Semana da Árvore

Dia da Árvore marca o início da Primavera

25 de setembro de 2007

Em meio a tantas comemorações e homenagens pelo Dia da Árvore, os brasileiros assistem, impotentes, a tantas queimadas e incêndios florestais.

É justamente esse significado divino, milagroso e até mágico, que dava à árvore – na Antigüidade – um caráter divino. Os romanos, para atrair felicidade, colocam no Ano Novo um ramo de louro à porta da casa e na cabeça de seus heróis.
Os hebreus derramavam óleo vegetal sobre a cabeça dos ungidos do Senhor. Os gregos e romanos consagravam bosques e árvores a seus deuses. Se para os chineses e hindus certas árvores eram identificadas como a origem da vida, até a Bíblia fez do paraíso uma floresta com a árvore do bem e do mal.
Os seguidores de Jesus Cristo celebraram sua entrada triunfal em Jerusalém com ramos de palmeira.


Origem das comemorações
Mas, afinal de contas, quando começou na Era contemporânea essa idéia de festejar o Dia da Árvore? A primeira notícia tem data de 1872, no estado norte-americano de Nebraska, quando o governador Helin Morton dedicou o dia primeiro de junho para uma festa pública de plantio de árvores. A iniciativa foi um sucesso e em pouco tempo a idéia foi se espalhando por outros cantos dos Estados Unidos. Não demorou muito para ser imitada por outros países.


A tetralogia da vida 


Por  Johan Dalgas Frisch


Água e árvore, desde o sempre, foram e são os elementos fundamentais da vida. Há milhares de anos, na era mesozóica, a árvore é básica para a renovação do oxigênio na Terra, foi alimento para os dinossauros vegetarianos e um bom esconderijo para os carnívoros.
Para o homem das cavernas, a árvore era proteção e  fonte de energia, pois ela lhe proporcionava o fogo.
Depois, de acordo com cada espécie, a árvore e seus frutos passaram a ser alimento de homens e aves. Posteriormente, ela deu aos homens e aves, também, o melhor de seus abrigos: madeira para construção de suas moradas, em casas e ninhos.
A árvore é a mãe da floresta e as florestas são produtoras de chuva, abrigos para insetos, répteis, fungos e mamíferos e a grande protetora dos solos.
Sem árvore o mundo seria um deserto inóspito e com temperaturas elevadíssimas durante o dia e frio intenso à noite .
A árvore é a parte mais importante da cadeia alimentar para uma infinita espécie de animais, com seus frutos, flores, raízes e folhas. Árvore, Água, Ar e Ave formam uma tetralogia que, tal qual a primeira letra do alfabeto, todas palavras também são também, pela necessidade e pela beleza, a primeira natureza dos seres vivos.


Deveria ser um bonito dia de sol…
Trombadinhas de rua roubam só nossas bolsas, enquanto bandidos engravatados assaltam nossa consciência e roubam nossos sonhos


Por Astomiro Romais –  [email protected]


Deveria ser um bonito dia de sol, céu azul, prenúncio de primavera. Sabiás, saracuras e outras dezenas de aves raras saúdam o dia por entre os galhos densos das mais de 160 árvores nativas da vegetação espessa da Corte Real, próxima ao número 100. Mas eis que, de repente, roncam e bufam máquinas que, tingindo de fumaça negra o azul do céu, avançam impávidas por sobre o verde. De cambulhada vão convertendo tudo em destroços: árvores imponentes vão abrindo cicatrizes na terra, o fragor dos ferros as tombam impiedosamente, raízes e troncos expostos como o vale de ossos secos do profeta Ezequiel. Ninhos despencam sob o olhar incrédulo e nervoso dos pássaros. Enquanto o roldão esmagador vai reduzindo tudo a nada, corro ao telefone. O coração de Porto Alegre, povoado de gente civilizada, não pode admitir uma cena dessas.


É o chamado crime legal. Está tudo autorizado. Quem deveria proteger, ampara a devastação


 


 


 


 


 


Estamos no século XXI. Mal consigo falar, porque as máquinas vociferam e as motosseras fazem uma zoeira infernal. Na Brigada Ambiental uma voz sonolenta informa não haver nenhuma viatura disponível. E me deseja bom dia. A destruição prossegue. A fera de cor vermelha, cada vez mais voraz, carcomendo tudo e pisoteando o bagaço.
Busco na Internet o socorro do Greenpeace: de São Paulo a gentil senhorita me diz que não há escritório em Porto Alegre. Nada a fazer. Ligo para a Prefeitura, onde me encaminham para a Secretaria do Meio Ambiente. Disco desesperado: uma, duas, três, dez vezes. Ninguém atende. Repito o procedimento: nada! Câmera em punho, ainda fotografo cenas da natureza em agonia, para mostrar aos meus netos o que os homens fazem com o presente.
A destruição continua.
Uma solitária arquiteta, de quem sei apenas chamar-se Ana, de súbito escala a concha da máquina devoradora. Aguerrida, corajosa, de uma enorme estatura moral, num autêntico brado heróico pára as máquinas. Mas o estrago está feito.  Não há como devolver vida ao que está morto.
Aos poucos chegam as autoridades: o engenheiro da obra, terno alinhado, gravata e suéter impecáveis, salta faceiro por sobre o seu butim de troncos feridos. Um advogado, talvez terno Armani, vem a seguir conferir a pilhagem da tropa, mostrando sua calvície, seus sapatos de verniz de bico longo e a sua  arrogância. Bem nascidos de punhos de renda – ou com uma visão limitada às dimensões de um contracheque –  expõem a lei por sobre as raízes expostas, vomitam códigos, ameaças e desaforos.
Cerca de quatro horas e dezenas de árvores depois, aparece um representante do poder público: vem de carro branco oficial, altivo, giroflex sobre o teto. Seu jaleco ostenta caprichosamente bordadas as iniciais SMAM. Nas costas reza “Proteção Ambiental”, em letras garrafais. Abre dobras e desdobra  papéis que traz sob o braço e diz – surpresa nossa –  que o crime é legal. Tudo autorizado. Quem deveria proteger não protege; ao contrário, ampara a devastação. Quem deveria punir não pune, apóia o atentado. Quem deveria preservar, não preserva, dá suporte à destruição. Triste Brasil!
Para que serve então? Penso com a minha carreira de botões. Engulo em seco. A autoridade que permite tamanha atrocidade deveria ser presa. Seus técnicos algemados. Todos. Punidos exemplarmente em praça pública com infinitas chibatadas, para nunca mais atentar contra a humanidade.
Os solitários protestantes – Elaines, Anas, Marias, Janetes – premem freneticamente os números de seus celulares, zapeando esperanças. Talvez o Secretário da SMAM venha.
Não vem. Deve estar em seu gabinete, ar-condicionado, café quente e refrigerante gelado, despachando e assinando papéis sobre meio ambiente. Ou escrevendo em seu notebook de alta tecnologia um discurso sobre a preservação da Amazônia. Talvez um promotor, um juiz, uma autoridade, alguém com uma liminar apareça. Ninguém! No vazio das vozes que deveriam falar, as máquinas roncam outra vez.
Chega a Brigada Ambiental, o “efetivo”, com pompa e circunstância. Quase meia dúzia deles, aparato de guerra. Empunhando armas pesadas, coletes à prova de balas, estão empacotados e enrolados por cinturões de cartuchos que brilham ao sol daquela tarde triste. Finalmente haverão de parar as máquinas e prender os criminosos, imagino.
Engano de um ingênuo que parece desconhecer a força do capital. A lei está do lado dos infratores. Nós, os não pragmáticos, é que somos colocados em fila indiana e, sob o bico das armas, expulsos do local. Como bandidos. Ignorantes que não entendem de lucro. Enquanto marchamos em silêncio para a rua, os mocinhos continuam a obra, máquinas fumegam e estrugem, motosserras roncam sob o olhar complacente das autoridades constituídas. Na calçada, já não nos resta nada. Nem uma migalha de dignidade. Ana chora. Abraço-me a ela e choro também. As lágrimas têm gosto de indignação e, também, de pesar pela humanidade.
Volto pra casa. Passei a noite em claro, com uma dor fina e lancinante espetando o peito. Na cabeça, como um rato corroendo meu crânio, só uma idéia: os trombadinhas e meliantes de rua roubam só nossas bolsas, celulares e alguns trocados. Os bandidos engravatados assaltam nossa consciência, roubam nossos sonhos e assassinam nosso futuro. Olho mais uma vez pela janela. Vejo os pássaros sobre o muro saltitando nervosos diante do nada.