PARQUE DA PEDRA DA BOCA

18 de setembro de 2008

Ecoturismo e preservação: um passeio de dar água na boca

Vista parcial da região, caracterizada por afloramentos rochosos e muito verde


 


 


 


 


O professor Magno Erasto desdobrou a carta topográfica e descreveu as formações geológicas e a vegetação, enquanto o ônibus rodava os 165 km até o parque, que fica na divisa dos  da Paraíba com o Rio Grande do Norte. De Natal a distância é de 120km, e de Campina Grande 130km.
Do lado de cá, a paraibana Araruna, com seus 16.605 habitantes, onde fica a Sede do Parque. Do lado de lá, a potiguar Passa e Fica – queríamos ficar mas não ficamos. Para quem olha o mapa do Estado, que parece um elefante – fica bem no meio da pata-de-trás-do-elefante. O dedão do pé, explica a estudante Thais Guimarães, que além de estar concluindo sua monografia sobre o parque, é fotógrafa. E nota dez, como se pode comprovar pelas fotos desta reportagem.
 Outra parada imperdível foi em Cajá, para o café-da-manhã com tapioca e manteiga-de-garrafa. A partir daí foi um sobe-e-desce pela colonial Areia e sua veterana escola de agronomia, por Bananeiras, idem, onde almoçamos carne de ovelha e cabrito assado, em uma pousada numa antiga estação ferroviária. Daí, até o parque foi um pulo.
Do alto avistamos um extenso vale com formações geológicas isoladas em meio a pastagens e raras matas nativas num mar de morros.


Pedra da Boca
O Parque Estadual da Pedra da Boca localiza-se no município de Araruna, na microrregião do Curimataú Oriental.
Sua área é de 157,2km² ou 15.720hectares. A divisa com o município de Passa e Fica e entre os dois estados se faz pelo rio Calabouço, parte da bacia hidrográfica do Curimataú, também de regime intermitente, secando em determinadas estações. É uma formação insólita da região semi-árida encravada em rochas do complexo Cristalino.
O desgaste das rochas pela intempérie causa a queda de nacos de rocha em linhas de fratura, originando assim as “bocas”, as lapas e abrigos da região. Outras grutas e lapas se formam pelo amontoamento de blocos no sopé dos monolitos-mãe. Ainda podemos encontrar, em certos trechos do parque, algumas pinturas rupestres, que têm sido desgastadas ao longo do tempo pela ação antrópica. Uma pena, pois esses elementos enriquecem a história e a paisagem da região.


Vegetação
A vegetação é composta por espécies do bioma caatinga e matas serranas; caminhando pela área do parque observa-se a presença do xique-xique, da coroa de frade, mandacaru, faxeiro, dentre outras cactáceas típicas das regiões semi-áridas, além do umbuzeiro, juazeiro e oiticica, adaptados a conviver com os longos períodos de estiagem. A fauna da região é formada por felinos, roedores, marsupiais, aves e répteis, que podem ser encontrados ao longo das caminhadas.
A caatinga estava verde como nunca se viu devido às intensas chuvas, mas breve ela hibernará com roupagem cinzenta, constituindo em belas e rudes paisagens e exóticos atrativos. Para tanto podem ser criadas rotas e trilhas com hospedagens ecológicas.
O complexo lítico é a maior atração do parque, assim denominado a partir de um decreto estadual de 7 de fevereiro de  2000. Mas o parque não está ainda demarcado e nem tem plano de manejo. Urge ser regulamentado como unidade de proteção integral, como fonte e de turismo sustentável, agregador de emprego e renda.


Ecoturismo
A região tem atraído pesquisadores e turistas de diversas partes do Brasil. Os afloramentos rochosos seduzem principalmente os praticantes de esportes de aventura.
Nos paredões da Pedra da Boca, da Pedra do Cordeiro, da Pedra do Forno e da Pedra da Caveira pratica-se rapel e escalada. Na Pedra da Santa acontece o turismo religioso. Os monólitos se interligam por trilhas e mais trilhas, que podem ser observados e usados para o descanso nas caminhadas. Foi o que fizemos o dia todo. Algumas pedras possuem inscrições rupestres feitas pelos índios da nação tapuia que habitaram aquela região. Há várias cavernas e grutas como atrativos, além da Mata do Gemedouro.


À tardinha, voltamos todos extenuados. A hospedagem foi na Pousada-Araruna. Fazia um frio de 15º lá pelas nove da noite. A cidade tem uma altitude de 580m. O passeio pelas ruas após o jantar foi abolido: ventava de arrastar. As pousadas locais estavam lotadas em fim de semana comum, sinal que os ecoturistas agregam renda e emprego por onde passam.
O longo e bucólico roteiro de estudos superou as expectativas do heterogêneo grupo, composto por brasileiros, cabo-verdianos, são-tomenses (de São Tomé e Príncipe) e portugueses.
O Parque Pedra da Boca é especial para observar, para fotografar, para curtir e quem tem boca boa de comer, é também especial pelas iguarias servidas nas cidades da região. É um roteiro gastronômico onde se pode apreciar um belo prato “Carneiro assado ao arroz vermelho de leite à moda Piancó”. Não fica nada a dever aos faisões dourados à moda Paris. Também foram servidas “Bolachinhas de arroz vermelho tostadas na manteiga de garrafa”. É um parque de dar água na boca!


Fotos: Thaís de Oliveira


No parque
fauna e flora se misturam.


 


 


 


 


Vista parcial da “Pedra da Santa”. Podemos observar um tipo de abrigo, originado pela queda de blocos, além de algumas caneluras e uma fissura bem visível. Abaixo, vegetação típica nos afloramentos rochosos


 


 


 


 


 


 


Conhecer para respeitar


Thaís Guimarães


 


 


O trabalho que estamos desenvolvendo no Parque Estadual da Pedra da Boca, agreste paraibano, é para fazer uma descrição geral da paisagem dessa região, caracterizando a fauna, flora, o uso do solo, aspectos sociais e econômicos. Tenho como orientador o prof. Magno Erasto de Araújo, Mestre em Geociências.


Geologicamente a área é constituída pelo afloramento de uma estrutura batólita, com forma aproximadamente quadrática e cerca de 150 Km2 de área. Esse corpo é formado por uma rocha granítica, grosseiramente porfirítica e mineralogicamente constituída por microclina, plagioclásio, quartzo, biotita, titanita, apatita, opacos, hornblenda, clorita, muscovita e zircão.
Na porção sudeste desse batolito, mais precisamente a cerca de 6km a sudoeste da cidade de Passa e Fica (RN) e ao sul do rio Calabouço, limite natural entre a Paraíba e o Rio Grande do Norte, ocorre uma área com cerca de 5km2 onde o relevo é formado por maciços rochosos. Esses corpos rochosos ou serras, como são conhecidos na toponímia regional são conhecidos na literatura geográfica desde  a segunda metade do século dezessete.  Além da beleza da paisagem o que mais chama atenção é a existência das inúmeras cavernas ou cavidades existentes nas rochas. Essas cavidades localizam-se nas vertentes desses maciços e apresentam dimensões que, às vezes, alcançam cerca de 80m de extensão lateral, 30 a 40m de altura e profundidade variável.
O teto lembra uma marquise com inclinação entre 30  e 40 graus, onde em seu limite externo, uma superfície plana, se dispõe de forma irregular, evidenciando o caimento de blocos e a conseqüente formação dos abrigos.
A queda desses blocos se deu em função da existência dos diversos planos de descontinuidades existentes na rocha que quando alcançados  pelas diversas posições das vertentes, ficaram instáveis e caíram.
Assim, formaram-se as cavidades ou abrigos  nas vertentes e as furnas, grutas ou cavernas nos vales estreitos e profundos. Na área destacam-se as cavidades da Boca, do Carneiro, da Caveira, do Forno, da Santa, Olho D’água entre outras. As incursões ao campo são para mapear, cadastrar e descrever cavidades ou abrigos.  O objetivo do trabalho é fazer um estudo dos diversos aspectos da geologia e geomorfologia com o propósito de entender a evolução da área.
(*) Thaís de Oliveira Guimarães
é graduanda em Geografia – UFPB