Um rio que morre

23 de outubro de 2007

Rios, cidades e o povo estão perdendo a visão das garças cor de paz


Para Joinville, o rio Cachoeira é um símbolo histórico, que auxilia a formação de outros pontos turísticos da região.  Infelizmente, há um negro murmúrio cascateando seu curso urbano. 
Suas margens acumulam o pesadelo do presente, impedindo o desembarque do passado. Suas águas colonizadoras, que já sustentaram vários tipos de embarcações tornaram-se plebéias nesta terra principesca, adormecendo nos mangues por medo de atingir o mar. Águas que ameaçam os animais aquáticos e sua cadeia alimentar.
O mar nem sempre aceita as dádivas deste rio, devolvendo a correnteza de luto através das marés, espalhando-a muitas vezes pela cidade.
Os habitantes reclamam, mas ignoram a realidade da causa.
Quando chove, o rio veste-se cor de terra para disfarçar a sua negritude. Garças cor de paz, teimosamente, procuram seu sustento nas águas violentadas e como o alimento é raro, fogem para outros lugares.
O rio, a cidade e a população estão perdendo a visão das garças cor de paz.
Artifícios tentam ressuscitar as águas que gratuitamente trouxeram vida ao lugar e saciaram a sede do homem, do gado e das plantas. Águas que verdejaram colheitas e foram confidentes dos namorados e musa dos poetas.
Águas intoxicadas de lixo, veneno e podridão. Nas margens, onde desembarcaram os primeiros colonos imigrantes, forma-se uma lápide com o nome da população: dos homens, mulheres e crianças.
Este rio, protagonista de belas histórias e que já foi utilizado para o escoamento da produção de várias regiões, está morrendo. Uma morte que se arrasta desde muitas décadas. É uma questão de tempo para que entre na história do “Era uma vez….”.


O rio, a cidade e a população estão perdendo a visão das garças cor de paz. Tentam resussitar águas que verdejaram colheitas e foram confidentes dos namorados e musa dos poetas