Obama promete reduzir em 80% emissões

15 de dezembro de 2008

Novo presidente do EUA quer liderança americana na mudança climática


 


Num vídeo de quatro minutos, apresentado em Los Angeles, na abertura da cúpula sobre mudanças climáticas, realizada em novembro, Obama não mediu palavras: “Quando eu assumir – disse – vocês podem estar certos de que os Estados Unidos irão se engajar vigorosamente nas negociações para liderar o mundo em uma nova era de cooperação mundial contra o aquecimento global.”
Um dos mais persistentes críticos da administração Bush na área ambiental, Obama apresentou, durante sua vitoriosa campanha eleitoral, um programa de realizações concentrado na participação ativa do governo americano nas discussões mundiais sobre o aquecimento global.
Representantes do seu “staff” de transição estiveram recentemente em Poznan, na Polônia, participando informalmente da 14ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP14), mas Obama fez questão de informar que a posição norte-americana no evento ainda é a do governo Bush.
A COP14 terminou sem grandes decisões, mas as discussões sobre o aquecimento global avançaram na direção das posições que serão sustentadas em dezembro de 2009, quando da realização da COP15, em Copenhague. 
É nesta cúpula mundial, à qual comparecerão representantes de 200 países, que deverão ser definidas as metas quantitativas de redução das emissões dos gases do efeito estufa, que vigorarão após 2012, quando termina a vigência do Protocolo de Kioto.


Emergentes
Embora esteja determinado a fixar metas quantitativas de redução de CO² por parte dos Estados Unidos, Obama seguirá a estratégia de Bush, exigindo uma participação dos países em desenvolvimento no esforço mundial de combate ao aquecimento global.
Na avaliação de Daniel Esty, membro da equipe de transição de Obama para energia e meio ambiente, o documento que substituirá Kioto deverá adotar o princípio das responsabilidades comuns. Por esse princípio, cada país assumirá compromissos de execução obrigatória, ainda que diferenciada, em função do respectivo passivo ambiental. Quem polui mais, reduz mais.
Trata-se de um recado direto enviado principalmente à China, à Índia e ao Brasil, países que resistiram à fixação de metas de redução, sob a alegação de que estariam prejudicando o seu desenvolvimento e abdicando de sua soberania. Dos três, apenas o Brasil flexibilizou sua posição, apresentando em Poznan um programa de reduções quantitativas de desmatamento.


Protocolo de Kioto


A Índia mantém-se aferrada ao argumento de que são os países industrializados que devem sustentar o esforço anti-poluição e transferirem tecnologias aos países em desenvolvimento, enquanto a China já emite sinais de que poderá mudar sua posição em Copenhague. Motivo: a constatação, recentemente admitida até por dirigentes chineses, de que o país, juntamente com os Estados Unidos, carrega a incômoda posição de campeão mundial da poluição.
As emissões anuais em todo o mundo correspondem a 8,5 bilhões de toneladas cúbicas de gases causadores do efeito estufa, estimando-se que somente a China seja responsável por 20% dessas emissões.
Para Esty, “os países em desenvolvimento têm de entender que eles são fundamentais ao problema e vitais para a solução e eles terão de partir para a ação real no próximo período.” Em referência à China, Esty diz que, ao invés das emissões crescerem 60% na próxima decida, “eu esperaria 20 ou 30%”.
Embora os EUA, sob o comando de Bush, tenham defendido o mesmo ponto de vista de Obama (participação obrigatória dos países em desenvolvimento no esforço mundial anti-poluição),  e com isso justificado a não adesão ao Protocolo de Kioto, as lideranças ambientalistas continuam de sobreaviso. Elas se perguntam se, ante uma resistência de emergentes como a China e a India, os americanos sob Obama manteriam em Copenhague a posição do antecessor do novo presidente ou dariam um passo adiante, comprometendo-se com metas de redução, independente da cooperação dos países em desenvolvimento.


Posição brasileira
Ao contrário da COP13, em Bali, no final de 2007,  agora em Poznan o Brasil apresentou uma proposta de redução quantitativa do desmatamento. O plano brasileiro quer reduzir o desmatamento de 2006 a 2010 em 40% em relação à média de 1996-2005 e, nos quatriênios seguintes, chegar a uma redução de 30% em relação à média do quatriênio anterior. 
Segundo especialistas da ONU, entre 2000 e 2005, ocorreu no Brasil 48% da perda de cobertura florestal no mundo.
A proposta brasileira representa um rompimento com a posição solidária  que sustentava com a Índia e a China e um passo em direção à estratégia a ser desenvolvida por Obama: um compromisso com metas mensuráveis, reportáveis e verificáveis, resultantes de decisões soberanas, eventualmente referendadas mas não estipuladas por ajustes multilaterais.


Daniel Esty, membro da
equipe de transição de Obama para energia e meio ambiente


 


 


 


 


Fundo Verde


No discurso de abertura de uma conferência sobre mudança climática organizada recentemente pelas Nações Unidas em Pequim, o primeiro-ministro da China, Wen Jiabao, insistiu na tese de que os países ricos devem mudar seu “estilo de vida insustentável”, pois demandam muitos recursos.
Jiabao propôs a criação de um fundo verde internacional organizado pelas Nações Unidas, destinado a promover a transferência de tecnologia ecológica aos países em desenvolvimento. O fundo exigiria que os países ricos doassem o correspondente a um por cento do seu PIB, para ajudar às nações pobres e poluidoras, aparentemente sem que houvesse, da parte delas, um compromisso de redução de metas quantitativas de emissões poluentes.
Posições como as da China e do Brasil, e a atitude de intransigência da Índia, dão a medida das dificuldades que a administração Obama terá de enfrentar para assumir, de forma positiva, o papel de liderança na discussão do aquecimento  global, reclamado pelo novo presidente americano.