Folha do Meio Ambiente

No decorrer do Projeto 7 Rios, iniciado em maio de 2006, a equipe de Gerard e Margi Moss rodou mais de 34.800km. Trinta mil deles de carro para alcançar os sete rios selecionados. O restante, no barco do projeto. Só para efeito de comparação, é bom lembrar que o a circunferência da Terra na linha do Equador é de 40.075km. Portanto, a equipe quase que deu a volta ao mundo. Segundo Margi Moss, ainda hoje há lacunas nas informações disponíveis sobre os rios, com respeito à posição das nascentes e às extensões totais. Isto considerando os sites e bancos de dados oficiais. Para Margi, a dinâmica de um rio o faz mudar constantemente de curso, podendo cortar o caminho ou formar uma nova curva, por exemplo. A verdade é que a tecnologia avançou tanto que com uma ferramenta de precisão, como o Google Earth, hoje se pode medir um rio com mais exatidão. E mais: sem sair do escritório. A dupla Margi e Gerard Moss faz questão de frisar um problema comum a todos os rios brasileiros: o despejo de esgoto sem tratamento. “E este é um problema que já tem solução – lembra Gerard – a um custo que pode ser considerado um investimento e não uma despesa, visto que repercute diretamente na saúde da população, sobretudo dos ribeirinhos”.

OS SETE RIOS PESQUISADOS
Conclusão do trabalho feito nos sete rios, na ordem em que foram percorridos. Conheça suas principais características:

——————————————————————————————————

Araguaia (GO/MT/TO/PA)
Percorrido em maio e junho de 2006

Nascente: Serra do Caiapó 
Foz: rio Tocantins 
Extensão: 2.170 km 

O Araguaia, mais do que qualquer outro rio brasileiro, é a paixão dos seus ribeirinhos. É cada vez mais procurado pelos turistas, especialmente no mês de julho por suas belíssimas praias e ilhas de areias brancas. A pesca esportiva também traz turistas o ano todo, menos nos meses do defeso. Há uma proposta da senadora Kátia Abreu (TO) de criar o Rio Parque, que reflete uma sugestão do projeto Sete Rios: preservar o Araguaia como rio vivo para a posteridade, com toda sua biodiversidade, suas enchentes, seu fluxo natural, para que as gerações futuras possam ter a oportunidade de conhecer um rio de verdade.

Ameaça ao rio – explosão de travessões e corredeiras para construção da hidrovia.
Problemas – eliminação da mata ciliar e assoreamento.
Ameaça à qualidade da água: esgoto não tratado e lixo dos acampamentos.

——————————————————————————————————

Grande (BA)
Percorrido em setembro de 2006

Nascente: Serra Geral de Goiás  
Foz: rio São Francisco 
Extensão: 630 km

O rio Grande se destaca pelas águas azuladas que percorrem paisagens secas do sertão e da caatinga. Nasce em terras altas outrora cobertas de cerrado, onde hoje predominam os campos de algodão e soja, produtos do boom dos municípios nas cabeceiras do Grande, um contraste marcante com a pobreza dos ribeirinhos que habitam às margens do Baixo Grande, onde predomina um clima mais seco. Na época em que foi percorrido o rio, as amostras indicaram que boa parte das águas é limpa.
 
Ameaça ao rio – uso excessivo em pivôs de irrigação, com desperdício de água. 
Problemas – caída do nível da água e assoreamento.
Ameaça à qualidade da água: esgoto não tratado e agrotóxicos.

——————————————————————————————————

Ribeira (PR/SP)
Percorrido em novembro de 2006

Nascente: Encontro dos rios Açungui e Ribeirinha 
Foz: Oceano Atlântico   
Extensão: 440 km

Nasce no Paraná e percorre principalmente o estado de São Paulo. O rio se encontra em condições preocupantes, tanto pela qualidade de suas águas, como pelas ameaças que sofre. É o maior rio vivo (ou seja, sem barragens) que ainda corre solto por terras paulistas. O Ribeira ainda passa por um vale profundo onde há as maiores áreas remanescentes de Mata Atlântica de todo o Brasil. O vale hospeda vários parques federais e estaduais, sendo muito procurado por turistas de várias categorias: esportes radicais, rural, contemplativo, histórico e cultural.

Ameaça ao rio – construção da UHE Tijuco Alto.
Problemas – eliminação da mata ciliar 
Ameaça à qualidade da água: esgoto, agrotóxicos usados nos bananais, criação de búfalos do Baixo Ribeira

——————————————————————————————————

Miranda (MS)
Percorrido março de 2007

Nascente: Encontro do Rio Roncador com o Córrego Fundo. 
Foz: rio Paraguai   
Extensão: 760 km

O percurso do rio Miranda se divide em duass partes bem distintas: percorrendo as terras mais altas entre margens altas e, a partir de Miranda, entrando na planície do Pantanal, onde as margens são baixas ou inexistentes. Há apenas três cidades nas margens do rio (Jardim, Guia Lopes e Miranda). Numa iniciativa laudável, o Ministério Público de Bonito está catalogando todas as propriedades ao longo do rio para colocar em marcha o processo de restauração das matas ciliares e reservas legais nessas propriedades. Em alguns afluentes do Miranda, como o Formoso e o Salobra, está totalmente proibida a pesca.

Problemas – sobrepesca e pesca predatória.
Ameaça à qualidade da água – esgoto doméstico
Ameaça ao rio – desmatamento e uso de agrotóxico nas plantações.

——————————————————————————————————

Ibicuí (RS)
Percorrido em abril de 2007

Nascente: Encontro dos rios Toropi e Ibicuí-Mirim 
Foz: rio Uruguai   
Extensão: 390km

O Ibicuí é um belo rio gaúcho. É o maior afluente da margem brasileira do rio Uruguai. De fundo arenoso, corta os campos sulinos e apesar de apresentar belas dunas e praias, ainda é pouco procurado pelos turistas. Há apenas uma cidade em suas margens (Manoel Viana) e em quase toda sua extensão, passa por lavouras de arroz irrigado, principal produto da região. 

Problemas – assoreamento, baixa do nível das águas
Ameaças à qualidade da água  – esgoto, lixão municipal nas margens do Ibicuí-Mirim

——————————————————————————————————

Verde (MT)
Percorrido em maio de 2007

Nascente: Serra Azul 
Foz: rio Teles Pires   
Extensão: 525 km

O rio Verde percorre uma região da nova fronteira agrícola, tendo sofrido vastas áreas de desmatamento e instalação de lavouras de soja e grãos nos últimos vinte anos. Porém, em quase toda sua extensão, o rio conta com uma boa faixa de mata ciliar, refletido ainda na clareza de suas águas. Há apenas uma cidade nas margens do rio, Lucas do Rio Verde. A Secretaria de Agricultura e Meio-Ambiente lançou o projeto Lucas do Rio Verde Legal – já premiado – num valente esforço de se tornar um município sem passivos ambientais e sociais.

Problemas – sobrepesca e pesca predatória.
Ameaça à qualidade da água – esgoto doméstico, novas instalações industriais. 
Ameaça ao rio – Desmatamento e assoreamento.

——————————————————————————————————

Guaporé (MT/RO)
Percorrido em junho de 2007

Nascente: Serra dos Parecis 
Foz: rio Mármore.  
Extensão: 1.470 km

Um rio excepcional por unir tantos biomas, o Guaporé ainda apresenta águas limpas. Pouco impactado por cidades ribeirinhas e ainda com boa parte de suas matas ciliares intactas, as ameaças comum a outros rios brasileiros estão apenas começando a chegar à região. A sobrepesca tem reduzida estoques pesqueiros ao ponto do governo de Rondônia proibir totalmente a pesca profissional em boa parte do rio que passa por seu território.

Problemas – sobrepesca e pesca predatória.
Ameaça à qualidade da água – esgoto doméstico, novas indústrias (frigoríficos) e mineração.
Ameaça ao rio – assoreamento