Parque Nacional do Xingu

Terra indígena ameaçada

21 de março de 2007

Documentarista Washington Novaes, de volta à Terra Mágica, faz a denúncia em nova série para a televisão

Novaes: “Pude registrar não só as mudanças negativas ocorridas ao longo das duas últimas décadas, mas também belos e comoventes flagrantes de manifestações culturais mantidas bem vivas pelos quatro grupos indígenas


As aldeias foram invadidas por antenas parabólicas. Os pajés estão desaparecendo porque os jovens não querem mais saber da missão sacrificante. Hoje, assistem televisão, querem usar roupas de marca, tênis da moda, óculos escuros e – suprema ambição – passear de moto pela aldeia.
Batizada como “Xingu, a Terra Ameaçada”, a nova série de Washington Novaes será lançada em abril, sob o patrocínio da Petrobras, da Natura e da Ancine. Dividida em cinco programas, de 50 minutos cada, formará  um conjunto com os dez capítulos da série anterior, que serão exibidos novamente.
Washington Novaes também pretende relançar o livro “Xingu, Uma Flecha do Coração” e ainda publicar o diário da nova experiência. Com mais de 50 anos de vida profissional, Washington Novaes foi editor-chefe do Globo Repórter na época de ouro do programa, de 1977 a 1981. Desde então, iniciou sua bem sucedida trajetória como documentarista, ligado sobretudo às questões ambientais. Tem vários trabalhos premiados no Brasil e no exterior, como o próprio “Xingu”, o documentário “Amazônia, a Pátria da Água” e as séries “O Desafio do Lixo” e “Os Caminhos da Sobrevivência”.
 Mesmo transformado, o Xingu preserva sua magia. Penetrar nesse universo, segundo Washington Novaes, ainda exige “uma mudança radical de perspectiva”. Em 1984, ele mesmo experimentou essa mudança, durante um mergulho de dois meses no cotidiano dos grupos indígenas Waurá, Yawalapiti, Kuikuro, Txukarramãe (atual Mentuktire) e Kren-Akarore (hoje Panará).
Essa experiência resultou numa das mais belas séries de não-ficção já exibidas pela TV brasileira: “Xingu, a Terra Mágica”, projeto executado pela Intevídeo Comunicação, para a extinta Rede Manchete. A série, de 10 programas, foi aplaudida pelo público e pela crítica, chegando ao último capítulo consagrada por 20 pontos no Ibope em todo o País.
Com a série de Novaes, o Brasil conseguia enxergar sem preconceitos o mundo e a cultura do índio. Descobria encantado as crenças, os mitos, a organização social, o jeito de viver dos povos do Xingu.
O cacique Raoni se lançava para o mundo como porta-voz das nações indígenas.


Conversa com Washington Novaes


Nesta entrevista à Folha do Meio Ambiente o documentarista Washington Novaes fala sobre a nova expedição ao Xingu.


FMA- Como é conviver com os indígenas?
Washington Novaes – O encontro com o índio é um mergulho em outro espaço, em outro tempo, Um espaço aberto, de céu e terra, amplo, água e fogo. Um espaço colorido e pródigo, povoado por animais, vegetais, minerais e espíritos. 
FMA- Nesta segunda visita você percebeu diferenças no comportamento dos índios?
Novaes – Este ainda é um momento de coexistência das duas culturas, a do índio e a do branco. Graças a isso, pude registrar não só as mudanças negativas ocorridas ao longo das duas últimas décadas, mas também belos e comoventes flagrantes de manifestações culturais mantidas bem vivas pelos quatro grupos indígenas novamente documentados.
A Festa do Pequi, a Festa do Espírito do Beija Flor, a Dança do Papagaio, o Kuarup,  um ritual para agradar o espírito que roubou a alma de um rapaz,  a iniciação dos jovens com a “bateção” de marimbondos e uma  emocionante e espontânea reconstituição feita pelos Metuktire do momento histórico do primeiro contato com os irmãos Villas-Boas. Todos esses acontecimentos serão mostrados na nova série.
FMA- Como foi a preparação da equipe para o documentário?
Novaes – Eu consegui reunir compa
nheiros que partilharam as emoções da primeira aventura: Lula Araújo, como diretor de fotografia, e João Paulo Carvalho, como diretor de edição. Antônio Gomes, o Painho, técnico de som, não pode acompanhar a turma desta vez.
Entre os integrantes da equipe da nova série estão Siron Franco, diretor de arte; Pedro Novaes, diretor de produção; Marcelo Novaes, fotógrafo de still; Pedro Moreira, técnico de som; João Novaes e Cláudio Pereira, produtores executivos.
A equipe incorporou ainda, como assistentes de fotografia, dois jovens cineastas das aldeias Kuikuro e Panará: Marica Kuikuro e Paturi Panará, ambos treinados pelo projeto “Vídeo nas Aldeias” e com filmes já exibidos em festivais.