Nestlé tenta desqualificar ambientalista
27 de abril de 2006Prefeito de São Lourenço, Tenório Cavalcanti, faz carta em inglês para desautorizar o ambientalista Franklin Frederick que representou o Brasil no fórum sobre a Declaração Ecumênica da Água, em Londre
Fac-símile da carta do prefeito municipal
O ambientalista Franklin Frederick tem participado de eventos no mundo inteiro que tratam da defesa, preservação e uso racional da água. No início de março deste ano, Frederick participou, em Londres, do evento “Protecting the Right to Water” – Protegendo o Direito à Água – organizado por algumas das mais reconhecidas ONGs britânicas. O ambientalista falou sobre a Declaração Ecumênica da Água – assinada pelas Igrejas do Brasil e da Suíça – e sobre o caso da superexploração das águas minerais pela multinacional Nestlé em São Lourenço.
Frederick explica que tem participado de vários encontros como estes em outros países. Todo trabalho é divulgado no site – www.circuitodasaguas.org . “Neste encontro tive duas surpresas muito grandes”, conta ele. “A primeira surpresa é que o escritório da Nestlé no Reino Unido – o mais importante depois da sede na Suíça – escreveu para todos os diretores das ONGs patrocinadoras do encontro fazendo ameaças implícitas à credibilidade destas entidades, caso elas persistissem em apoiar eventos com a minha participação. E aí – continua o ambientalista – a segunda surpresa?. – Anexa à carta da Nestlé – continua Franklin – uma outra, em inglês, do prefeito de São Lourenço, Tenório Cavalcanti. Evidente, todos devem imaginar, que a minuta da carta do prefeito foi feita pela própria Nestlé”.
Coincidência de datas
Essa carta do prefeito, datada de 25 de outubro de 2005, é endereçada à Nestlé na Suíça e no Brasil, com cópia para a Embaixada do Brasil em Berna. “A data é esclarecedora – salienta o ambientalista. Nos dias 29 e 30 de outubro do ano passado aconteceu em Berna, capital da Suíça, o Tribunal Internacional Nestlé – organizado pelo Multiwatch com apoio da Igreja Reformada de Berna e de várias entidades suíças.
O objetivo foi discutir a ação da Nestlé na Colômbia, em São Lourenço e em outros lugares do mundo”.
“É bom ficar claro – explica Franklin – que faço parte de um amplo movimento que coletou cinco mil assinaturas em São Lourenço contra as atividades da Nestlé e que este documento está na base da ação civil pública contra a empresa de Água Nestlé Waters.
“A audiência pública realizada no Congresso em julho de 2004, com todos os órgãos federais presentes – DNPM, Anvisa, MMA, Ministério Público – confirmou a ilegalidade da produção da água ferruginosa desmineralisada e adicionada de outros sais , vendida como “Pure Life”.
Tradução da carta______________________________________________________
Estou lisonjeado de cumprimentar-lhes e ter a oportunidade de informar aos senhores, em nome da comunidade da cidade de São Lourenço, que eu represento como prefeito democraticamente eleito, com um mandato válido de 2005 a 2008, que não sei dos contatos do sr. Franklin Frederick com a nossa comunidade.
O sr . Franklin não representa o povo de São Lourenço em nenhum aspecto de sua vida social ou econômica, já que não nasceu na cidade e não participa da vida de nossa comunidade local.
Ao contrário do Sr. Franklin, a Nestlé Waters do Brasil tem um papel fundamental na vida social e econômica da cidade, contribuindo imensamente para o progresso e o desenvolvimento sustentável. A empresa fez várias contribuições para a comunidade incluindo o gerenciamento e manutenção do Parque das Águas , a principal atração turística da cidade, implementando programas para melhorar as condições sociais e turísticas como os projetos Nutrir e “100% Qualidade de Vida”, assim como patrocinando vários eventos na cidade.
A moção votada pela Câmara municipal em 17/9/2003 para parabenizar a Nestlé Waters pela maneira com que busca se integrar com nossa comunidade é prova testemunhal do relato acima.
Posso, então, falar legitimamente pelo município como cidadão e como prefeito de São Lourenço, ao contrário do sr. Franklin que certamente não tem o direito de falar pelo município oficialmente, nem como representante informal, já que ele não mora na cidade. Obrigado desde já por sua atenção.
Natalício Tenório Cavalcanti