Para inglês ver – introdução de peixes de águas paradas

25 de dezembro de 2007

Peixe também pesca voto

Segundo Dalgas, em 1974, a APVS pesquisou e constatou que as barragens do Centro-Sul estavam impedindo esse processo natural. Pior: os técnicos da época, responsáveis pelo equilíbrio ecológico dos reservatórios, não estavam interessados em fazer o “dever-de-casa”, ou seja, garantir os estoques das espécies nativas. Explica-se. Numa manobra “para inglês ver”, faziam o repovoamento com espécies de peixe de água parada, oriundas de outras bacias brasileiras, mas principalmente de paises distantes da África e Ásia. Por esse motivo a tilápia e a piranha branca faziam a festa por aqui.

  

Dalgas Frisch lembra que os norte-americanos tinham em alta conta  iniciativas de repovoamento de suas barragens com espécies nativas a ponto de os governantes daquelas localidades serem eleitos e reeleitos apenas pelo fato de estarem preservando a ictiofauna local.
“Esse fato me impressionou bastante. Depois de passar pelos Estados Unidos para ver isto de perto, voei para o Canadá. Fui até Saint Jones, onde conheci a hipofisação, ou seja, a reprodução artificial dos salmões com aplicação de hormônios naturais nas fêmeas. O objetivo era usar a técnica de induzir a desova, além da coleta e congelamento de sêmen dos machos. Era o mais moderno que havia no mundo”, diz.
A APVS também foi estudar o assunto no sul da Argentina e na Terra do Fogo, onde conheceu um interessante trabalho de introdução de trutas em lagos mortos existentes na região. De volta ao Brasil, de posse dos novos conhecimentos adquiridos e com um grande desafio pela frente, o de “descobrir a maneira de fazer tudo aquilo funcionar rapidamente para as espécies de piracema de água doce nativas da fauna brasileira”, Dalgas foi direto para Campos do Jordão (SP). Lá o engenheiro agrônomo Kyoski Koike dirigia um criadouro de trutas em cativeiro.

As pesquisas
de von Ihering
Kyoski Koike realizava, em Campos do Jordão, experimentos de fecundação artificial com dourados, seguindo os passos do mestre da piscicultura brasileira, Rodolpho von Ihering.
Em 1930, Ihering havia provado cientificamente a imensa capacidade de reprodução dos dourados e piracanjubas, peixes que produzem cerca de um milhão de ovos na época da cheia dos rios, entre novembro e fevereiro. Foi Ihering quem constatou que, na natureza, menos de 0,2% desses ovos eram fecundados, mas por meio da hipofisação cerca de 90% conseguiam vingar. Da fase larval ao estágio de alevino (filhote de peixe), a sobrevivência, como se sabe hoje, cai para algo em torno de 15% a 20%.
Vale registrar que, já naquela época, cientistas no Hemisfério Norte buscavam com afinco uma solução para salvar os peixes de piracema, pois as hidrelétricas “pipocavam” em todos os países. A única saída para a preservação dos peixes nativos seria a reprodução artificial.