Fronteira do boi discute nova matriz produtiva
22 de novembro de 2007Seminário na fronteira gaúcha com o Uruguai debate alternativa polêmica: mais força para a Silvicultura
A silvicultura foi o centro das discussões, como saída econômica para gerar emprego e renda na região de fronteira RS/Uruguai
A silvicultura foi o centro das discussões, como saída econômica para gerar emprego e renda na região de fronteira do Rio Grande do Sul. A verdade é que, para alguns técnicos agrícolas, o setor pode ser o novo “boom’ depois do binômio soja e trigo.
Os defensores do florestamento falam entusiasmados na mudança da matriz produtiva do estado: da criação de gado para asilvicultura. Mas, José Lauro de Quadros, diretor da Ageflor (entidade que congrega as empresas de reflorestamento) não vai tão longe: ele defende uma convivência pacífica entre os setores produtivos agro-silvi-pastoril, para diminuir a pobreza e buscar melhores alternativas econômicas para a região. Cita países altamente desenvolvidos que destinaram grandes áreas ao setor florestal como a Finlândia com 60% do seu território dedicado ao setor; a Suécia com 58%; o Canadá com 28%; a Áustria com 40%, os EUA com 21% e por outro lado o Brasil com 0,7% .
Bioma Pampa
A vocação natural do Estado gaúcho é o pastejo para o gado, defende o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Paulo César de Faccio Carvalho, convidado como painelista do evento. Para ele, a formação campestre é dominada por gramíneas, há 14 mil anos, e tem de importância singular.
Ocupa a porção meridional do estado, abrange 63% do seu território, com 385 espécies de pássaros, com mais de 40 tipos de gramíneas, muito rico e complexo. Espécies de inverno convivendo com as de verão, uma riqueza particular do Bioma “que também está ameaçado como outro do Brasil” afirma.
As ameaças ao Bioma se concentram na expansão da fronteira do Planalto Médio com a soja e o florestamento indiscriminado.
A invasão biológica pelo capim Anoni – semente importada da África do Sul, entre outros. Há processos de arenização como deserto de São João em Alegrete, ao mesmo tempo o acesso a terra tem um enfoque produtivista e punitivo.
A questão colocada para reflexão é “quanto de campo podemos manter preservado?. Quando hoje já se fala em composição de paisagem, o dilema é produção versus conservação”. Paulo César de Faccio Carvalho lembra que depois de 1996, mais de 400 mil hectares de terra entraram em ritmo de degradação, em função da expansão agrícola da soja que era plantada na metade norte do estado e esta vindo para o sul-questiona-se se a silvicultura não terminará por devastar o que ainda resta do estado.
No meio científico há um aparente consenso: necessidade de se criar mais unidades de conservação, fomentar a pesquisa em biodiversidade e conscientizar a sociedade sobre a vulnerabilidade do Bioma.
Paulo César, que também é consultor da FAO – órgão das Nações Unidas para a Alimentação – tem sua opinião pessoal sobre a questão da expansão da silvicultura no estado- sugere que as empresas de analisem a possibilidade de aproveitamento das áreas já degradadas no estado, pelo plantio exaustivo da soja, recuperando esse solo para posterior florestamento.
Salientou a importância da participação e discussão da sociedade gaúcha em torno do tema – pois pela primeira vez estamos discutindo o que é ambientalmente sustentável ou não, diferente de outras épocas, quando o plantio da soja sequer foi questionado.
Rivera, no Uruguai
A Universidade Federal do Pampa, que participou do evento, deverá elaborar um projeto junto com ONGs ambientais e diversos setores da sociedade, visando colocar em bases científicas a discussão. Mas, lembrou o delegado do trabalho no Rio Grande do Sul, Heron Oliveira, que a geração de trabalho e renda para a metade sul é urgente, e citou a cidade sede do evento – Livramento – como um exemplo do crescente desemprego (cerca de 20 mil desempregados e pouco mais de 200 empregos com carteira anualmente).
O participantes uruguaios lembraram que na vizinha cidade de Rivera há muito tempo existem empresas de florestamento instaladas e isto não significou uma melhoria na questão da empregabilidade, mesmo sendo aquela cidade a capital de um departamento uruguaio. Cláudio Milan, do Partido Verde, em Livramento confirma o alto índice de desemprego na vizinha Rivera, o que faz pensar que não é possível apostar em apenas um setor da economia para a melhoria da qualidade de vida, visando a sustentabilidade com preservação ambiental.
Zoneamento Ambiental
O estudo técnico liderado pela Fepam (órgão ambiental do RS) foi duramente criticado pelos que defendem a expansão da silvicultura no estado. O estudo técnico estabelece as limitações para o plantio florestal no estado conforme a região e os possíveis impactos ambientais causados pela exploração da atividade. O zoneamento divide o estado em 45 Unidades de Paisagem Natural (UPN), e estabelece diferentes limites para o plantio de árvores em cada uma delas.
UPN- Uma unidade de paisagem natural é uma região do território gaúcho com características naturais semelhantes, capazes de serem utilizadas como unidades para gestão ambiental. A conclusão do estudo apresentou três graus de restrição ao plantio florestal nas diferentes Unidades de Paisagem:
Alta Restrição
Plantio florestal proibido ou em pequena escala, inclui 17 UPNs do Estado. Exemplo: região do Planalto de Uruguaiana;
Média Restrição
Congrega 16 UPNs, plantio permitido entre 25 a 50% da gleba. Exemplo: cabeceiras dos rios Jaguarão e Candiota;
Baixa Restrição
Permitem um percentual maior de plantio (50% das glebas. Exemplo: serras de Tapes e Herval