2009, o Ano do Gorila

14 de fevereiro de 2009

A ONU escolhe o gorila para protegê-lo da extinção. Três das quatro subespécies estão sob ameaça de desaparecer.


O Diretor-Geral da Unesco, órgão da ONU, Koïchiro Matsura, declarou estar alarmado com os incidentes violentos acontecidos na província de Kivu do Norte, na República Democrática do Congo, apoiando a declaração do Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon, que pediu o cessar fogo imediato na região e que todos se esforcem para resolver o conflito de forma pacífica. Esta violência ameaça a integridade do sítio que é patrimônio mundial, o Parque Nacional Virunga, que guarda relevante biodiversidade biológica e onde se situa o habitat das populações remanescentes de gorilas da montanha, espécie altamente ameaçada. Os guardas florestais do parque não conseguem mais patrulhar a área e o habitat dos gorilas deixou de ser um lugar seguro. O relatório International Union for Conservation of Nature (IUCN), publicado em 2008, advertiu que quase metade das 634 espécies e subespécies de primatas do mundo estão ameaçadas de extinção em consequência das ações indevidas realizadas pelo homem.


 



Jane Goodall, cientista, dedica a sua vida a observar chimpanzés na selva e documentar os seus hábitos. No Brasil, publicou o livro “Uma janela para a Vida – 30 anos com os chipanzés da Tanzânia”, Jorge Zahar Editor, 277 páginas. Ela dirige o Jane Goodall Institute em Ridgefield, Connecticut, EUA (www.janegoodall.org)


 


Geoprocessamento


As áreas tradicionalmente habitadas pelos gorilas estão sendo monitoradas por satélite. Os primeiros mapas cartográficos mostram, com um nível de detalhe sem precedentes, que as áreas de montanha dos gorilas africanos estão em vias de extinção. O mapeamento ajudará a proteger os cerca de 700 exemplares vivos desta espécie.
 “É emocionante ver o que podemos fazer tendo os mapas como ponto de partida”, observa Maryke Gray, responsável pelo monitoramento regional do Programa Internacional de Conservação de Gorilas (IGCP). “A área abrangida é um maciço vulcânico de difícil acesso; os poucos mapas disponíveis têm mais de três décadas e são, frequentemente, imprecisos; para algumas zonas do território nem sequer possuímos mapa”.
Dennis Babasa, coordenador de monitoramento ecológico do Instituto de Conservação da Floresta Tropical de Uganda, acrescenta: “Há muito que queríamos criar estes mapas, mas não tínhamos, pura e simplesmente, as ferramentas necessárias. A detecção remota fornece informações úteis para o nosso trabalho.”


Os Parques Nacionais
Os gorilas de montanha habitam as altas florestas situadas nas fronteiras entre Ruanda, Uganda e a República Democrática do Congo. Estas regiões constituem um conjunto de cinco parques nacionais. Três destes parques foram reconhecidos como Patrimônio Mundial pela Unesco, e os outros dois foram indicados para esta categoria.
No entanto, conflitos políticos regionais originaram um fluxo de refugiados para as áreas limítrofes dos parques. O desmatamento da floresta tendo em vista a agricultura ou o combustível, bem como a caça ilegal em busca de alimento, teve um grande impacto nos parques, reduzindo o habitat dos gorilas.
 A próxima etapa do trabalho de cartografia será a ampliação das áreas de preambulação dos gorilas. Serão mapeados o Parque Nacional de Kahuzi-Biega, o Parque Nacional de Virunga, o Parque Nacional de Bwindi e o Parque Nacional de Mgahinga, todos em áreas de montanha e em zona de fronteira com quatro países.


Um gorila adulto pode consumir
até 30Kg de comida  em um dia


 


 


 


Vivendo com os primatas


Além de serem os parentes mais próximo do homem, com 98,4% dos genes iguais aos nossos, os gorilas são fundamentais para o equilíbrio das florestas que, por sua vez, regulam o clima no planeta. Importante papel também desempenhado por outras espécies de primatas não-humanos, como o chipanzé, por exemplo.
Estudar o comportamento dos chipanzés foi e ainda é o objetivo da cientista Jane Goodall. Quando chegou ao Parque Nacional de Gombe, na Tanzânia, no início da década de 60, a bióloga inglesa, hoje com 74 anos, pretendia ficar ali por dois ou três anos. Jane viajou como discípula do arqueólogo Louis Leakey (1903-1972), incansável pesquisador das origens humanas. Ele imaginava que a compreensão do comportamento dos nossos parentes mais próximos pudesse indicar um caminho que desvendasse o passado da humanidade.
Tratava-se de um estudo pioneiro, pois até então pouco ou quase nada se sabia sobre esses animais, considerados os mais inteligentes entre os primatas. Justamente por isso, não era fácil observá-los. Assim, Jane foi ficando e depois de trinta anos de convívio diário com os chimpanzés publicou em livro os resultados desse estudo, o mais completo de que se tem notícia sobre uma espécie viva. Suas conclusões desconcertaram os cientistas, pois as semelhanças entre os chimpanzés e o homem começam na estrutura molecular do DNA – eles se diferenciam em pouco mais de 1%- e vão muito além. Passam por laços de afetividade e solidariedade entre os membros de uma família, pela luta pelo poder, e até mesmo por epidemias e doenças.
Ao longo desses trinta anos, Jane e sua equipe enfrentaram toda sorte de dificuldades: doenças tropicais, ataques de animais e até mesmo sequestros. Em 1975, por exemplo, quatro estudantes que trabalhavam com ela foram raptados por um grupo de guerrilheiros que frequentavam as matas da Tanzânia. Isso obrigou-a a se retirar do local até que os estudantes fossem libertados e as coisas se acalmassem. Nessa época, ela já conquistara a confiança dos animais, a ponto de transitar livremente entre eles, como se fosse integrante do grupo – na região existem três grupos nômades e rivais de chimpanzés e Jane concentrou-se em um deles.