Serra Vermelha - Piauí

Troféu Motossera para desmatadores

26 de abril de 2007

300 ONGs saem em defesa do Parque Serra Vermelha num grande manifesto em Teresina

Troféu Motoserra 2007 foi para funcionários do Ibama e secretário do Meio Ambiente do Piauí.


 


 


 


A boa nova da criação do parque foi dada pelo Diretor de Áreas Protegidas do Mi-nistério, Mauricio Mercadante, que se pronunciou durante o painel sobre a Mata Atlântica no Nordeste, promovido pela Rede de ONGs da Mata Atlântica, em Teresina, dias 12 e 13 passado. A Rede, que congrega mais de 300 ONGs de todo o País, não tem medido esforços para proteger a Mata Atlântica, comprovadamente detectada na serra Vermelha. Ainda no Piauí, a Rede realizou uma manifestação pública com a entrega do documento ao procurador da República Tranvavan Feitosa e ao governador Wellington Dias. Os inimigos da serra Vermelha foram “homenageados” com o troféu Motoserra 2007.
O troféu é concedido anualmente a uma ou mais autoridades que praticam ações danosas ao meio ambiente. A escolha é feita pelo o conselho da entidade. Este ano, os contemplados foram os responsáveis pela liberação do desmatamento na serra Verme-lha. Foram considerados insensíveis gananciosos de egoístas. 
Ganharam o troféu Motossera 2007, o superintende do Ibama no Piauí, Romildo Mafra, o diretor técnico do Ibama no Piauí, responsável pelo projeto Energia Verde, o Secretário Estadual do Meio Ambiente, Dalton Macambira e o diretor de Florestas do Ibama, Tasso Azevedo. Juntos eles liberaram o primeiro lote de terra para a JB Carbon desmatar, 78 mil hectares, sem qualquer estudo da área.
Ambientalistas provaram que o projeto Energia Verde está recheado de falhas. Tantas que levaram ao procurador Tranvavan Feitosa, da Procuradoria da República, ingressar com Ação Civil Pública contra o Ibama e JB Carbon, questionando principalmente, a falta do Estudo de Impacto Ambiental e do Relatório-EIA/RIMA como também a comprovação da origem da terra. Tudo indica que são terras griladas.
Segundo os próprios ambientalistas, o caso da Serra Vermelha veio à tona a partir da denúncia publicada na Folha do Meio Ambiente, na edição de dezembro passado. As imagens da destruição da floresta chocaram a sociedade brasileira e as ONGs que atuam no Nordeste. Foi então que os ambientalistas de todo o País que começaram uma mobilização para salvar Serra Vermelha. Localizada entre os municípios de Bom Jesus, Redenção do Gurguéia, Morro Cabeça no Tempo e Curimatá, a Serra Vermelha é um ecossistema especial. No seu interior, os biomas Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica se encontram e ce-lebram a harmonia interligando-se gerando e alimentando vidas selvagens. Tudo, em meio a uma paisagem de tirar o fôlego, de levar brilho aos olhos e encantar a alma.             As riquezas biológicas da serra Vermelha ainda são desconhecidas da ciência. Em uma rápida passagem na sede do projeto foi possível observar árvores centenárias, algumas, como a Aroeira, Pau d?arco, Angico e tantas outras, que eram derrubadas por motoserras conduzidas por mais de 200 homens trazidos do sertão do Piauí, Maranhão e Bahia. Para transformar a mata em carvão foram erguidos 300 fornos gigantescos. A meta da empresa era de construir três mil fornos.
Em relação à fauna a empresa JB afirma que não haverá prejuízos, pois ela sairá por uns tempos para depois retornar. Em um dia circulando pela área trabalhada observamos dezenas de bichos mortos. O professor do Museu de Zoologia da USP, Hussam Zaher, que já pesquisou próximo à Serra, assegura que o fato da área apresentar características singulares promete descobertas significativas. No segundo semestre deste ano, uma equipe do museu, incluindo especialistas em anfíbios, mamíferos e aves vai desembarcar na floresta para iniciar as primeiras pesquisas cientificas na região.


Serra Vermelha


A grande reivindicação do movimento ambientalista é a criação de uma nova unidade de conservação no Piauí: o Parque Serra Vermelha. A área, de 273 mil hectares,  está localizada nos limites dos municípios de Bom Jesus, Curimatá, Redenção do Gurguéia e Morro Cabeça no Tempo. Segundo o presidente da ONG Fundação Rio Parnaíba, Francisco Soares, as ameaças constantes ao bioma tem um motivo: o pedido do Conama que solicitou ao MMA a formação de uma força tarefa para visitar a área  piauiense para criação do parque.
Além do desmatamento, o tráfico de madeira e de animais silvestres é uma prática que ocorre há décadas naquela região. Atualmente, a área vem sendo reivindicada por uma multinacional que pretende instalar o projeto “Linha Verde”, que consiste na substituição do Cerrado pelo eucalipto para o fornecimento de lenha para a indústria de ferro gusa.
Para o presidente do Sindicato de  Trabalhadores Rurais de Curimatá, Elias Ribeiro da Silva “esse projeto já começou a fazer muitos estragos. Os brejos e as lagoas dos baixões, que são alimentados com água que vem da Serra Vermelha, já começaram a secar”. O presidente do Sindicato dos Engenheiros Agrônomos do Piauí, Avelar Amorim, vai mais longe e sua maior preocupação é que o projeto se encontra numa área de recarga, ou seja, recebe água da chuva e alimenta o lençol freático. Avelar conclui com ênfase: “Foi extremamente precipitada a liberação das licenças de instalação e desmatamento dados pela Secretaria de Meio Ambiente do Piauí e pelo Ibama”.