O segredo das garças brancas

26 de agosto de 2008

Um novo olhar sobre o leito dos rios

Uma das minhas atrações preferidas são as garças-brancas que, em bandos ou isoladamente, surgem quando menos se espera. Embora pequenas, são de fácil visualização, contrastando com a vegetação verde e rala das margens. Costumo chamá-las de “garça-cor-da-paz”, não me importando com o nome científico. De onde vieram e para onde irão, não sei. Sei que elas levantam vôo com muita facilidade e alcançam grandes altitudes no colorido do espaço, numa geometria digna de qualquer visão. Quando em águas rasas, ficam paradas, espiando como se preparando para um bote fatal ou então, pisoteiam a lama na esperança do surgimento de alguma iguaria. Na realidade, esperam encontrar algum alimento, não importando as condições do local, quase sempre poluído. Os despejos humanos são também fontes de alimento. Vejo nas suas pousadas uma contrastante agonia, entre aquilo que a natureza dispõe e que lhe é oferecido. Como a água torna-se perversa pela mão do homem para alguns animais, inclusive para ele próprio.
A presença das garças pode dar a falsa impressão de que as águas não são poluídas, que correm depressa para se limparem da sujeira impregnada. Mas, não é assim.
Embora as aves chamem mais atenção e disfarcem o ambiente, as águas estão repletas de efluentes que ludibriam a todos. Minha apreciação é exuberante com o momento e escassa com a realidade. Das garças aprecio o vôo, o comer e o cantar; detesto sua quietude, sua fome e sua mudez.  Elas continuarão surgindo e as águas correndo na real natureza, apesar do brilho da cidade, da ilusão do progresso, da cobiça do homem e da falsa bondade.