ornitologia

VOCAÇÃO PASSARINHEIRA

21 de março de 2009

Sou da ave liberta nesta imensa gaiola global, sem grades ou amarras


 


A ave não canta
porque espera aplausos,
ela canta porque tem uma canção. A ave
não pertence a
ninguém, pertence
à liberdade na qual plana suave
e feliz.”


 


Dias destes, li um cartaz referindo-se a uma Oração do Passarinheiro, que dizia em certo trecho: “Seja feita a disputa de canto, assim na roda, como em casa. Cante muito todo o dia. Dai-nos muito orgulho. Perdoai-me porque te prendo”. Definitivamente, não sou passarinheiro do dicionário. Prefiro sê-lo como apreciador de aves em liberdade.
Melhor aplaudir a utilidade da beleza que usufruem do espaço, que lastimar seu imenso desejo de bater asas fora da gaiola. Melhor aplaudir a oportunidade que usufruem das intempéries do tempo, que lastimar seu desejo de não sentir as variações climáticas. Melhor aplaudir a oportunidade que usufruem do alimento na natureza, que lastimar sua falta de opção para a nutrição desejada. Melhor aplaudir a oportunidade que usufruem bebendo todas as águas, que lastimar a falta do riacho e do orvalho. Melhor aplaudir os perigos que desafiam, que lastimar a falta da criança com sua seta. Melhor aplaudir seu canto e seu vôo, que lastimar a falta de liberdade.
Definitivamente, não sou passarinheiro do dicionário. Sou da ave liberta nesta imensa gaiola global, sem grades ou amarras, ainda que estejam restringindo o seu espaço por ações egoístas e desumanas. Alguém já disse que a ave não canta porque espera aplausos, ela canta porque tem uma canção.
A ave não pertence a ninguém, pertence à liberdade na qual plana suave e feliz. Nessa liberdade ela não precisa cantar muito, o pouco que emite ecoa por todos os cantos. Desejo continuar sendo um passarinheiro de coração aberto, sem pesos ou medidas, para que nele também as aves encontrem seu espaço para voar. Não quero que tenham anilhas nem no meu pensamento, para que nenhum obstáculo se ponha a frente de suas migrações ou modo de viver. Elas não devem ser umas metamorfoses entre o ontem, o hoje e o amanhã. Que elas deixem eternamente suas marcas nas alturas.