Ciência & Tecnologia

Pesquisa na Amazônia: desafio nacional

20 de julho de 2007

SPPC mostra que a Amazônia está na encruzilhada do desenvolvimento

A questão é: o conhecimento científico pode ser o caminho em busca do desenvolvimento sustentável para se tirar da exclusão social as populações rurais na Amazônia brasileira? A resposta desafia, há décadas cientistas, ambientalistas e acirra o debate entre políticos, governantes e dos movimentos sociais na região Amazônica.


A certeza que o mercado possa de ser o regulador da filosofia do desenvolvimento sustentável e a agregação de novas tecnologias seria a redenção dos problemas ambientais resultem na diminuição das desigualdades sociais tem levantado muita polêmica entre pesquisadores e estudiosos.
O evento da SBPC aguçou a discussão entre os movimentos ambientalistas, cientistas, pesquisadores e estudiosos da biodiversidade da maior floresta tropical do mundo, que ocupa cerca de 60% do País e expôs a universidade brasileira na era do conhecimento consolidando o debate sobre o valor da floresta e a sobrevivência das populações rurais e urbanas na Amazônia.
Floresta em pé
A filosofia da sustentabilidade aliado ao desenvolvimento confrontado na seara dos cientistas amazônicos, reforçou a idéia que estamos numa encruzilhada. “Sim, estamos numa encruzilhada. O conceito sustentável não existe como teoria. O que existe é uma grande panacéia que vem sendo colocada com um alto grau de obscurantismo”, argumenta o pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, Alfredo Kingo Oyama Homma, que coordenou o Simpósio “Valor Econômico da Floresta em pé”. O simpósio contou, ainda, com os cientistas Samuel Soares de Almeida (MPEG) e Charles Roland Clement (INPA) como debatedores.
Homma é um crítico do modelo extrativista da forma como se quer implantar na Amazônia. Esta “opção extrativista é uma estratégia de ONGs articulada com governos e instituições de países do primeiro mundo”. Segundo o pesquisador “o extrativismo teve no passado alto grau de importância, mas no presente a questão envolve mercado e o setor extrativista tem que estar estruturado para atender essa demanda e ter estratégias de como mantê-lo”.
Está aí o exemplo a Castanha do Pará que tem há anos sua produção estagnada em 60 mil toneladas. “O que nos falta são opções tecnológicas”.


“O extrativismo teve no passado alto grau de importância, mas no presente a questão envolve mercado e o setor extrativista tem que se estruturar para atender essa demanda”.


Alfredo Homma


Tecnologia tem espaço
O pesquisador Homma afirma que “o conhecimento científico teve um grande avanço, entretanto, o pesquisador e as instituições ainda caminham na retaguarda em relação à velocidade com que ocorrem os desmatamentos e queimadas na região”. Por isso, “defende a integração de órgãos como contribuição concreta as necessidades do desenvolvimento”.
Homma argumenta que “os institutos de pesquisa não conseguem atender as questões do desenvolvimento para a região”.
E, “classifica de mito o estoque de tecnologias nas prateleiras enfatizando que tecnologia boa não precisa de propaganda”.


 


“A exploração econômica dessa biodiversidade humana, hoje contribui com menos de 1% do PIB brasileiro, mesmo a Amazônia abrigando 60% do território nacional”.


Charles Roland Clement


Floresta em pé
O pesquisador Charles Roland Clement do INPA, estudioso em Ciências Agrônomicas é defensor “que a floresta em pé vale muito mais”. Clement durante a reunião da SBPC afirmou “que uma das alternativas para combater o desmatamento é o melhor aproveitamento da biodiversidade amazônica”.
O cientista Clement disparou ácidas críticas sobre a questão da falta de conhecimento da sociedade brasileira sobre o valor da floresta amazônica e provocou agitação no meio acadêmico quando declarou “que a floresta amazônica está sendo derrubada de forma acelerada porque tem pouco valor na percepção da atual sociedade brasileira, mesmo que parte dos formadores de opinião afirme ao contrário”.
Segundo Clement, a “exploração econômica dessa biodiversidade humana, hoje contribui com menos de 1% do PIB brasileiro, mesmo a Amazônia abrigando 60% do território nacional”.
Dados do MMA confirmam que dos R$114 bilhões do PIB amazônico, apenas R$ 9 bilhões são gerados pela biodiversidade.



BR-163: Cuibá-Santarém
Outra questão: é sustentável o desenvolvimento da BR-163, a Cuiabá-Santarém? Considerada a última fronteira agrícola da Amazônia a questão foi alvo de debates na reunião da SBPC.
Ao longo da rodovia federal que corta os estados do Pará e Mato Grosso 30% já foram  desmatados por madeireiros, pecuaristas, agricultores, sojeiros e grileiros. O governo reagiu criando um mosaico de Unidades de Conservação para frear o desmatamento na região e está implementando ações com base no Distrito Florestal Sustentável.
O DFS foi criado pelo Serviço Florestal Brasileiro-SFB órgão vinculado ao MMA, para explorar de forma racional os recursos naturais ao longo da BR-163 nas chamadas florestas nacionais (Flonas) de produção para atender basicamente o setor florestal dos estados do Pará e Mato Grosso. Alguns pesquisadores acreditam que o mosaico de áreas protegidas é importante para manter a biodiversidade.
O Zoneamento Ecológico-Econômico a ser implementado pelos governos estaduais com o aval do governo federal com base no ordenamento territorial é o primeiro passo neste sentido. O objetivo é por fim ao caos fundiário e às queimadas ilegais nos 19 municípios ao longo da BR-163, que no período de 1996 – 2006 foram responsáveis por 45% dos focos de calor no chamado arco do desflorestamento na Amazônia – nordeste do Pará até o sul do Amazonas.