O lixo dos eletrônicos

E-LIXO, o entulho que sufoca

24 de abril de 2008

Governo do estado do Rio de Janeiro, empresários, Terceiro Setor e acadêmicos discutem a questão do descarte inadequado do lixo eletrônico

Cláudio Nasajon: passados 10 anos da Lei de Crimes Ambientais, o Brasil ainda não tem uma legislação específica para os resíduos eletrônicos


 


 


Segundo o gerente de Tecnologia e Meio Ambiente da Firjan, Luis Augusto Azevedo, no Brasil, as estatísticas mostram que no ano passado foram comercializados cerca de sete milhões de computadores. Em 2008, deverão ser vendidos mais de 11 milhões desses equipamentos que, então, terão ultrapassado as vendas de televisores (10,8 milhões em 2006).
– As pessoas tendem a aproveitar o material que é jogado no lixo nos lugares de baixa renda. Isto tem adquirido doenças para a população, pelo risco de contaminação, com o derretimento de plástico e o contato direto com o chumbo – afirmou Luis Augusto Azevedo.
De acordo com o empresário Cláudio Nasajon, uma placa de computador possui 122 mg/l de cádimo e 133 mg/l de mercúrio, que são metais pesados que produzem efeitos tóxicos nos organismos vivos, mesmo em concentrações muito pequenas. Estes valores ultrapassam a quantidade permitida pela Saúde Pública.
 O máximo permitido para a fabricação de baterias é de 0,2 mg/l de cádimo descarregado, e de 5mg/l de mercúrio – disse Cláudio Nasajon.


Sem regulamentação, mais lixo
E-lixo cresce três vezes mais que lixo comum no Rio e em outros Estados


 O Brasil perde, apenas, para cinco potências em produção de computadores: Estados Unidos, Pacífico Asiático, Europa, China e Índia. A diferença do nosso país para outros desenvolvidos, como Estados Unidos, França e Japão, está no desestímulo à manutenção dos aterros sanitários com a cobrança de altos impostos.
– Na Suíça e em parte da Grã-Bretanha, a legislação ambiental é severa. O fabricante é responsável pelo equipamento usado. Nos Estados Unidos, por exemplo, o consumidor pode pagar uma taxa para a devolução do produto comprado. É o que os americanos chamam de take-back. Isto ocorre para evitar o aumento de resíduos no país – explica o professor Julio Carlos Afonso, do Instituto de Química da UFRJ.
No Rio de Janeiro, o lixo é um grande problema. Só o Aterro Metropolitano de Jardim Gramacho, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, recebe cerca de nove mil toneladas de resíduos por dia, provenientes apenas da capital. E o E-lixo cresce três vezes mais que o lixo comum. O Estado reconhece o problema do grande vazadouro, que está com a vida útil esgotada, e coloca a sociedade como co-responsável, e os municípios como responsáveis pela destinação final dos resíduos eletrônicos.
– O Estado não tem como agir sozinho sem a contribuição do município. O município é o próprio cidadão – afirmou Osmar de Oliveira Dias Filho, representante da Secretaria Estadual de Meio Ambiente do Rio de Janeiro.
 
Soluções
O professor Julio Carlos Afonso aponta duas soluções para o e-lixo: o reuso dos materiais e a separação dos resíduos eletrônicos. 
– O reuso é uma boa opção, porque não há gasto de energia para “refabricar” os equipamentos. Na separação, o lixo eletrônico tem que ser desmontado em primeira etapa, antes de ser jogado fora. Em seguida, tem que haver uma separação dos equipamentos sem risco de contaminação, através de uma desmontagem manual que necessita da mão-de-obra humana. Depois, é necessário desencapar os fios e mandar o plástico e o cobre para uma recicladora.
O vidro deve passar por um processo de corte de laminação para evitar contaminação. Os plásticos e as madeiras podem virar insumos – explica o professor da UFRJ.
Uma outra solução proposta pelo empresário Ricardo Salles, diretor da A. Salles Engenharia, foi a criação de um selo para a empresa que se responsabilizar pelo lixo eletrônico. Assim como ele, o empresário Celso Fernandes, Diretor Geral da Casa Brasil, acredita que os investidores precisam pensar nesta ferramenta como algo cultural, social e ambiental.
– Os países têm que pensar na inclusão social sem pensar, apenas, no descarte do lixo eletrônico – disse Celso Fernandes.
Hoje, somente entre 10% e 15% de todo o lixo eletrônico produzido no mundo são destinados à reciclagem, o que inclui o reaproveitamento de peças e componentes eletrônicos. Não há como caminhar no sentido inverso da sustentabilidade. Para evitar a escassez dos recursos e atender às necessidades das próximas gerações, são necessárias políticas de inclusão digital, Educação Ambiental e uma mobilização da sociedade para o bem-estar de todos.