Folha do Meio Ambiente

A botânica Adriana Lobão faz sua análises e pesquisas durante a quarta expedição ao Parque do Tumucumaque.

Segundo Enrico Bernard, gerente do programa da Amazônia da Conservação Internacional (CI-Brasil), as intensas semanas de pesquisas geraram muitas informações sobre a biodiversidade de um dos locais menos estudados do planeta incluindo registros de espécies ainda não catalogadas no Brasil e animais ameaçados de extinção. O objetivo das expedições foi mapear a riqueza biológica de toda a região, para que os dados possam subsidiar as políticas de conservação e a elaboração do plano de manejo do Parque do Tumucumaque. As expedições foram realizadas por especialistas do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (IEPA), por analistas ambientais do Ibama no Amapá e com o apoio da ONG Conservação Internacional, da FAB e do Exército Brasileito.
Mais de 47 espécies de mamíferos não voadores, entre eles a onça pintada e o macaco cuxiú (Chiropotes satanas), ameaçado de extinção, já foram catalogadas desde da primeira expedição, que aconteceu em outubro de 2004.
As quatro expedições ao Parque Nacional do Tumucumaque registraram 46 das 150 espécies de morcegos conhecidas na Amazônia. Os pesquisadores encontraram ainda mais de 32 espécies de sapos e rãs, 27 espécies de lagartos, 24 de cobras, sendo que duas ainda não haviam sido catalogadas no Brasil.
Para Jucivaldo Lima, herpetólogo, especialista em répteis e anfíbios, os números registrados até o momento colocam o Amapá como uma das áreas com maior riqueza de espécies de répteis e anfíbios na Amazônia Brasileira.
Segundo a botânica Adriana Lobão, o que mais impressionou nas florestas do Parque foi o alto grau de preservação e a grande diversidade, com um elevado número de espécies raras. Foram encontradas espécies de árvores com até 3,5 metros de diâmetro.

summary  

Tumucumaque Park

Scientific expeditions conduct the first inventory of the rich biodiversity in Tumucumaque Park. The Tumucumaque Mountains National Park is the largest rainforest park on the Planet. The area includes the sources of all of the major rivers in the state of Amapá, such as the Oiapoque, the Jari e and the Araguari. The mouth of the Oiapoque River is at the extreme end of Brazil and is the border between Brazil and French Guyana. The Jarí River serves as the state line between Pará and Amapá. Two water divides are outstanding in the Park area:  the Serra do Tumucumaque, locally referred to as the Serra Uassipein and the Serra Lombarda. Now four scientific expeditions have revealed important details concerning the largest park on the planet.  These expeditions have found 660 species of fauna and flora. Each expedition took 21 days on the average and together covered nearly 4,000 kilometers; some of these areas were until that date, only known from aerial images.  

Corredor de Biodiversidade

Acima, o herpetólogo Jucivaldo Lima,  (estudioso de répteis e anfíbios) encontra uma sucuri e faz
suas medições

Enrico Bernard, gerente do programa da Amazônia da CI-Brasil, destacou a importância dessa iniciativa para a região. “Essas expedições fazem parte de um projeto que está sendo feito no Corredor de Biodiversidade do Amapá, uma região considerada por especialistas de extrema importância para conservação e que até então, tinha sua biodiversidade pouco conhecida e pesquisada”. 
O Amapá, em relação a seus vizinhos na Amazônia, é o Estado que tem menor taxa de desmatamento, muito inferior à média da região. Cerca de 90% do território têm sua cobertura vegetal intacta e 56% do estado estão protegidas por unidades de conservação.
As pesquisas realizadas no Amapá, especialmente no Parque do Tumucumaque, têm uma grande vantagem sobre os outros estados da Amazônia, porque 95% de sua floresta estão preservados. Isso não significa que seja intocável. Mas aí está a  necessidade do estudo das expedições para promover um zoneamento econômico e ecológico para desenvolver sustentavelmente a região e, assim, ser um manejo racional dos recursos naturais.
Sem expedição, não há pesquisa. Sem pesquisa não há conhecimento e sem conhecimento não há preservação. 
A floresta densa de terra firme é uma amostra de um dos ecossistemas mais representativos do estado, além de sua rica vegetação, topografia e rios de corredeiras com enorme potencial para o ecoturismo.

1 – Pithys albifrons, mãe-de-taoca de topete

2 – Atelopus spumarius

3 – Artibeus gnomus

O Parque do Tumucumaque

Edvan Barros, Gerente Executivo do Ibama/Amapá 

Borboleta encontrada na 4ª expedição no
Parque do Tumucumaque

O Parque do Tumucumaque foi criado em 2002 pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, com a finalidade de proteger a fauna e flora da região. Localizado a noroeste do Amapá, o Tumucumaque tem uma área de mais de 3,8 milhões hectares, o que equivale à superfície do Estado do Rio de Janeiro.
Com um quarto da superfície do Estado, o parque ganhou em novembro a sua primeira sede administrativa, no município de Serra do Navio. O terreno, onde foi construído um complexo de três módulos, doado pela CI-Brasil à gerência do Ibama-AP e à chefia do parque nacional, foi cedido pela Prefeitura Municipal e o Governo do Estado. “A sede facilitará o trabalho da equipe responsável pela gestão da unidade e contribuirá para a elaboração de seu plano de manejo” explica, Edivan Barros, gerente regional do Ibama em Macapá.
Segundo o gerente do Ibama, fortalecer as Unidades de Conservação do Amapá, desde a elaboração de seus planos de manejo até a construção de infra-estrutura é o principal objetivo das ações realizadas pela parceria entre as instituições envolvidas no projeto de implantação do Corredor de Biodiversidade no estado.
Para a Ministra Marina Silva, do Meio Ambiente, a criação do Parque do Tumucumaque pelo governo brasileiro integra uma estratégia de conservação da biodiversidade no bioma Amazônia. É muito importante lembrar que a proteção desta unidade de conservação é ampliada pela vizinhança com duas áreas indígenas, uma Floresta Nacional e pela presença de florestas sem exploração no interior da Guiana Francesa. “Com a criação do Parque, a comunidade científica ganha uma oportunidade concreta na região para a realização de estudos visando à conservação da biota já que, até hoje, o nível de conhecimento limita-se a informações secundárias ou de áreas próximas à unidade de conservação”, salienta a ministra Marina Silva.