Mudanças no MMA

O ADEUS DE MARINA SILVA

23 de maio de 2008

Marina abandona a Esplanada dos Ministérios, mas continua sua pregação ambiental

“Sua renúncia causou preocupação entre ambientalistas do mundo todo.
É fácil entender por quê. Marina Silva tem uma poderosa personalidade e uma determinação direta que a ajudou a superar a pobreza, doença e analfabetismo em sua infância e adolescência no Estado amazônico do Acre.”

Financial Times, de Londres (18/05/08)


 


Na segunda-feira, dia 12 de maio, Maria Osmarina Silva de Lima, a Marina Silva, entregou seu pedido de demissão ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A gota dágua havia pingado na semana anterior, com a divulgação do Plano Amazônia Sustentável (PAS), que será coordenado pelo ministro da Secretaria de Ações de Longo Prazo, Mangabeira Unger. Ao pedir para sair, Marina cumpriu a previsão de que perderia a cabeça, “mas não o juízo”. Afirmação feita aos seus assessores no início do governo.
Com  Marina  saem dois auxiliares de sua  confiança: Basileu Margarido (que acumulava as funções de chefe de gabinete de Marina e presidente do Ibama), e João Paulo Capobianco, secretário-executivo do MMA e presidente do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade.


Mãe do PAS
Na solenidade de lançamento do Plano, no Palácio do Planalto, o presidente Lula chegou a dizer que Marina seria a “mãe do PAS”, numa referência ao fato de a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, ter sido chamada por ele de “mãe do PAC”, o Programa de Aceleração de Crescimento.
Segundo amigos da ministra, ela teria dito “sou a mãe do PAS, mas quem vai criar o filho é outra pessoa”. Logo ela, mãe de quatro filhos e que ajudou a criar os próprios irmãos no seringal Bagaço, no interior do Acre, quando a mãe morreu de aneurisma. Do seringal, Marina saiu aos 16 anos para trabalhar como doméstica em Manaus, onde foi alfabetizada, conclui o segundo grau e iniciou uma trajetória de acúmulo de conhecimento formal que a fez ingressar no curso de História e, mais tarde, no de Psicopedagogia, já em Brasíla. Ex-noviça da Igreja Católica e ex-militante das Comunidades Eclesiais de Base, em 2006 Marina surpreendeu ao ser tornar evangélica. Outra surpresa foram as mudanças em sua estética. Da aparência brejeira com que chegou ao Congresso aos 38 anos, nada restou. Marina usava solta sua rebelde cabeleira, vestia roupas artesanais e bijuterias de sementes da Amazônia que ela mesma fazia, principalmente de jarina. Aos poucos a burocracia domou sua aparência. Surgiu uma Marina de cabelos presos, óculos de grau e roupas conservadoras. Mas seu discurso não mudou. Ela continuou a mesma guerreira aguerrida que fez com que o presidente Lula, em seu primeiro mandato, anunciasse o seu nome para o MMA antes mesmo de qualquer outro.
Ela que se elegeu a mais jovem senadora do País em 1994, com mais de 42% dos votos válidos de seu estado. E, no ano de 95, seria incluída na lista da revista Time das 100 personalidades mais jovens do mundo que teriam influência sobre o futuro das Nações.


Pedras e PAS no
meio do caminho

Mas teve um PAS no meio do caminho e mais algumas pedras. O desmatamento na Amazônia, mesmo no período de chuvas, aumentou. E o MMA não tinha verba e nem gente para impedir o avanço sobre a floresta. Quando tentou uma ação mais enérgica, quase suicida, com poucos funcionários e quase nada de equipamento, na gestão de Marcus Barros, ex-presidente do Ibama, os funcionários foram cercados por madeireiros no local conhecido como Terra do Meio, no Pará, e conseguiram escapar com vida porque foram resgatados pela Polícia Federal, de helicóptero, do alto de um prédio. Numa terra sem lei, onde o Estado não chega, é impossível cobrar resultados isolados de uma instituição. Também surgiram os transgênicos (OGM) e a pressa em liberá-los.


Cachorros e pulgas
Por conta do controle do desmatamento, Marina estava frágil dentro do governo. A ex-ministra ficou aborrecida com o silêncio de Lula diante de críticas à sua gestão feitas pelo governador de Mato Grosso, Blairo Maggi (PR), durante reunião com o presidente. Maggi, plantador de soja, político da ala desenvolvimentista. Nesta ocasião, comentando com amigos, Marina cunhou mais uma frase interessante: “quem leva o cachorro para dentro de casa leva junto as pulgas”.