Sustentabilidade

O Hoje que planta o Amanhã

23 de maio de 2008

Projeto Amanhã reúne os jovens para semear o futuro

Maria Cordeiro Roque de Melo – Entrevista


Folha do Meio – Como nasceu o projeto Amanhã?
Marisa – Nasceu em 1993. O importante é que já capacitou cerca de 16 mil jovens e inseriu no mercado de trabalho 10%, atingindo cerca de 50 municípios dos estados de Alagoas, Bahia, Maranhão, Minas Gerais, Pernambuco, Piauí e Sergipe, com vários núcleos e três centros de capacitação, um em Alagoas e dois na Bahia, com excelente infra-estrutura. No vale do Parnaíba, iniciou suas ações em Teresina e Oeiras e no município de Timon, no Maranhão. A fonte dos recursos é prevista no Orçamento Geral da União. O Projeto mantém um banco de dados desde a sua criação, a disposição dos interessados na internet. 


FMA – Como a comunidade participa do Projeto?
Marisa –  O Projeto tem como carro-chefe a educação profissionalizante, proporcionando ao jovem a oportunidade de ser empreendedor nas áreas de agropecuária, agroindústria e artesanal, em atividades produtivas como piscicultura, apicultura, caprinovinocultura, artesanato, informática, turismo ecológico, dentre outros. Conta com o engajamento da população desfavorecida que, além de estar cada vez mais consciente em relação às questões ambientais e de cidadania, passa a ser um agente transformador. Assim, o carvoeiro da caatinga passa a ser apicultor, coletador de sementes, viveirista e plantador de árvores; o apicultor extrativista passa a utilizar colméias e tantos outros, até chegar ao projeto Doces Matas em Sergipe, é esta a essência do Projeto Amanhã.
    
FMA – E as parcerias como funcionam?
Marisa – A principal parceria começa com a prefeitura atendendo as demandas da comunidade. Buscamos também trabalhar junto aos órgãos federais e estaduais, universidades, além de instituições privadas como bancos, empresas e outros. Ultimamente estamos dando prioridade a execução direta da Codevasf.


FMA – Além da capacitação e organização existem outras atividades?
Marisa – Uma ação promissora é a Incubadora Tecnológica de Empreendimentos Sociais, localizada em Bom Jesus da Lapa, com um ano de atuação no Projeto de Irrigação Formoso. Conta com empreendimentos de pequenos produtores, produzindo doces, móveis rústicos e artesanatos com fibra de bananeira, taboa e palha de milho.
        
FMA – O Projeto atende às comunidades tradicionais, comuns nas bacias do São Francisco e do Parnaíba?
Marisa – Ao lado das atividades desenvolvidas junto às comunidades tradicionais, uma iniciativa mais recente é o trabalho com os jovens da Reserva Indígena de Xacriabá, no município de São João das Missões, norte de Minas Gerais. Seguindo a potencialidade natural da região, a Codevasf está desenvolvendo ações na área de apicultura nas aldeias Pedra Redonda e Barreiro Preto. Para cada aldeia foram entregues um kit completo para as atividades apícolas, contendo 15 caixas de abelhas e os equipamentos necessários. 
Quanto aos quilombolas, busca atuar de forma mais incisiva junto aos jovens, desenvolvendo atividades produtivas voltadas para a produção de mel, hortas orgânicas e fruticultura. Junto aos filhos de pescadores artesanais, são promovidos cursos voltados para a criação de peixes em tanques-rede, cidadania, prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, questões ambientais e outras.



FMA – Finalmente chegamos à  questão ambiental. Qual a visão do projeto Amanhã?
Marisa – O Doces Matas vêm capacitando jovens na coleta de sementes de plantas nativas, visando a produção de 100 mil mudas nativas, com envolvimento de mais de 100 jovens, em parceria com o Instituto Xingó, na recuperação das nascentes do rio Poxim, município de Japoatã. Assim, aliam o cultivo com atividades educativas, como oficinas de reciclagem, confecção de brinquedos com garrafas PET e artesanais de alto padrão aproveitando casca de coco e sementes de várias espécies nativas na confecção de biojóias.  Também incentiva a apicultura e meliponicultura (criação de abelhas nativas) como fonte de renda, assim como o plantio de árvores nas margens dos rios. O conceito básico é mostrar às pessoas que a recuperação ambiental pode oferecer meios para sobrevivência de comunidades rurais, pela descoberta de outras vocações. Ao se dar uma utilização sustentável às matas ciliares, os produtores e seus filhos terão maior conscientização e interesse em iniciar a sua recuperação. É nossa intenção também capacitar o jovem em técnicas de combate à desertificação, prepará-los para a convivência com o clima do Semi-árido e sua rica biodiversidade.