Folha do Meio Ambiente

Gostaria de fazer um reparo à coluna do jornalista Milano Lopes (folha nº 188, maio-2008, pg. 26) quando ele comenta a intervenção do ministro Tarso Genro em audiência na Câmara dos Deputados para tratar do caso Raposa Serra do Sol. Na verdade, meu reparo é à charge que ilustra a matéria. Nela se vê um índio e um trabalhador do MST, frente a frente. O índio diz: “sou índio”; o sem-terra diz: “sou fazendeiro”. detalhe, o sem-terra está armado com uma foice e o índio desarmado. A ilustração é uma manifestação ideológica que não cabe à realidade. É uma mentira! Eis os argumentos:
1 – O conflito em Roraima envolve fazendeiros e índios. Não existe nenhum sinal de presença do Movimento dos Sem-Terra (MST) na região. Infelizmente o autor da charge (acatada pelo jornal) tentou forçar uma situação inexistente.
2 – A charge alimenta o ódio contra os sem-terra e o MST. O fato do agricultor estar armado remete a uma pretensa intenção de luta dos sem-terra contra os índios.
3 – O MST lida com pequenas propriedades, luta pela pequena propriedade. o movimento é inimigo do latifúndio. Jamais um sem-terra diria: “sou fazendeiro”. No dia em que um sem-terra se tornar fazendeiro ele não é mais sem-terra. É mais uma descabida tentativa de satanizar o movimento e, claro, mudar a história.
4 – O caso de Raposa Serra do Sol é de fazendeiros contra os índios. Não tem nada a ver com sem-terra.
5 – O que temos lá uma meia dúzia de fazendeiros, rizicultores, grileiros. Nenhum deles têm escritura de terra. O Governo homologou a terra indígena e esses fazendeiros não aceitam sair. A homologação é o reconhecimento oficial de que as terras são dos índios. Porque sempre foram dos índios. É terra da União para usufruto deles, para ser mais exato.
6 – O discurso nacionalista é apenas uma manobra desses ruralistas para impedir que os índios ocupem as terras que lhes pertencem. Sob a tutela dos índios, é bem mais fácil o Governo controlar essas terras (podendo entrar PF, Exército)  do que nas mãos dos ruralistas, cujos negócios nem sempre são de interesse pátrio.      Dioclécio Luz