Ponto de Vista

Minha floresta amazônica

24 de abril de 2008

“Minha floresta foi densa e deusa. Hoje pede socorro, tamanha é a degradação. Minha música me fez caminhar o mundo sem deixar esquecer meu céu amazônico”.

Beto Barbosa, de Belém


Já ouvi histórias como boto cor-de-rosa a seduzir e engravidar mulheres, matita-pereira e cobras gigantes que viravam barcos e degustavam pescadores. Muitas histórias ouvi cercado pela brisa intocável daqueles tempos.
Naveguei em terras selvagens, cresci vendo a beleza da diversidade. Cresci com a chuva de todos os dias e as mangas que caíam com seus temporais. Cresci respeitando as nuvens carregadas de energia a provocar raios e trovões como se fosse Tupã.
No cais do porto, perdia-me no infinito com a exuberante ilha do Marajó a guardar segredos medicinais. Sua magia me fazia tremer pelo agitado e barrento Rio Guamá. Ao pôr-do-sol, postava-me a observar, com curiosidade o poder de sua floresta. Suas águas de rio doce faziam de minha querida Belém a cidade das mangueiras e das possibilidades.
Assim, um dia foi nossa floresta. Densa e Deusa que hoje pede socorro tamanha é a degradação. Minha música me fez caminhar o mundo sem me deixar esquecer meu céu amazônico.
Estou em Belém. Tirei uns dias de março para ver meu querido Pará. E quero que minhas impressões cheguem aos leitores da Folha do Meio Ambiente. A chuva já não é a mesma. As mangueiras apodrecidas pelo tempo se foram e novas não foram replantadas. Os clarões em suas ruas aos poucos foram tirando espaço dos túneis verdes. Naqueles tempos, pouco se via o céu e o sol, tamanha grandiosidade e beleza das árvores, sempre majestosas, no centro da cidade.
Novas eleições vêm aí. Em outubro vamos eleger novos prefeitos. Meu grito de alerta é este: não vamos dar chance a quem não defende a natureza. Não vamos eleger quem não tenha capacidade e nem caráter para cuidar do meio ambiente.



A paisagem modificou. Para pior. O desmatamento da Amazônia é fato, real e grave.  Se na cidade já não existem tantas mangueiras, o que será da selva? Em poucos anos, não existirão mais as frondosas castanheiras.
E o que dizer das belíssimas aves e dos animais que estão perdendo seu habitat. Pior, estão sendo traficados para este mundo a fora.
A conversa dos governos e dos gestores públicos é sempre a mesma. Bonita e enrolada. Muito discurso e pouca ação. A caneta da decisão está com eles.
Pois bem, passei apenas três dias na cidade das mangueiras. Fiz um “city tour” a Salinas.  Salinas fica a 215 km de Belém, praia de bacana. Como era feliz me banhando em suas águas salgadas e curtindo a pureza daquele mar aberto.
Confesso que fiquei chocado com as mudanças. É claro que o tempo passa e tudo muda. Mas perder a pureza e a beleza é perder a razão de ser. Não entendo: mudar para pior é uma mudança burra. Sem sentido.
Salinas sempre foi nosso orgulho. Sempre nos favoreceu com seus ventos mágicos e coqueiros iluminados por um farol secular no alto de sua cidade. Sua fonte de água mineral cristalina nos fazia matar a sede e a saudade do nosso secular Caranã.
Seus peixes, mariscos e caboclos da região sempre nos favoreceram com seus sabores apimentados e pratos variados. O côco da região sempre me pareceu o mais suave e doce do País. Seu oceano de mar aberto e águas quentes nos faziam resgatar as energias perdidas dos anos.
Voltei a Salinas num dia chuvoso. Mesmo assim, caminhei com minha esposa e pude lhe mostrar a beleza do paraíso até então desconhecido por ela.


 


Quem é Beto Barbosa


Seu nome de batismo é Raimundo Roberto Morhy Barbosa. O nome que fez e faz sucesso no mundo inteiro é: Beto Barbosa. Nasceu em Belém em 27 de fevereiro de 1955. Sua voz e seu ritmo ganharam o mundo nas décadas de 1980 e 1990. Conhecido como o Rei da Lambada, Beto Barbosa foi um dos principais responsáveis pela febre que o ritmo experimentou em nível nacional e internacional. ‘Adocica’ e ‘Preta’ foram apenas dois dos muitos sucessos do cantor. Emplacou canções nas novelas da Rede Globo e conquistou muitos prêmios. Mesmo longe dos holofotes das grandes mídias, Beto Barbosa continua sendo um dos artistas mais populares do Brasil com mais de quatro milhões de discos vendidos. É sucesso onde se apresenta. Recentemente, lançou o CD ‘Só vai dar eu e você!’, título também do show que realiza pelo Brasil.
Tem um site http://betobarbosa.uol.com.br muito visitado onde dialoga com seu público e fala de seu trabalho. Beto Barbosa tem uma outra preocupação fora da música: a questão ambiental e os problemas sociais do Brasil. A partir de agora, sempre que possível, o Rei da Lambada – ou como também gostam de chamá-lo – o Rei do Balanço, estará nas páginas da Folha do Meio Ambiente falando e discutindo com os leitores as suas preocupações sobre o meio ambiente. (SG)


Os anos que passei longe de Salinas foram muitos, por isso, comecei a não entender como se pegava o caminho de Atalaia. No passado, para se chegar nesta praia, era necessário rodar de carro nas sombras dos coqueiros. Ou de barco pela praia do Maçarico.  E assim eu fiz, fui de carro buscando como referência os coqueiros da AgriSal. Que pena! Não existem mais. No local, só têm condomínios.
Casas foram erguidas em ruas mal projetadas. Na praia, barraqueiros e banhistas a jogar seus dejetos no mar. Fiquei assustado! Conversei com amigos do local e perguntei por quê tanta sujeira e destruição.
A resposta veio em forma de desabafo “O prefeito da cidade não coloca o turismo como prioridade”. Sempre escutei dizer que se uma cidade não é boa para seus cidadãos, também não será boa para os turistas.   Meu Deus! Será que ficamos cegos para tanta insanidade? Onde está a inteligência de quem é responsável pelo destino destas regiões outrora paradisíacas? Não posso entender este progresso que degenera, que mata e que acaba com a natureza.
A população precisa entender que a vida tem que ser preservada. Que o ambiente tem que ser defendido. Nossos filhos precisam ter a mesma oportunidade que tivemos de ver e viver coisas belas.
Enfim, fica aqui minha preocupação e meu alerta. Quanto valorizo em minhas canções e em meus shows as belezas amazônicas é porque eu quero eternizar estas maravilhas. Quando falo dos contrastes e dos abandonos de Belém e de Salinas, que freqüentei quando criança, quero dar um recado: que cada um pense nos lugares lindos que tenha freqüentado no seu Estado e na sua cidade. Quero que cada um cobre dos prefeitos, dos governadores e da própria comunidade ações que ajudem a preservar estes lugares. Como é bom rever, como gravamos outrora em nossa retina, os rios, cachoeiras, matas e as praias que freqüentamos quando criança? Mas se eles foram destruídos e poluídos parece que perdemos um pouquinho de nós mesmos. É muito triste!
Novas eleições vêm aí. Em outubro vamos eleger novos prefeitos. Meu grito de alerta é este: não vamos dar chance a quem não defende a natureza. Não vamos eleger quem não tenha capacidade e nem caráter para cuidar do meio ambiente.


 


Uma Vista aérea de Salinas, no estado do Pará