Folha do Meio Ambiente

 Meio ambiente é algo tão amplo e tão abrangente que dentro dele cabe tudo. Até a busca pela felicidade. Não há como ser feliz, num ambiente degradado, triste e caótico. Há tempos, fiz um projeto junto ao Ministério da Cultura para buscar, pela Lei Rouanet, algum suporte de incentivo para a Folha do Meio Ambiente. Em vão. O projeto não foi aprovado sob a alegação de que meio ambiente não é cultura e sim educação. Não concordo. Que me perdoem os burocratas, mas meio ambiente e cultura são conceitos indissociáveis. De nada vale investir em um, sem se considerar o outro. Abordo esse tema, a propósito da matéria principal dessa edição sobre o Geoparque do Araripe. Geoparque é um novo conceito da Unesco para áreas protegidas, portadoras de pontos de interesse geológico, paleontológico e de  importância científica e cultural. Está muito próximo ao conceito de paisagem cultural. Valorizar uma paisagem cultural significa valorizar o meio natural ao qual o ser humano imprimiu marcas de suas ações e formas de expressão. É resultado de uma soma de todas as expressões resultantes da interação do homem com a natureza. E vice-versa. A Lei da Ação Civil Pública do Ministério Público considera e protege a paisagem cultural como bem difuso, equiparando-a ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.
No conhecimento e na defesa deste fantástico patrimônio deve haver, também, uma postura de ética e solidariedade, pois ao conceito ambiental de diversidade biológica corresponde o conceito de pluralidade cultural. A ética e a solidariedade estão, justamente, na convivência e no compartilhamento de oportunidades entre o ser humano e todos os outros seres vivos. Todos os recursos da natureza estão à disposição do ser humano, mas há uma postura –  no mínimo racional – de  somente se apropriar daqueles que sejam indiscutivelmente indispensáveis à sobrevivência. E mais: o ser humano depende não apenas desses recursos, mas também do conhecimento que a humanidade acumulou sobre seus usos. Daí a importância de se lutar pela preservação conjunta dos recursos naturais, pela proteção da memória e de todas as manifestações que formam o patrimônio cultural de um povo. São as paisagens, os saberes e folclores criados e recriados através do tempo que formam heranças e acervos de valor inatingível. É por força da ética e da solidariedade que a crise ambiental planetária está extremamente ligada à crise cultural.
Mas voltemos à questão inicial: o meio ambiente também pode gerar felicidade. Aqui vale lembrar a Prêmio Nobel, Pearl Buck, que bem resumiu tudo isso. Muita gente, diz a escritora, perde a oportunidade de ser feliz porque fica aguardando a grande felicidade e desperdiça as pequenas alegrias.
Preservar o patrimônio cultural é preservar o meio ambiente. Mais: é dar oportunidades materiais a um povo e devolver-lhe a auto-estima. É fazê-lo feliz.

Summary

 The environment is so broad and wide spread that everything can be contained therein, including the search for happiness. People cannot be happy in a despoiled, depressing and disordered environment. Some time ago I worked on a project with the Ministry of Culture to garner, through the Rouanet Law, support for the Folha do Meio Ambiente. However, my efforts were in vain. The project was not approved under the allegation that the environment is not culture but rather education. I disagree. Please forgive me bureaucrats but the environment and culture are concepts that cannot be disassociated. It is useless to invest in one without taking the other into consideration.
In relation to this topic we have the main article of this edition which is about the Araripe Geopark. The term geopark is a new concept and was conceived by Unesco to distinguish protected areas that contain geological, paleontological points of interest and are of scientific and cultural interest.  This is very close to the concept of cultural landscape. To value a cultural landscape implies in giving value to the environment in which man has left the marks of his actions and forms of expression. It is the result of the sum of all expressions resulting from the interaction of man with nature and vice-versa.  The Public Civil Action Law enacted by the Attorney General’s Office regards the protection of cultural landscape as something very diverse, equating it to the environment, the consumer, the economic order, free trade or artistic, aesthetic, historic, tourist and landscape heritage. 
In the knowledge and defense of this fantastic heritage there should also be an ethical and united attitude, because the environmental concept of biological diversity is equal to the concept of cultural plurality. Ethics and solidarity extenuate exactly from living with and sharing opportunities among men and all of the other living beings. All natural resources are available to man, but there is an attitude, at least rational, that we only appropriate those that are undeniably indispensable for survival. Moreover, man depends not only on these resources but on the knowledge that humanity has complied about their uses. Thus, arises the importance of fighting for the preservation of all natural resources, for the protection of the memory and all expressions that form the cultural heritage of a population. They are the landscape, the knowledge and the folklore created and recreated over time that form heritages and collections of inestimable value. And, the cultural crisis is solidly based on the ethics and solidarity of the planetary environmental crisis.
But, let us return to the initial question:  can the environment also generate happiness?  We should remember here the words of the Nobel Prize winner, Pearl Buck, who summed all this up. Many people, said the writer, missed the opportunity to be happy, because they kept waiting for great happiness and wasted the small joys.
Preserving our cultural heritage is preserving the environment; moreover, it provides material opportunities to the people to help them build self esteem, and make them happy.    SG