Árvores para uma nova ordem urbana
18 de julho de 2006Vereadores incluem árvores no Plano Diretor da cidade do Rio de Janeiro
Vera Dodsworth: Descobriram que a poda de árvores dá voto e há muitos pedidos que nos chegam, sempre associados à questão da segurança.
A iniciativa da vereadora Aspásia Camargo agradou à presidente da Fundação Parques e Jardins, Vera Dodsworth. A FPJ coordenou um levantamento da arborização dos bairros de São Cristóvão e Vasco da Gama, na zona norte do Rio, onde um inventário qualitativo e quantitativo foi realizado. O inventário pretende diagnosticar todas as 3.064 árvores do perímetro urbano. “Aumenta a cada dia a pressão da sociedade por plantação de árvores. No último Plano Diretor, por exemplo, nem constava a palavra árvore”, explica Vera Dodsworth. Mas a presidente da FPJ revela o outro lado da questão: descobriram que poda de árvores dá voto e há muitos pedidos que nos chegam, sempre associados à questão da segurança. Há alegação de que a copa das árvores prejudica a fiação e cobre a luz dos postes. Então, há uma inversão dos valores. “É preciso fazer um esforço para inverter esse processo e buscar o plantio”, afirma.
Segundo um diagnóstico fitoquantitativo feito pela FPJ, existem cerca de 660 mil árvores diagnosticadas somente nas ruas do Rio de Janeiro, sem incluir as praças.
O diretor de Planejamento e Projetos da FPJ, Adilson Roque dos Santos, aconselha a confecção de um manual de arborização. Ele terá uma tabela de atributos das espécies, para que o plantio fique bem definido no próximo Plano Diretor. É importante que as árvores a serem plantadas nas cidades sigam algumas regrinhas básicas. Por exemplo: espécies resistentes ao vento e ao excesso de luz, à falta de água e de nutrientes e, principalmente, resistam ao vandalismo! “Assim – conclui Adilson Roque dos Santos – o Rio de Janeiro que já é uma cidade relativamente densa em cobertura vegetal, com 30 mil hectares de Mata Atlântica, pode inovar também na ordem urbanística”.
As cores e os cantos do Brasil
Como trazer de volta às cidades a alegria e a beleza das árvores e dos pássaros
Johan Dalgas Frisch
A Copa do Mundo de 2006 passou. O Brasil perdeu. Ficaram três lições: uma seleção de estrelas sem garra e desunida, não vence; jogadores milionários e auto-suficientes fugiram dos desafios no jogo e na derrota: uns deram a cara para bater e outros sumiram em jatinhos particulares. Mas a terceira lição é mais importante: a revolta do torcedor tem explicação, pois seu compromisso maior é com as cores do Brasil. E a Seleção não honrou as cores verde-amarela.
Na vida também temos compromissos. Temos que ganhar e dar show, quando o assunto é qualidade de vida. E nosso compromisso deve ser, também, com as cores e os cantos do Brasil. E onde estão as cores do Brasil? Estão nas árvores e nas flores. E os cantos? Estão na volta das aves para as cidades. Para ter aves, árvores e flores é preciso semear. É preciso saber plantar. Ao se fazer das vias públicas e dos parques um ponto de abrigo e de alimento para as aves, ganha-se em harmonia e em qualidade de vida. Nada melhor e nada mais belo que do que a paz proporcionada pelo verde das plantas e pelo cantar das aves. É um equilíbrio que satisfaz olhos e ouvidos dos humanos.
Semear é uma arte. Atrair as aves é uma arte. Combinar espécies de plantas e compor um ambiente harmonioso para se viver é uma arte. A semeadura requer conhecimento e convicção. Convicção do que fazer e conhecimento estético e agronômico de como fazer e de onde fazer. Viver entre plantas e aves aprimora a sensibilidade humana e afasta a violência.
A natureza dá à vida do homem um sentido divino. Temos que entender a vida de forma holística, pois seus ciclos obedecem a caprichosos caminhos e mudanças. Os pomares particulares também não podem ser esquecidos. Amoreiras, pitangueiras, jabuticabeiras entre outras espécies frutíferas são bem vindas.
Nos parques públicos o importante é criar um ambiente com flora bem diversificada, abrigando imbaúbas, caneleiras, mataíbas, guasatongas, palmitos silvestres, crindiuvas, marianeiras, e mesmo capins de toda variedade vegetal que produzam sementes, muito apreciadas por tiziu, coleirinha, bigodinho e canários.
Lembro-me bem da responsabilidade que me impôs o maior paisagista brasileiro e um dos maiores do mundo, o inesquecível Burle Max. Ao me encontrar, de certa feita, Burle Max foi taxativo: – Olha, Dalgas, um botânico não entende de pássaros. E um ornitólogo não domina o conhecimento sobre as plantas. Quem tem a responsabilidade de fazer essa ponte entre o ornitólogo e o paisagista é você. Você é um engenheiro apaixonado pela ornitologia e pela botânica. Use seu dom de divulgar os cantos das aves e de escrever sobre plantas para promover a arborização das praças e dos parques para compor um ambiente que valorize as cores e os cantos do Brasil.