JACAREPIÁ

SOS Reserva Ecológica de Jacarepiá

25 de agosto de 2006

O grito de SOS pela lagoa Jacarepiá tem que ecoar por toda esta bela costa brasileira

Apesar da falta de interesse tanto do estado do Rio de Janeiro como do município de Saquarema, há um movimento popular que marca sob pressão a defesa da lagoa de Jacarepiá

Apesar dos problemas com a reserva de Jacarepiá e da falta de interesse tanto do estado como do município, há um movimento popular que marca sob pressão a defesa da lagoa: é a Associação de Defesa do Meio Ambiente de Jacarepiá – Adeja. O movimento é formado por ambientalistas e moradores da região. A Adeja, além de acompanhar as denúncias de agressões ambientais, mobiliza seus associados no sentido de monitorar a reserva. Duas outras ações são promovidas pela Adeja: move ações na Justiça quando percebe irregularidades e recebe pesquisadores interessados em pesquisar a área. São estas ações que estão garantindo a sobrevivência das espécies da flora e da fauna da área de restingas e lagunar. Todos os conhecimentos e estudos produzidos são levados à comunidade e turistas no bojo de um Projeto de Educação Ambiental, que visa conscientizar as crianças nas escolas e moradores sobre a importância da mata de restinga, de lagoas e dos brejos da região.

A reserva
A Reserva Ecológica de Jacarepiá compreende um sistema de lagoa e terrenos alagadiços, isolados do mar pela Restinga da Massambaba. Esta restinga inicia-se no município de Saquarema prolongando-se até as proximidades da cidade de Arraial do Cabo. A lagoa de Jacarepiá apresenta um espelho d'água com área de 0,60 km2, profundidade média de 1,10m e máxima de 2,0m. O corpo de água doce da lagoa é mantido através do nivelamento de vários pontos do lençol freático advindos das elevações que delimitam a bacia hidrográfica.

Adeja
A Associação de Defesa do Meio Ambiente de Jacarepiá tentou preservar as últimas espécies de peixes nativos da lagoa, promovendo um grande trabalho de educação ambiental, envolvendo estudantes secundaristas, incentivando a reprodução em cativeiro para posterior re-introdução. Entretanto, devido à falta de fiscalização esse trabalho foi interrompido. E a pesca predatória voltou com força total, degradando a reserva.

A degradação
A lagoa de Jacarepiá passou por fases perigosas de extinção. Na década de 80 foi construído um canal para escoamento de suas águas. Foi utilizado maquinário de um órgão estatal. Ou seja, as máquinas que deveriam protegê-la foram usadas na abertura do canal, para fazer um aterro onde se construía o loteamento Vilatur-Saquarema. A especulação imobiliária está sempre presente na destruição destas frágeis áreas litorâneas em Saquarema e em muitas outras na vasta costa brasileira.
Com o apoio de outras ONGs, como Defensores da Terra e Movimento Ressurgência, A ADEJA tentou bloquear o danoso canal, através de tamponamento e colocação de comportas. Mas logo se verificou a necessidade de uma empreitada de grande envergadura. A verdade é que a ação criminosa e premeditada do especulador imobiliário havia causado uma profunda destruição dos substratos. O leito da lagoa foi alterado e as camadas impermeabilizantes que retém a água nesse tipo de lagoa estavam destruídas. Foi uma luta para reverter esta situação, mas conseguimos salvar a lagoa.
No final do ano 2000 começamos a perder a lagoa de novo. Aí já foi por causa de um fenômeno climático, o La Niña. Este não é um problema apenas de Jacarepiá, mas de todo o mundo. Cada lugar sofre conseqüências específicas de acordo com suas características. Jacarepiá sofreu com a estiagem e com uma evaporação incomum.
Após um período de aproximadamente quatro anos, o fenômeno "La Niña" deu lugar ao fenômeno "El Niño". Aí veio uma ocorrência maior de chuvas e enchentes que acabou por recuperar a lagoa de Jacarepiá. Anteriormente, as recargas da lagoa eram feitas pelo afloramento freático dos riachos que nela desembocavam. Esses riachos hoje, praticamente, não existem pois estão  assoreados. Jacarepiá sobrevive exclusivamente pelas águas das chuvas da região e sua fauna, que conseguiu suportar aos ataques humanos e aos fenômenos naturais, aos poucos estão repovoando e voltando a freqüentar a lagoa.

SOS Jacarepiá
Mas o perigo continua. O ambiente em torno da lagoa está sendo destruído não só pela depredação causada pela ocupação ilegal de suas margens, mas também pelos sistemáticos aterros clandestinos dos brejos periféricos que dela fazem parte.
O grito de SOS pela lagoa Jacarepiá tem que ser um grito de SOS que tenha eco por toda esta bela costa brasileira.
Muitas outras lagoas, mangues e restingas estão sendo destruídos ao longo do nosso litoral. E o ser humano pela especulação imobiliária, pela ambição política e pela ganância  é o principal ator dessa degradação.
Quem tem um mínimo de juízo e um pouco de consciência ambiental deve gritar forte: preservar estes ambientes naturais é preservar a nossa própria qualidade de vida.

Associação de Defesa do Meio Ambiente de Jacarepiá – Adeja

Presidente: Denise Spinler Pena
Vice-Presidente: Lúcia Maria Jorge Lopes
Diretoria: Virgília Gesualdi de Andrade e Vânia Cristina Alonso Cardoso
Fundador: Ernani Andrade (piloto aposentado da Varig)

 (*) Vânia C. A. Cardoso
 é bióloga,  perita e
gestora ambiental