Parque Municipal do Pão de Açúcar

Os montanhistas-jardineiros

13 de fevereiro de 2006

O Parque Municipal do Pão de Açúcar, aos olhos dos “dedos verdes”


 


Os ecovoluntários são juizes, jornalistas, atletas, estudantes e profissionais liberais. Um trabalho de limpeza e conservação que vai juntando mais vida às consagradas beleza e imponência do mais famoso cartão postal do Brasil.


 


Os montanhistas-jardineiros são os usuários mais discretos destas duas rochas que acabam de receber a placa de marco geológico.  O trabalho, que chama muito a atenção dos turistas que visitam o Pão de Açucar e a Pedra da Urca, é organizado pelos clubes excursionistas do RJ, ambientalistas e entusiastas da montanha.  


Outro final de semana se aproxima. As ferramentas já estão separadas e a equipe mobilizada para reiniciar a limpeza e reflorestamento nas encostas do morro da Urca e Pão de Açúcar. Este  trabalho, que é organizado pelos clubes excursionistas do estado do Rio de Janeiro e entusiastas da montanha, como a adoção de trilhas ou áreas a serem reflorestadas, conta com o dedicado empenho de profissionais de diversas áreas, que compartilham o amor pela causa ambiental.
O reflorestamento tem permitido a recuperação das encostas e melhorado a qualidade ambiental destas áreas, diminuindo o grau de erosão das trilhas e o risco de incêndios. O apoio da FEMERJ – Federação de Montanhismo da Estado do Rio de Janeiro tem proporcionado a cada ano uma mobilização cada vez mais expressiva da classe montanhista. A Abertura de Temporada – evento anual de montanhismo realizado na Praia Vermelha-Urca – tem servido para proporcionar maior visibilidade desses trabalhos à população e aos freqüentadores do Morro da Urca e Pão de Açúcar.


Montanhistas-jardineiros


A beleza e imponência da trilha do Pão de Açucar


Estes montanhistas-jardineiros são os usuários mais discretos destas duas montanhas que formam o cartão postal mais famoso do Brasil. Ao olharmos atentamente, é um trabalho que surpreende principalmente os turistas mais atentos no passeio pelo bondinho, não só pela ousadia de procurarem o caminho mais difícil para alcançar o cume em suas conquistas, como de utilizarem destes recursos em favor do meio ambiente.  Embora recompensados com a vista deslumbrante da Cidade Maravilhosa, além de escalarem escarpas rochosas e íngremes, anônimos montanhistas plantam árvores nativas reconstituindo a ameaçada Mata Atlântica.
Este importante  empenho de responsabilidade ambiental, ótimo exemplo a ser seguido, acaba gerando angústias nestes montanhistas-ambientalistas que aguardam há muito a sensibilização do poder público para a criação do Parque Municipal do Pão de Açúcar e contar com uma fiscalização efetiva. Por conta disso, seus principais usuários decidiram colocar a mão na massa e cuidar dos jardins suspensos como patrimônio maior a ser preservado. Um resgate que não pode esperar.
Sávio Teixeira, funcionário do Banco do Brasil e diretor de Meio Ambiente do Clube Excursionista Rio de Janeiro, é um destes voluntários abnegados que passou a dedicar seus finais de semana no reflorestamento de parte do Pão de Açúcar, e agora colhe os resultados com satisfação: – “Quando comecei – conta Sávio – nem mesmo havia sombra para descanso. Agora paro de capinar e posso me refrescar na sombra do que hoje é um bosque. Melhor ainda, logo percebo a volta de pássaros cantantes”. Sávio não está só. Compartilha da mesma animação de sua namorada Cissa Biasoli, outra montanhista-jardineira que divide seu tempo no Tribunal Regional do Trabalho do Rio de Janeiro com a preservação do Costão do Pão de Açúcar.
 Segundo Cristiano Requião, diretor do GAE – Grupo Ação Ecológica, a Prefeitura do Rio de Janeiro tem apoiado a iniciativa voluntária com o fornecimento de mudas, mas o excesso de burocracia muitas vezes inibe o trabalho daqueles que não possuem o apoio de uma ONG ou Clube Excurcionista. “Depois do esforço físico de capina e preparação do terreno, as mudas são fundamentais no coroamento deste esforço pela preservação de toda área verde do Pão de Açúcar. Só mesmo um mutirão-verde de voluntários para redesenhar e resgatar a beleza do mais belo e divulgado cartão postal brasileiro”.
O Grupo Ação Ecológica, idealizador da criação do Parque Municipal do Pão de Açúcar, acompanha de perto o trâmite do processo de criação do Parque sob a avaliação da Secretaria de Meio Ambiente junto ao CONSEMAC – Conselho Municipal de Meio Ambiente.
Cristiano Requião está sempre injetando confiança e esperança nos voluntários e nos freqüentadores do costão: “Temos que sensibilizar todo mundo na conservação das trilhas e no maior controle dos níveis de degradação geradas pela falta de investimento em educação ambiental”, diz ele, sem deixar diminuir seu entusiasmo: “Acho que podemos avançar sempre e vamos poder comemorar na próxima Abertura de Temporada de Montanhismo, prevista para maio deste ano,  com um resultado mais efetivo.
Basta o Poder Público abraçar a idéia da criação do Parque Municipal do Pão de Açúcar, que já foi aprovada pelos associados do Grupo Ação Ecológica, em plenário no CONSEMAC, e por ampla maioria dos vizinhos e freqüentadores do costão”.


O mercado da solidariedade


Silvestre Gorgulho


Não há excesso na solidariedade. Já escrevemos muito sobre voluntariado, mas sempre é bom voltar ao tema. Até mesmo porque o Papa Bento XVI acaba de divulgar sua primeira Encíclica “Deus caritas est” onde trata do amor e da importância da ordem justa da sociedade e do Estado. Na verdade, também é muito bom constatar que a demanda pela busca de trabalhos solidários cresce dia-a-dia. E um exemplo concreto está bem pertinho de todos nós. Senão à altura de nossas mãos, pelo menos na altura de nossos olhos: a preservação do Costão do morro do Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro. Ali, ecovoluntários vão juntando mais vida às já consagradas beleza e imponência do mais conhecido cartão postal do Brasil.
(Ver Carta ao Leitor )


Marco geológico conta formação das rochas do Pão de Açúcar e da Urca


Mais uma justificativa para criação do Parque Municipal do Pão de Açúcar. Dia 24 de janeiro, o Pão de Açúcar ganhou um novo marco turístico: uma placa contando toda sua história. Em português e inglês, o marco faz parte do Projeto Caminhos Geológicos que visa identificar e explicar a origem dos monumentos geológicos do estado. O objetivo principal, segundo o secretário de Estado de Energia, Indústria Naval e Petróleo, Wagner Victer, é informar, educar e preservar o patrimônio natural do Rio de Janeiro. Desde o início do projeto, em 2001, já foram instalados 45 marcos explicativos em vários municípios.


A placa informa, por exemplo, que a rocha do Morro da Urca surgiu há 560 milhões de anos, quando continentes antigos colidiram e formaram o super continente chamado Gondwana. Posteriormente, há 130 milhões de anos, eles voltaram a se separar formando o Oceano Atlântico.
Para o presidente do DRM-RJ, Flávio Erthal, a rocha que compõe o Pão de Açúcar se formou a partir do resfriamento da rocha fundida no interior da Terra. “A forma atual foi resultado da erosão das rochas fraturadas e rochas mais frágeis, que ficam entre o Morro do Pão de Açúcar e o Morro da Urca”, completa.
O secretário Wagner Victer destacou que os marcos são uma forma de aproximar a geologia do cidadão comum e contribuir para o fortalecimento das atividades turísticas. “Marcos geológicos desse tipo também existem no Canadá, Estados Unidos e em alguns países da Europa”. “Esta é uma forma eficiente de disseminar os conhecimentos de geologia. Em outros municípios os pontos de interesse geológico já fazem parte das atrações turísticas. Em Cabo Frio, por exemplo, onde instalamos quatro placas, a visitação local nas regiões indicadas aumentou significativamente”, observa o secretário Victer.