Olha a Papalera!
24 de maio de 2006Evangelina Carrozo, segundo Hugo Chavez, foi o melhor que aconteceu no encontro de líderes da América Latina, Caribe e União Européia
O Greenpeace escolheu bem: era uma morena bonita chamada Evangelina Carrozo, que se apresentou como a “rainha do carnaval de Gualeguaychú”, cidade que fica na fronteira entre a Argentina e o Uruguai. Existe um forte estremecimento diplomático entre a Argentina e o Uruguai por causa das obras de instalação de duas fábricas de papel e celulose às margens do Rio Uruguai, fronteira com o país de Nestor Kirchner. Gualeguaychú, do lado argentino, é onde se concentram as resistências da oposição. As fábricas, uma espanhola e outra filandesa, estão programadas para serem construídas na cidade uruguaia de Fray Bentos. Evangelina Carrozo driblou todos os controles da segurança ao se credenciar como jornalista para participar do encontro. Assim, entrou com facilidade no centro de convenções do Reed Messe Wien, sede do fórum, em Viena. Aí veio o momento solene da abertura da cúpula: a foto oficial.
Quando os chefes de Estado se preparavam para a foto, Evangelina se separou dos jornalistas e tirou rapidamente a roupa. Ficou só de botas e um biquíni preto com miçangas coloridas. Por sinal, bem espalhafoso. A surpresa maior foi quando ela mostrou um cartaz contra as “papaleras” – como os portenhos chamam a fábrica de celulose: “Basta de fábricas de celulose poluentes. Greenpeace”.
Para os fotógrafos, nada melhor. Virou show! O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu um sorriso e fez uma piadinha verde-amarela para seu companheiro-presidente ao lado.
O presidente venezuelano Hugo Chavez, com a mania de meter gás em todas as confusões, foi logo aplaudindo a performance de Evangelina. E ainda perguntou a um jornalista argentino, no meio do grupo de imprensa:
— Foram vocês que armaram essa?
— Não! Foi o Kirchner! Respondeu o jornalista.
O presidente uruguaio, Tabaré Vazquez, engoliu seco e nem esboçou sorriso durante o desfile da ativista. Não quis passar recibo.
Já o presidente do Paraguai, Nicanor Duarte, preocupado com a dimensão da briga entre argentinos-uruguaios e entre Brasil- Bolívia-Argentina, comentou que, de fato, o bloco sul-americano do Mercosul passa por sua pior crise.
Enquanto seguranças austríacos se apressavam em retirar Evangelina do salão, líderes ambientalistas do Greenpeace explicavam que o protesto era uma forma de pedir ao governo uruguaio que detenha a construção das fábricas de celulose. Mas, Evangelina, ainda detida pelos seguranças, mandou seu recado, gritando ao presidente uruguaio: “Não minta ao povo. As fábricas contaminam o ambiente e o povo não quer sua construção”.
O conflito diplomático entre Montevidéu e Buenos Aires por causa das fábricas, há mais de um ano ocupa as páginas dos jornais dos dois países. Agora, graças à beleza e à coragem de Evangelina Carrozo, passou a ocupar a mídia mundial.
Hugo Chavez, sempre populista, arrematou seu discurso: — Isso foi a melhor coisa que aconteceu nesse encontro de líderes da América Latina, Caribe e União Européia.
Sem controvérsias…