As trilhas Aéreas
14 de junho de 2006Uma outra maneira de curtir a natureza e vigiar o meio ambiente
Fotos: Alexandre Curado
O belo lago de Serra da Mesa, no trecho entre Colinas do Sul e Niquelândia
Cachoeiras do rio Preto de 80 e 120 metros, na Chapada dos Veadeiros.
Coordenadas:
140 11? 15? –
0470 52? 30?
Alexandre Curado e seu instrumento de trabalho número um: o ultraleve. O número dois é a câmera fotográfica
Vista aérea do buraco do Inferno. Coordenadas: 150 15? 30? –
0480 32? 25?
Buraco do Inferno: a 12m de altura se vê um lago cristalino. Com um pouco mais de paciência, e umas migalhas de pão, se pode avistar duas pequenas tartarugas
Morro do Lagarto: região de Serra da Mesa, no trecho entre N.S.
da Abadia do Muquém
e Mimoso,
em Goiás
Alexandre Curado monitora o meio ambiente. Com seus vôos de ultraleve ele cadastra focos de poluição e de erosão. A foto mostra bem a área de degradação ambiental e o crescimento da erosão na cidade goiana de Cristalina.
Coordenadas: 160 47? 30? – 0470 40? 50?
MA – Como é esta história de fazer trilha aérea?
Alexandre Curado – Na verdade comecei fazendo trilha a pé. Depois a cavalo. Depois de moto. Hoje estou fazendo as trilhas aéreas, utilizando pequenas aeronaves do tipo ultraleve, com tanques extras, a autonomia chega a 12 horas podendo percorrer 1.200km sem abastecimento.
FMA – Mas são trilhas só para curtir o visual?
Alexandre – Mais do que o visual, que já é algo fantástico. Durantes as trilhas obtenho imagens de grande formato verticais e oblíquas da superfície do solo. As imagens ou fotos verticais, podem ser montadas em conjunto na forma de mosaicos georreferenciados em sistemas computadorizados. Com os mosaicos é possível a representação de áreas maiores sem as quebras de imagem decorrentes dos limites das fotos, sendo muito utilizados para realizar planejamento urbano, mostrando invasões, corredores urbanos, etc. Para fazer cadastramento de imóveis rurais, análises temporais baseadas na imagem fotográfica, estudos hidrológicos, bacias hidrográficas, assoreamento de rios, lagos e inundações.
Na agricultura, por exemplo, as imagens aéreas podem ser utilizadas para a identificação e mapeamento de culturas agrícolas, avaliação de áreas cultivadas, detecção de áreas afetadas por pragas e doenças, controle de poluição, práticas de conservação do solo e muitas outras finalidades ambientais, técnicas e socioeconômicas.
FMA – A viagem é solitária, vão duas pessoas em cada ultraleve ou é num grupo de mais de um ultraleve?
Alexandre – No meu caso é solitária. Para se ter uma autonomia de 12 horas, preciso levar combustível extra, equipamentos para acampamento, ferramentas para pequenos reparos, alimentos desidratados e água para uns 10 dias. Além disso levo instrumentos de navegação, de comunicação e mapas detalhados da região a ser percorrida.
FMA – Não é perigoso pilotar e fotografar?
Alexandre – Por segurança e melhor estabilidade do vôo a altura mínima para um cobrimento fotográfico fica em torno de 300m do solo. Essa altura mais que suficiente para no caso de uma perda de estabilidade o piloto tenha tempo para fazer as correções necessárias para recuperar os comandos e o vôo reto nivelado.
FMA – Se houver alguém curioso, que não tenha ultraleve e queira voar, há possibilidade?
Alexandre – Claro que sim, o que mais tem são pilotos em aeroclubes ou em beira de praia dispostos a realizarem vôos panorâmicos.
FMA – Essa história de trilha aérea já é algo institucionalizado, ou seja, é algo comum em outros estados ou em outros países?
Alexandre – Comum não é, mas conheço histórias de pilotos com suas pequenas aeronaves, percorrendo grandes distâncias, pousando em pequenos campos de no máximo 50m de rolagem, praias de rio, sobrevoando todo o litoral brasileiro e acampando nas praias.
Já vi também uma reportagem na televisão, onde um piloto de Trike (modelo de ultraleve) saiu da França e, depois de meses atravessando vários paises, chegou à África do Sul.
Encontro vai debater manejo de trilhas
I Congresso Nacional de Planejamento e Manejo de Trilhas
O crescimento do ecoturismo no Brasil e no mundo é uma realidade. As estimativas de novos adeptos, da melhoria da infra-estrutura de hotéis, pousadas e trilhas crescem a olhos vistos. A massificação desta tendência do Ecoturismo e das atividades ligadas à natureza traz conseqüências. Boas e más. As boas podem ser listadas como o incremento da economia, aumento de empregos e melhoria de renda no interior, maior preocupação em preservar. Mas há, também, o outro lado da medalha: o aumento do impacto e a descaracterização de muitos atrativos, tanto pelo aumento das infraestruturas de suporte, quanto da perda da biodiversidade e das características responsáveis pela vocação ecoturística local.
O I Congresso Nacional de Planejamento e Manejo de Trilhas vai se realizar de 7 a 11 de novembro, no Rio de Janeiro.
Neste cenário, apesar do tema ecoturismo sustentável ser amplamente divulgado e objeto de vários encontros, a trilha e seu manejo de modo geral é relegada a um segundo plano. Nem sempre é reconhecida como infraestrutura ou equipamento que deve ter atenção diferenciada, não só por gestores de unidades de conservação, mas também pelos agentes turísticos que se utilizam destes meios para gerar e manter negócios. Assim o I Congresso Nacional de Planejamento e Manejo de Trilhas vem trazer mais relevância para a questão do planejamento e manejo de trilhas como ferramentas essenciais para o desenvolvimento das atividades recreativas e esportivas na natureza dentro dos modernos parâmetros de sustentabilidade e proteção à biodiversidade.
O Congresso
Por ser inédito, este Congresso Nacional busca evidenciar os principais aspectos onde se aplicam os conhecimentos de planejamento e manejo de trilhas. Entretanto, dada a variedade de possibilidades de enfoques e riqueza de aspectos a serem considerados e por entender que se está iniciando uma promissora caminhada, foram eleitos inicialmente quatro eixos temáticos: a Trilha (manejo e manutenção), o Homem (voluntariado e educação ambiental), a Flora e Fauna (manejo e recuperação de áreas degradadas) e o Turismo (recreação em áreas naturais, educação e atividades esportivas).
Mais informações:
http://www.infotrilhas.com/congresso
Depoimento de Alexandre Curado
Quase no lago azul do buraco do Inferno…
…O dia estava claro. Céu azul e ventos moderados, mas um pouco turbulento devido ao horário entre 12 e 14 horas. Eu voltava de Serra da Mesa, em Goiás, em direção a Brasília.
O GPS – Sistema de Posicionamento Global indicava próximo ao Buraco do Inferno. Estava em pré-stol ou numa velocidade mínima de vôo. Preparei para fazer a foto. Click… Pronto! Fui atingido por uma corrente de vento ascendente na asa esquerda e uma descendente na asa direita. Por estar segurando a máquina fotográfica com as duas mãos e não os comandos de vôo, a aeronave entrou em um semi-espiral, voltando ao vôo nivelado logo em seguida.
Durante aproximadamente três segundos, tempo que durou esta manobra, vi-me dentro do Buraco do Inferno. Literalmente! De frente, tive a nítida sensação de que estava sendo tragado… Era como se um rodamoínho estivesse me levando para seu interior.
Nos momentos de aflição, lembrei-me dos nove mergulhadores, um cachorro, um vaqueiro e tantos outros causos e lendas já contabilizados nas entranhas do Buraco.
Lembrei-me até, que iria fazer companhia para as pequenas tartarugas que vivem no belíssimo lago azul, lá no fundo do Inferno.
(Alexandre Curado)