Museu Goeldi ajuda mapear Biota Pará
22 de outubro de 2008Equipe de cientistas faz novas descobertas ao norte do rio Amazonas
Fotos:Julio Bittencourt
Pesquisadores do Museu Goeldi, em parceria com uma equipe da CI-Brasil e do Imazon, inventariam uma área da Amazônia ainda desconhecida.
Cientistas do Museu Emílio Goeldi foram chamados pelo governo do Pará para pesquisar a biodiversidade da região da Calha Norte, norte do Estado, onde estão as novas unidades de conservação. O Museu Goeldi é a mais antiga instituição de pesquisa na região amazônica. Fundado em 1866, possui importantes coleções paleontológicas, mineralógicas, arqueológicas, botânicas e zoológicas, entre outras. O museu se dedica aos estudos da flora, da fauna, do homem amazônico e seu ambiente.
No início do ano representantes do governo paraense se reuniram com os representantes da CI-Brasil, do Museu Goeldi e do Instituto do Meio Ambiente do Homem da Amazônia (Imazon) para assinar um convênio para a elaboração dos planos de manejo das cinco novas áreas protegidas, que totalizam 12,8 milhões de hectares. Pesquisas feitas indicam que é uma região sensível que abriga cabeceiras de importantes rios tributários do Amazonas. A região amazônica, conhecida por seu mosaico de paisagens, possui mais de 30 eco-regiões e pelo menos 8 centros de endemismo com diferentes taxas de desmatamento. Desde o início de 2008 uma equipe de pesquisadores do museu Goeldi, em parceria com a CI-Brasil, vêm inventariando esta área fascinante e ainda desconhecida. Conseguiram catalogar mais de 2 mil espécies.
Credibilidade e união
Mapear toda essa biodiversidade faz parte do projeto Biota Pará, que avalia sete pontos distintos das unidades de conservação. Essas expedições são coordenadas pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente, que pretende formar conselhos gestores para essas unidades.
Há importantes instituições envolvidas no projeto, como o Imazon (Instituto do Homem e do Meio Ambiente), GTZ (Cooperação Técnica Alemã), Ideflor (Instituto de Desenvolvimento Florestal do Pará), Imaflora (Instituto de Manejo e Conservação Florestal Agrícola), Museu Goeldi (MPEG) e Conservação Internacional (CI-Brasil).
Este consórcio dá credibilidade às pesquisas no intuito de proteger a biodiversidade da área mais conservada do Pará e, ao mesmo tempo, encontrar saídas sociais e econômicas aos assentamentos localizados em seu entorno.
Os esforços entre o governo paraense e as instituições se concentram em uma região de grande valor do ponto de vista biológico.
São cinco unidades de conservação estaduais localizadas no escudo das Guianas. Estas somadas às terras indígenas (5), às estaduais já existentes (2) e às unidades federais (4) formam o maior bloco de florestas protegidas oficialmente – 22 milhões de hectares! É também o maior corredor de biodiversidade do planeta, que além das terras protegidas no Brasil (Pará, Amapá, Amazônia) engloba também Guiana, Guiana Francesa, Suriname e Venezuela. O importante neste tipo de expedição científica é que todos trabalham em conjunto. Enquanto Sema, Imazon, Imaflora e Ideflor se encarregam de organizar os dados socioeconômicos das florestas estaduais, o Museu Goeldi, apoiado pela Conservação Internacional, faz o diagnóstico da biodiversidade aplicando a técnica de Avaliação Biológica Rápida (RAP). Assim é possível extrair o máximo de resultados em curtos períodos. (BF)
Foto: Julio bittencour
O boto nada solto pelas águas dos rios e lagos amazônicos nas áreas preservadas
Margens do rio Trombetas, uma das áreas mais preservadas
Glossário
Unidades de Proteção Integral – São áreas onde apenas se admite o uso indireto de recursos naturais, como estudos científicos
e a visitação pública é limitada a objetivos educacionais.
Unidades de Uso Sustentável – São áreas onde é permitido o uso dos recursos naturais de forma racional e sustentável.
Endemismo/Endêmicos – São grupos de espécies únicos que se desenvolvem em regiões muito restritas.
DIVISÃO DAS NOVAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DO PARÁ
Unidades de proteção integral: Reserva Biológica de Maicurú (1,1 milhão de hectares), Estação Ecológica do Grão Pará (4,2 milhões de hectares), e Unidades de uso sustentável: Floresta Estadual de Trombetas (3,1 milhões de hectares), Floresta Estadual do Paru (3,6 milhões de hectares), Floresta Estadual de Faro (635 mil hectares).
Na Floresta Estadual de Faro o objetivo é unir a conservação da natureza com o uso sustentável de produtos florestais. Também é permitido o uso manejado dos produtos florestais não madeireiros e recursos minerais e animais. Nessas áreas admite-se ecoturismo, recreação, estudos científicos e atividades ambientais. O inventário dessas áreas ricas em biodiversidade se concentra na busca de dados sobre a herpetofauna (répteis e anfíbios), avifauna, mamíferos, peixes e flora.
As expedições científicas à região da Calha Norte vão permitir o avanço das pesquisas científicas na região amazônica, descoberta de novas espécies, além de enriquecer as coleções científicas e a sistematização de informações sobre uma região tão vasta e com uma enorme lacuna de conhecimento. As pesquisas tiveram início em janeiro de 2008 sob a orientação de Alexandre Aleixo – pesquisador da Coordenação de Zoologia e curador da Coleção Ornitológica do Museu Emílio Goeldi – e conta com uma equipe de vinte pesquisadores especialistas em biodiversidade amazônica.
Até agora, com as 3 primeiras expedições, foram levantadas mais de duas mil espécies de aves, mamíferos, anfíbios, répteis, peixes, plantas superiores e samambaias.
Alexandre comemora: “Estamos visitando áreas nunca antes amostradas por cientistas da biodiversidade e o resultado tem sido a descoberta de novas espécies e o registro de várias outras nunca encontradas antes naquela região. As novidades são tantas e o ritmo de campo tão intenso que não tivemos tempo ainda de ‘digerir’ com calma tamanha quantidade de informações”.