Águas Emendadas

26 de agosto de 2008

Águas do Planalto Central nascem germinadas, se separam e vão desaguar no Atlântico a 10 mil km de distância

Fotos: Carlos Terrana

 

Aguas Emendadas é um fenômeno da natureza: as mesmas gotas que nasceram juntas, no Planalto Central, se afastam obedecendo a lei da gravidade e vão desaguar no mesmo oceano Atlântico, mas separadas por mais de 10 mil quilômetros de distância. Ao que consta não existe nada assim em outra parte do planeta. Pelo menos produzido pelas forças da natureza, como é o caso de Águas Emendadas. Trata-se de uma lagoa de pouca profundidade (uma vereda mais exatamente) instalada a 1.000 metros de altitude; ela conflui para córregos que seguem em direções opostas. Uma das águas segue para o córrego Brejinho, que vai para o Sul, desaguando no rio São Bartolomeu, da bacia do rio Paraná, que atravessa o Paraguai, a Argentina, até se misturar ao oceano Atlântico, na bacia do rio da Prata, divisa Argentina/Uruguai. A outra água cai no córrego Vereda Grande, segue em direção ao Norte, cai no Rio Maranhão e se converte na bacia do rio Tocantins/Araguaia, para chegar ao Atlântico, misturadas às águas do rio Amazonas. Antes se pensava que Águas Emendadas fluía para as três grandes bacias brasileiras: do rio Amazonas, do São Francisco e do Paraná. Um equívoco. É verdade que o Planalto Central abastece de água as três grandes bacias, mas Águas Emendadas, como se viu, faz um percurso diferente. O fenômeno está instalado dentro da Estação Ecológica de Águas Emendadas, que foi a primeira Unidade de Conservação criada no país. Inaugurada em 12 de agosto de 1968, ela festejou 40 anos de criação com vários eventos e lançando uma grande obra, o primeiro e único livro que trata de vários aspectos da unidade.

 

A Estação Ecológica de Águas Emendadas

A Estação Ecológica de Águas Emendadas, com 10.547 hectares, é uma mostra do segundo maior bioma do país, o Cerrado, que possui no total 2 milhões de Km2 (a Amazônia vem primeiro com 4,2 milhões de Km2), ou 23% do território nacional. Coitado do Cerrado, com 80% ocupado pela agricultura e pecuária extensiva, é sistematicamente derrubado para dar lugar a pastos ou monoculturas, que geram áreas degradadas, nascentes destruídas, rios e solos contaminados por agrotóxicos, destruição da fauna e da flora.
A Estação Ecológica, porém, preserva a riqueza do bioma. Ela tem algumas representações do Cerrado. De acordo com alguns cientistas (em "Águas emendadas", Art. "Fitosionomias e flora"), aqui se encontram:
Os Campos, onde predominam as gramíneas e arbustos. Trechos de "campo limpo", área sem árvores; e "campo sujo", área onde as árvores representam 10% da área.
As Veredas são formações que ocorrem ao longo dos cursos de água ou em áreas de nascentes, onde predominam as espécies vegetais típicas dos alagados. É o lugar dos buritis (Mauritia flexuosa) e buritiranas (Mauritiella armata); as árvores são magras, com altura média de 20 ou 30 metros.
O Cerrado strictu sensu caracteriza-se pela presença de gramíneas e árvores lenhosas, que cobrem de 10 a 60% da área. As árvores têm a altura de 3 a 5 metros.
As Matas de galeria são florestas que acompanham os cursos d'água, com uma cobertura fechada (80 a 100%).
As árvores atingem até 30 metros. São ricas em biodiversidade. Nelas se encontram espécies da floresta Amazônica, da Mata Atlântica e da Bacia do rio Paraná; espécies do cerrado e do Planalto Central.
Funcionam como faixas de florestas tropicais úmidas em meio à vegetação do cerrado; são corredores ecológicos que oferecem água, sombra e alimentos para a fauna da região.
Além da vereda que lhe dá nome, a Estação Ecológica de Águas Emendadas, acumula água em outro lugar, a Lagoa bonita.
Esta lagora é um afloramento natural de águas subterrâneas, de pouca profundidade (1,4 metros em média), com uma lâmina d'água de 1,7 Km2.