Aliança pela conservação marinha
20 de junho de 2008Oceanos regulam o clima global e garantem a sobrevivência na Terra, mantendo o equilíbrio químico do planeta
Guilherme Dutra (Conservação Internacional) e Márcia Hirota (SOS Mata Atlântica) no lançamento da Aliança para a Conservação Marinha na Bienal do Ibirapuera
No final de maio foi formalizada, em São Paulo, uma parceria entre as organizações ambientalistas Conservação Internacional (CI-Brasil) e Fundação SOS Mata Atlântica em prol do estudo e proteção da costa brasileira. É uma Aliança para a Conservação dos Ambientes Marinhos e Costeiros associados à Mata Atlântica.
Para Márcia Hirota, da SOS Mata Atlântica, a perspectiva é que a Aliança para a Conservação Marinha seja um passo significativo para o estabelecimento de novas parcerias e para a mobilização de um maior número de pessoas em prol dos ecossistemas marinhos e costeiros no País. Na verdade, a união entre a CI-Brasil e a SOS Mata Atlântica já existe há nove anos. Agora, com a formalização da parceria, as duas organizações apresentam suas atividades na área marinha, o que viabilizará estudos e estratégias pela conservação e pelo uso sustentável dos recursos marinhos.
Coral Cerebro (Mussismilia brasiliensis) espécie endêmica de Abrolhos
Oxigênio do mar
Mais da metade da população brasileira se concentra no litoral. Ela usufrui dos serviços ambientais, como a pesca, o clima equilibrado, o turismo e o oxigênio. Sim, mais de 80% do oxigênio que se respira em terra firme vêm do mar. É o resultado da fotossíntese feita pelas algas. Segundo o coordenador da nova aliança, o biólogo Fábio Motta, isso acaba gerando uma grande pressão sobre esses ambientes ainda tão pouco conhecidos e pouco valorizados, embora tão explorados.
Para cientistas mais radicais, se continuar o ritmo acelerado de degradação como tem sido nas últimas décadas, poderá haver um colapso nos próximos 40 anos, o que tornará difícil achar alguma espécie de crustáceo ou peixe para pescar. O simples desaparecimento de uma única espécie acelera o desequilíbrio de todo o ecossistema. Apesar do esforço, o Brasil ainda tem muito o que avançar nos cuidados com a biodiversidade marinha. O diretor do programa marinho da Conservação Internacional, Guilherme Dutra, diz que em toda a faixa marinha brasileira apenas 0,4% está protegida na forma de algum tipo de Unidade de Conservação, enquanto que a meta estabelecida pela Convenção da Diversidade Biológica – à qual o Brasil é país signatário – é de no mínimo 20%. O biólogo acredita que grande parte dos ambientes costeiros do País está associada à Mata Atlântica, com processos ecológicos interdependentes. Por isso essa aliança entre SOS Mata Atlântica e CI-Brasil é importante para viabilizar estudos e ações que favorecem esses ecossistemas.
Esta aliança pretende, até o fim do ano, atualizar a lista de espécies marinhas endêmicas e ameaçadas. Com isso, os dados já existentes vão ser adaptados aos critérios do Levantamento Global de Espécies Marinhas. O Brasil, então, poderá ser incluído nas análises mundiais para a conservação da biodiversidade.
Também será feita a identificação de áreas-chave para a conservação marinha costeira no Brasil. Como resultado, as informações científicas serão compiladas em bancos de dados para subsidiar políticas de desenvolvimento e conservação coerentes com as características ecológicas da costa brasileira.
POLÍTICAS EQUIVOCADAS
Por incrível que pareça, as consequências do aquecimento global podem alcançar até o fundo do mar, interrompendo o fluxo de nutrientes vitais das águas superficiais para as águas profundas. Além disso, a biodiversidade marinha no Brasil há muito vem sendo comprometida por políticas equivocadas para a pesca, desmatamento da mata Atlântica, a poluição e o turismo desordenado sem que haja um controle e uma fiscalização satisfatória. Guilherme Dutra dá o exemplo da região de Abrolhos, onde suas áreas protegidas apresentam resultados positivos para a conservação da biodiversidade, assim como para a pesca e o ecoturismo bem orientado. Há também a RESEX (Reserva Extrativista) de Corumbau que, desde sua criação em 2000, algumas áreas foram fechadas para a pesca e o resultado foi um aumento na abundância de espécies economicamente importantes. Essa ampliação da parceria entre a Conservação Internacional e a SOS Mata Atlântica teve início em 1999 com a Aliança para a Conservação da Mata Atlântica. Alguns bons resultados saíram dessa união, como o Programa de Incentivo a Criação de RPPNs (Reserva Particular do Patrimônio Natural).
Importância das RPPNs
No ano passado o Programa RPPN obteve o apoio da TNC – The Nature Conservancy – quando 133 projetos foram beneficiados, aumentando em cerca de 12 mil hectares a área protegida por reservas particulares na Mata Atlântica. Lembrando que boa parte da Mata Atlântica se encontra no litoral, sofrendo influência direta dos ecossistemas marinhos. Um componente essencial para a gestão dos ambientes marinhos é a inclusão de estratégia cientificamente fundamentada. Objetivo: monitorar e avaliar ao mesmo tempo o estado de saúde e as possíveis alterações dos ecossistemas com a observação dos parâmetros biológicos e ambientais.
Os biólogos acreditam que a gestão participativa para a consolidação dos recursos naturais dessas áreas é uma ferramenta fundamental para a sustentabilidade costeira e marinha, contribuindo para uma melhor qualidade de vida da população. (BFB)