Educação ambiental entra no samba

19 de junho de 2008

Alunos cariocas organizam escola de samba com tema ambiental em Cascadura

Vanessa Ferreira e Carina Silva,
as embaixadoras do clima

 

 

 

O aluno Diogo Luiz da Silva, 17 anos, é integrante do grupo "Netos do Samba", que começou a partir de uma iniciativa de jovens que formaram o "Entre Amigos". Sobrinho do músico Décio da Silva, ex-integrante do grupo Kiloucura, Diogo herdou a vocação de artista e agora, é vocalista e mestre de bateria da escola de samba que ele ajuda a montar no Colégio Professora Maria Nazareth.
Com a intenção de ensinar outros alunos a tocar instrumentos e de ampliar a consciência ambiental através da música, ele foi um dos selecionados pela coordenadora do projeto da escola de samba, a professora de Inglês, Valéria Plaisant, para ser um Embaixador do Clima.
"Procuramos sempre fugir do popular e buscamos tocar samba de raiz, valorizando a cultura brasileira. Da mesma forma, vamos mostrar o projeto da escola através da música", disse Diogo.

Dom João VI De Olho no Clima do Rio de Janeiro
Em comemoração aos 200 anos da chegada da Família Real ao Rio, os alunos e professores da escola decidiram colocar Dom João VI como narrador do projeto. Ele foi fundador do Jardim Botânico (antigo Horto Real), um dos maiores abrigos ecológicos da cidade.
A professora de Filosofia e História, Maria Purifición, ajuda a organizar uma ala da escola de samba que vai mostrar a religiosidade, as tradições e práticas indígenas, além da história dos escravos e a importância das árvores e das plantas nativas.
"Vamos trabalhar com o tema da miscigenação entre o brasileiro e o africano, com o modo de expressão dos orixás e a importância de manter o ambiente em harmonia", disse Maria Purificación.
As outras duas Embaixadoras do Clima selecionadas pelo Colégio foram Vanessa Ferreira e Carina Silva, ambas com 16 anos. Elas fizeram um trabalho sobre gravidez na adolescência, que chamou a atenção dos professores do Colégio. Foi o melhor texto apresentado entre os alunos do 2o ano do Ensino Médio.
 
Projetos ambientais
da escola

A diretora do Colégio Estadual Professora Maria Nazareth Cavalcanti Silva, Maria de Lourdes de S. S. Gomes, incentiva os alunos, professores e a comunidade de Cascadura a participarem das atividades de preservação ambiental desde 2002. Neste mesmo ano, os alunos participaram do Projeto Cidadania Ambiental desenvolvido pela Secretaria de Meio Ambiente do Rio. Eles saíram pelas ruas de Cascadura e fizeram um levantamento dos problemas ambientais do bairro.  Como resultado, constataram que o clima quente é decorrente da ausência de vegetação, e, portanto, distribuíram plantas e folhetos instrutivos na comunidade.
Em 2003, o Colégio deu destaque ao tema Água no Planeta. Foram distribuídos folhetos informativos e pastilhas de cloro para a limpeza das caixas d'água das residências do bairro. Além disso, os alunos colocaram faixas com informações sobre preservação ambiental e mostraram para os moradores a importância de evitar o desperdício da água, incentivando-os a não lavar as calçadas com mangueiras.

Maria Fashion Week
Em 2004, a escola deu início à semana de Moda "Maria Fashion Week". Promoveram pela primeira vez, um desfile de roupas feitas com materiais recicláveis. Os alunos fizeram um vestido de noiva de sacolas plásticas brancas, um véu de restos de garrafas PET e um fraque de sacos de lixo pretos. Anna Karenyna Linhares, 17 anos, aluna do 3o ano do Ensino Médio, que deseja ser designer de Moda, contou sua experiência no evento:
"A 'Maria Fashion Week, coordenada pela professora de Biologia, Janete Nascimento, é uma semana dedicada ao trabalho e ao conhecimento das carreiras ligadas não só ao mercado da Moda, mas também de conscientização da importância do reuso e da reciclagem dos materiais. É uma semana do "Lixo ao Luxo" que dá para ter noção de como é a profissão", disse a aluna.
Ano passado, a professora de Educação Física, Vera Lúcia Fernandes, organizou ensaios de dança com temas culturais e socioambientais. O que mais chamou a atenção dos alunos foi o "Black and White", que mostrou através da arte da dança, períodos da História do Rio de Janeiro. Os alunos, quando convidados, se apresentam em eventos fora da escola.  Este ano, em paralelo ao "De Olho no Clima", os professores estão desenvolvendo ações sobre as mudanças ambientais dentro do projeto Agenda 21, com objetivos diferentes do projeto do British Council, em parceria com as secretarias de Educação e Meio Ambiente do Rio. Os Embaixadores do Clima, junto com alunos do 3o ano, incentivam a comunidade e os outros alunos a não jogar lixo no chão, a separar os materiais recicláveis e a não desperdiçar água.

 

 

Os alunos fizeram questão de abraçar a árvore africana “Maria Gorda”

 

 

 

Da teoria à prática

A professora de Inglês Valéria Plaisant, pós-graduada em Educação Ambiental pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro, dá aula para os alunos fora da tradicional sala de aula.
Ela organiza visitas técnicas com os alunos em lugares de preservação ambiental e histórica. "Eu levo os alunos para museus, parques ecológicos e outros pontos turísticos. Trabalho em sala de aula utilizando textos sobre o local a ser visitado. Desta forma, consigo ensinar palavras que são encontradas em textos atuais com temas que podem cair no vestibular e no Enem.
Os alunos ficam muito mais interessados e sentem prazer em ir à escola. A escola deve ser prazerosa para o aluno",  disse Valéria.
Depois de visitar a Ilha de Paquetá, os alunos aprenderam a passar informações e dicas de preservação ambiental através da linguagem da internet.  Fizeram o blog www.diversidadeculturaldoriodejaneiro.blogspot.com.
Uma outra aula que marcou a aluna Karine Moreira, 18 anos, foi a da visita a Petrópolis: "Eu já tinha visitado a cidade, mas não com o olhar de análise, de pesquisadora. Eu passei a observar as diferenças existentes entre o Rio e Petrópolis, como por exemplo, o clima, a vegetação e a temperatura.
O projeto De Olho no Clima veio abrir mais oportunidades de aulas como a da professora Valéria com visitas a lugares que talvez não teríamos a chance de conhecer", disse Karine.