Sabiá albina tem problema de relacionamento

21 de março de 2009

De como uma sabiá tornou-se “patinho feio” do terreiro

Dalgas Frisch acompanhou o comportamento da sabiá albina. O jovem sabiá abre o bico de forma ameaçadora quando a sabiá albina tenta aproximação


 


 


Ela é uma legítima ave nacional, ou seja, uma sabiá-laranjeira (Turdus rufiventris). O sabiá tornou-se Ave Nacional em 1997, por decreto do presidente Fernando Henrique Cardoso. Segundo o ornitólogo Johan Dalgas Frisch, descobridor da aparência estranha da sabiá albina,  o problema está na pigmentação das asas, no dorso e na barriga.  “Ela não tem a cor alaranjada na barriga e suas asas não são formadas por penas que misturam tons cinzas e marrons”, explica Dalgas. “Aí, continua ele, o que acontece? Em vez dos machos cantarem para ela, pois no universo das aves os machos é que devem impressionar as fêmeas com o canto ou com cores, os jovens da espécie a estão rejeitando. Eles abrem o bico de forma ameaçadora toda vez que ela, solitária, tenta uma aproximação”.
Johan Dalgas Frisch, 79, é pesquisador, escritor e  um dos maiores ornitólogos brasileiros. Presidente da Associação de Preservação da Vida Selvagem,  Dalgas viu pela primeira vez a sabiá albina, em novembro do ano passado, quando caminhava pelos parques de São Paulo. “Me assustei quando vi a sabiá albina. Me assustei por ser uma raridade. Aí passei a acompanhar o comportamento desta ave em relação à sua espécie. Veio então a segunda novidade. A rejeição dos machos”. 
O fato já correu o mundo. O jornal norte-americano Nature Society News destacou a notícia: “Um pássaro muito raro, semi-albino, vive nos jardins de São Paulo.”
O cuidado do ornitólogo Johan Dalgas Frisch foi mais longe. Durante seu caminhar, ele faz questão deixar minhocas, bananas, mamão e abacate para a sabiá albina. “É uma forma de amenizar a situação dela”, explica Dalgas. “Não quero que nada lhe falte. Afinal, os machos não querem saber dela, e por isso não deve ter um grande amor.”


glossário


ALBINISMO


O albinismo pode ocorrer no reino animal e vegetal. Consiste numa alteração genética que ocorre nos seres vivos, afetando-lhes a pigmentação.
Na Zoologia, a anomalia se caracteriza pela ausência total ou parcial do pigmento da pele, dos pêlos e do olho (a melanina).
E na botânica consiste na diminuição ou ausência total do caroteno, substância que dá cor à clorofila.
O albinismo parcial produz manchas alvas em fundo verde, e corresponde à chamada variegação. Neste caso, o vegetal torna-se ornamental graças à beleza que adquire.