não enviaram as respostas no prazo estabelecido.
“Nesse universo figuram companhias que fizeram um pré-julgamento, o de que não se enquadraria nos critérios do ISE por ser de um setor mais poluidor, ou de ainda não ser madura sua política nos quatro pilares do índice, ou realmente porque não está investindo em sustentabilidade. Nossa estimativa era de que a maioria das empresas não responderiam ao questionário. Mesmo assim, atingimos 50% de questionários respondidos. Projetamos que, das 121 companhias selecionadas, no máximo 40 poderiam atender aos requisitos do ISE. De 63 restaram 28, acho que o resultado final foi bom”.
As 35 excluídas
Nogueira informa que os nomes das empresas excluídas do ISE não serão divulgados, mas fez questão de destacar que entre as 35 empresas que enviaram os questionários, mas foram desclassificadas, o motivo não era as más notícias. “Essas 35 eliminadas podem ter apresentado performance ruim em um, dois ou todos os pilares avaliados. A boa notícia é que essas empresas que nos enviaram o questionário estão realmente empenhadas em seu compromisso com a sustentabilidade e têm interesse de receber uma avaliação idônea para promover as melhorias necessárias em seus pontos fracos. 
Elas precisam de indicadores para saber por onde começar as mudanças e o ISE permite esse feedback, pois todas as 63 empresas, classificadas ou não, receberam da FGV uma avaliação pormenorizada e também o lugar em que ficou no ranking final, de acordo com a pontuação obtida. Entendemos que as companhias desclassificadas, que ficaram abaixo da média, vão se esforçar e investir onde mais precisam, e no prazo de três anos é bem provável que tenham uma realidade completamente diferente”.


O questionário da FGV foi enviado a 121 companhias. Desse total, 93 abriram o questionário, 8 não responderam e 22 não enviaram as respostas no prazo. Das 63 empresas que responderam, 28 foram selecionadas.


Embraer, Belgo, Braskem e Copesul estão em setores polêmicos


Algumas das companhias de capital aberto integrantes do ISE Bovespa representam setores de alto impacto ambiental, a exemplo da Belgo Mineira (siderurgia-metalurgia), Braskem e Copesul (petroquímica).
Mas quando da divulgação das 28 empresas classificadas na nova carteira, o que causou surpresa foi a Embraer estar no time, já que a companhia produz uma pequena parcela de aeronaves exportadas para uso exclusivo em combates.
“O ISE Bovespa não penaliza, de antemão, produtos ou setores, pois temos critérios rigorosos e realmente capazes de bloquear a entrada de empresas que estão poluindo o ar, o solo, jogando resíduos nas águas, não dando máscaras protetoras para seus empregados.
O paradigma de sustentabilidade entrou para valer na Belgo Mineira, na Braskem e na Copesul, por isso estão no ISE Bovespa. Os grandes investidores vão forçar que outras siderúrgicas e petroquímicas de capital aberto, nas quais aplicam seus capitais, atinjam essas marcas de excelência ambiental. O percentual de aeronaves exportadas para combate é ínfimo na Embraer, mas em todos os quesitos de nosso questionário ela alcançou pontuação exemplar. O mesmo aconteceu com os bancos, temos cinco instituições. Sabemos que o setor é alvo de reclamações no Procon, mas esse número é insignificante se comparado à carteira de clientes beneficiados”, avalia o superintendente.
Há que se notar que o ISE Bovespa não adotou a cláusula de exclusão presente, por exemplo, no Índice Dow Jones de Sustentabilidade, que barra a entrada das indústrias mais poluentes ou na contramão de princípios basilares da sustentabilidade. “Partimos do pressuposto de que empresas ou setores potencialmente poluentes, se investirem no que há de melhor em filtros e todo tipo de tecnologia limpa, deixam de ser do mal. O aço em si não é um produto do mal, mas a forma como é produzido pode ser danosa ao meio ambiente. Vale lembrar que a Nike, anos atrás, era a escória do trabalho infantil.
A companhia investiu pesado em sua cadeia de fornecedores de tênis e hoje está no Índice Dow Jones de Sustentabilidade”, ressalta Nogueira.
Quando questionado sobre a possibilidade de companhias de capital aberto que produzem cigarros, bebidas alcoólicas e armas virem a fazer parte do ISE Bovespa, Nogueira não contemporiza: “Na atualidade, a indústria de cigarros é 100% prejudicial à saúde, só vai entrar no ISE se mudar o produto a ponto de torná-lo inofensivo às pessoas.
A indústria de armamentos também está na contramão dos princípios da sustentabilidade. O setor de bebidas é um caso a parte. Se numa empresa o percentual de produtos alcoólicos for muito pequeno e seus resultados em todas as áreas do questionário forem altos, não há porque excluí-la do ISE.
As teles lideram as reclamações nos órgãos de defesa do consumidor. Não por acaso nenhuma delas está em nossa nova carteira”.


“A Nike, anos atrás, era a escória do trabalho infantil. A companhia investiu pesado em sua cadeia de fornecedores de tênis e hoje está no Índice Dow Jones de Sustentabilidade”.


Como funciona o ISE


O  ISE foi formulado com base no conceito internacional do Triple Botton Line (TBL), que avalia, de forma integrada, as dimensões econômico-financeira, social e ambiental das empresas. Aos princípios do TBL foram adicionados critérios e indicadores de governança corporativa. Os quatro blocos temáticos são precedidos por um grupo de indicadores gerais básicos e de natureza do produto. O TBL das empresas foi abordado a partir de quatro critérios:
Política – engloba indicadores de comprometimento;
Gestão – avalia planos, programas, metas e monitoramento;
Desempenho – indicadores de performance;
Cumprimento Legal – verifica o cumprimento da legislação na área de concorrência, consumidor, trabalhista, ambiental, entre outras.     


Dow Jones Sustainability só tem três empresas brasileiras


Apesar de suas particularidades, o novo índice da Bovespa foi inspirado no precursor Dow Jones Sustainability World Indexes (DJSI), criado há seis anos, e nos que vieram posteriormente, o britânico FTSE4Good e o africano Johanesbug Stock Exchange.
Vale lembrar que fazem parte do Dow Jones três companhias brasileiras de capital aberto – Aracruz, Banco Itaú e Cemig. Todas também integram o seleto time do  ISE Bovespa, que teve seu pregão inaugural no dia 10 de dezembro último. As companhias de energia elétrica e os bancos dominam o portfólio, respectivamente com 8 e 5 representantes. Até o fechamento desta matéria, as 34 ações do ISE não tinham apresentado variação expressiva em sua cotação, pelo fato de estarem nessa “vitrine” da  sustentabilidade. A expectativa é que, apenas a médio ou longo prazo, isso venha a ocorrer, pois a rentabilidade das companhias que estão no Dow Jones, por exemplo, é  maior, se observada na linha do tempo, do que a das empresas que participam de pregões tradicionais.
A Embraer e o Unibanco já pertenceram ao Dow Jones e não pertencem mais.


Detector de mentiras nos questionários


O superintendente Ricardo Nogueira assegura que o ISE Bovespa não dá margem para que a companhia dê respostas parciais e até mesmo mentirosas. “Fizemos auditoria aleatória nos questionários, mas todos os dados factuais foram checados: reclamações no Procon, existência de ações judiciais, inquéritos na Comissão de Valores Mobiliários, problemas na Fazenda, Ibama etc. O que também anulou a possibilidade da mentira é que a condição para avaliarmos os questionários respondidos era que os mesmos fossem assinados pelo DRI, o diretor de relações com os investidores, que informa à Bovespa tudo o que se refere ao valor econômico-financeiro da companhia, sob pena de responsabilidade civil e penal. Neste caso, o DRI assumiu responsabilidade legal pela totalidade do que nos foi informado no questionário”.



Situação-limite
O que aconteceria se a companhia emissora de ações no ISE Bovespa se envolvesse em situações tais como acidentes ambientais, danos à saúde de consumidores ou até estar associada a esquemas de corrupção? O superintendente de operações da Bovespa admite que essas situações alteram significativamente os níveis de sustentabilidade e responsabilidade social da companhia.
 “O Conselho Deliberativo do ISE vai ser imediatamente convocado para avaliar a melhor solução aplicável ao caso concreto. Pode optar por se colocar em estado de alerta, observando o desdobramento de fatos de menor gravidade ou decidir pela exclusão imediata das ações da companhia pela maior gravidade do ocorrido”, conclui Nogueira.


(*) As 28 empresas
selecionadas foram:
ALL – América Latina Logística, Aracruz Celulose, Belgo Mineira, Bradesco, Banco do Brasil, Braskem, CCR Rodovias, Celesc, Cemig, Cesp, Copel, Copesul, CPFL Energia, DASA, Eletrobras, Eletropaulo,
Embraer, Gol Linhas Aéreas, Iochpe-Maxion, Itaubanco, Itausa, Natura, Perdigão, Suzano Bahia Sul Papel e Celulose, Tractebel Energia,
Unibanco, Votorantim Celulose e Papel e Weg Motores.