Ponto de Vista

James Lovelock: a vingança de Gaia

13 de fevereiro de 2006

A arte de procrastinar da ciência política

Esta postura também tem acometido a análise das questões ambientais. Conforme o professor José Augusto Pádua, os estudiosos destas questões podem ser divididos em categorias específicas, conforme a particularidade de abordagem: há os ambientalistas, os ecologistas, os conservacionistas e os preservacionistas. Para o professor Héctor Leis, há ainda os catastrofistas, que anunciam de maneira exagerada os prementes desastres decorrentes do mau uso dos recursos naturais e da depredação ambiental. Há ampla identidade entre conservacionistas, preservacionistas e catastrofistas, pois todos se coadunam e sistematicamente conflitam com os adeptos do desenvolvimento sustentável; estes muito mais defensores do discurso neoliberal que ausculta a possibilidade de um crescimento mundial de modo sustentável e de forma equilibrada.
Aqui no Brasil, o maior representante da linha catastrofista em relação à questão ambiental foi José Lutzenberger, secretário especial de meio ambiente no governo Collor. Pautou sua atuação pela denúncia constante em relação à má utilização dos recursos naturais e à depredação da natureza em favor da construção de grandes projetos públicos ou privados. Pelas críticas aos projetos do regime militar, viveu momentos de tensão durante a década de 1970. Sua obra “O Fim do Futuro”, publicada no Brasil em 1976, com versão em espanhol pela Universidade de Los Andes na Venezuela em 1978, é uma grande crítica ao desleixo demonstrado pelas autoridades em relação à questão ambiental.
Em nível internacional, James Lovelock surgiu como nome de destaque no cenário ambientalista por sua teoria de Gaia, publicada no ano de 1979. Segundo ele, nosso planeta se comporta como um organismo vivo, podendo gozar de boa saúde ou adoecer.
Vinte sete anos após enunciar sua teoria, Lovelock, membro da Royal Society do Reino Unido, retorna ao palco da causa ambiental com uma obra polêmica e que já agita os adeptos do desenvolvimento sustentável. Acaba de lançar, na Europa, seu livro “A Vingança de Gaia”, reafirmando todos os conceitos que havia enunciado anteriormente, mas enfatizando agora que não há mais tempo para contemporizações. Segundo ele, o efeito estufa é irreversível a médio prazo e até o final deste século inúmeras mortes ocorrerão por sua causa. É necessário que sejamos corajosos e paremos de pensar somente nos direitos e necessidades da humanidade. Devemos admitir que ferimos a Terra e precisamos fazer as pazes com Gaia. Lovelock faz ainda uma crítica à teoria darwiniana da evolução das espécies por não levar em consideração a evolução da superfície do planeta. Convidados a ponderar as considerações de Lovelock em sua nova obra, alguns ambientalistas brasileiros ligados à cátedra e a organizações governamentais agiram como políticos incoerentes com o discurso do palanque: mais uma vez procrastinaram diante da realidade indiscutível. Criticaram o discurso do pesquisador, classificando-o como catastrofista, além de demonstrarem amplo alheamento, como se suas afirmações tivessem pouca relevância ou nenhum significado.