Perfil da cidadania de estudantes técnicos
21 de setembro de 2006Avaliação sobre o que estudantes de ensino médio pensam sobre a questão ambiental
Para a pesquisadora Regina Viegas, o objetivo do estudo é gerar um banco de dados sobre o perfil da cidadania ambiental de jovens do Rio de Janeiro. Até idéia de aceitar um pouco de poluição em troca de mais empregos foi francamente recusada (88,7%) pelos entrevistados.
Alguns dados
Explica Regina Viegas que a metade deles admite que os assuntos relacionados ao meio ambiente não vêm sendo tratados com freqüência nas escolas. Pior ainda: 90,8% admitem que este assunto também não é abordado no âmbito das famílias. Entre eles, 75% não acessam sites ligados à temática ambiental, enquanto a maioria não acredita na ação dos órgãos normativos de controle ambiental. Apenas 59,2% acreditam nos trabalhos das ONGs ambientalistas.
Atitude isolada – Do grupo pesquisado verificou-se que 73,1% não acreditam que a ação de um cidadão sozinho possa alterar a continuidade de uma ação danosa ao meio ambiente. Interessante que 33.3% deles admitem não causar nenhum tipo de agressão ao meio ambiente.
Indústrias – As indústrias são vistas por 35,5% deles como agentes que não investem em meio ambiente e não atendem a legislação ambiental, enquanto o governo apresenta um índice elevado para 74,2% para o mesmo tipo de avaliação.
Preço e qualidade – Em relação às leis, 31,9% dos jovens exigem a criação de novas leis na área ambiental. Quanto aos critérios de compra, estes mesmos jovens acabam por decidir a compra de produtos e serviços apenas por critérios preço e qualidade. Descartam a opção potencial da análise de agressão ao meio ambiente.
Aspectos positivos – Entre os aspectos positivos, 77,5% se interessam por assuntos ligados à temática ambiental, 85,5% acreditam que o conhecimento da problemática ambiental é essencial para a sua formação profissional, 85,6% admitem a viabilidade da adoção do princípio do desenvolvimento sustentável e 88,7% recusam aceitar mais poluição por um aumento do nível de emprego.
Percepção e interesse pelos maiores problemas ambientais do planeta
Mas tem um ponto muito preocupante, reforça Regina Viegas. Quando se perguntou pelo interesse em ter maiores informações sobre os grandes problemas ambientais do planeta, apesar dos jovens mostrarem interesse por todos os problemas, eles focaram sua atenção prioritariamente sobre “colapso dos pesqueiros nos oceanos” (15,1%), “emissão das chaminés de indústrias (7,7%) e de emissões de veículos” (10,6%), “mudanças climáticas” (9,9%) e “aumento dos níveis dos oceanos” (9,9%).
Vale salientar, diz Regina Viegas, que não deram importância ao crescimento da população. Nenhuma referência foi feita à questão demográfica. Também se observou que não maiores preocupações sobre o efeito El Nino(apenas 3,3% citaram este fenômeno) e nem pela engenharia genética, que preocupa só 7,7% dos entrevistados. Os outros pontos que mereceu pouca importância foram:
Colapso dos pesqueiros nos oceanos” (15,1%)
Emissões de veículos (10,6%)
Mudanças climáticas (9,9%)
Aumento dos níveis dos oceanos (9,9%)
Emissão das chaminés de indústrias (7,7%)
Desmatamento e desertifcação (6,9%)
Degradação das zonas costeiras (5,8%)
Redução da Camada de Ozônio (2,2%)
Poluição do ar (1,2%)
Pobreza (0,7%)
Poluição dos mares (2,2%)
Escassez de água (2,5%
Poluição das águas (3,3%)
Consumo de energia (4,0%)
Perda da biodiversidade (4,0%)
Desperdício de recursos naturais (1,6%)
Poluição do solo (1,1%)
Isso mostra, explica Regina Viegas, um contexto de respostas que evidencia a necessidade de uma ação urgente de conscientização dos jovens frente a real problemática ambiental.
Os grandes vilões e as prioridades da ação dos atores sociais
Em termos das origens ou das fontes causadoras dos problemas ambientais, o grupo identificou em primeiro lugar as indústrias, seguidas do governo, depois pela população, comércio e, por último, a agricultura. “Talvez por se tratar de jovens que vivam numa metrópole como o Rio de Janeiro, a questão da agricultura não lhes seja familiar”, analisa a pesquisadora Regina Viegas.
Comportamento das indústrias
Quanto à ação das indústrias, em termos da iniciativa de resolver seus problemas ambientais, os entrevistados evidenciaram um comportamento negativo:
Não investem e nem atendem as exigências ambientais (35,3% dos entrevistados;
Omitem informações em relação aos danos que causam (36,0%);
Deveriam utilizar parte do seu lucro para investir em meio ambiente (9,9%).
Um outro grupo considerou que as empresas investem em meio ambiente, mas ainda causam poluição (7,7%) e que precisam de financiamento do governo para resolver seus problemas ambientais (6,2%).
Apenas 4,7% enfatizaram que as empresas investem em meio ambiente e atendem as exigências ambientais.
Comportamento do Poder Público
O nível de pessimismo foi ampliado. A opção “não investem em meio ambiente e nem cumprem as normas ambientais” ficou com 74,2% dos entrevistados. Em segundo lugar, com 15,8%, ficou “não investem em meio ambiente” . Outros dados:
Não investem em meio ambiente, pois em relação ao comportamento do Governo, ficou também evidente que nem o Governo precisam atender as normas ambientais” (2,6%), Investem, mas ainda causam poluição: 4,0%
Investem e procuram atender a legislação ambiental: apenas 3,3%.
Percepção de desenvolvimento associado à agressão ao meio ambiente
Apesar da maioria (85,6%) admitir que é possível o desenvolvimento econômico e social sem agressão ao meio ambiente, 6,2% admitiram que não, havendo casos onde a agressão ambiental é o preço a ser pago pela sociedade pelo desenvolvimento da região. Um outro grupo admitiu a resposta não, dado que a agressão ambiental é inerente a todo processo de desenvolvimento (6,6%). Por último, 1,5% admitem que o conceito de desenvolvimento não está ligado a problemática ambiental.
Percepção dos segmentos que mais consomem água no Brasil
Quando questionados sobre o segmento que mais consome água, a indicação da maioria foi pela “indústria” (43,0%). A ‘agricultura” – que efetivamente é o segmento que mais consome água – ficou com 29,8%; Os outros segmentos foram:”abastecimento público” (15,8%) e “comércio” (8,1%).
Um grupo (3,3%) admite não haver diferença significativa entre o consumo de água dos diferentes segmentos econômicos.
Poluição e nível de emprego
A idéia de aceitar um pouco de poluição em troca de mais empregos foi francamente recusada (88,7%) pelos entrevistados, apesar de haver um grupo que aceitaria a proposta (11,3%).