Desenvolvimento (', In)sustentável

Vento a favor

21 de março de 2009

Por que tanta indiferença aos bons ventos das eólicas?

Para se ter uma idéia, a geração de energia a partir dos ventos, em âmbito global, triplicou entre 2003 e 2008, passando de 40 mil MW para 120 mil MW. Estima-se que a energia eólica poderá garantir 10% das necessidades mundiais de eletricidade até 2020, criando 1,7 milhão de novos empregos, além de reduzir a emissão global de dióxido de carbono na atmosfera em mais de 10 bilhões de toneladas. Outros números que merecem atenção: o Brasil ocupa a 24ª posição no ranking de produtores de energia eólica, com produção de 341 MW, contra robustos 25 mil MW dos EUA, o primeiro colocado mundial.
Paradoxo – O fato é que na Terra Brasilis, apesar da evidente vantagem competitiva – 70% de nossa população concentra-se na faixa litorânea e as regiões Sul e Nordeste tem perfil para abrigar as tais usinas –, o governo permanece indiferente aos bons ventos das eólicas. E não é porque esteja preocupado com o impacto das plantas, que com suas imensas torres e pás alteram, sim, a paisagem e podem até ameaçar pássaros se forem instaladas em rotas de migração. Outro paradoxo: ano passado foram realizados, no Brasil, leilões de energia nova em que as usinas termelétricas movidas a óleo diesel reinaram absolutas.
Algumas iniciativas tentam romper o cerco, a exemplo do Centro de Excelência em Energia Eólica da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). A USP também protagoniza um megaprojeto de energia eólica offshore no Ceará.  O empreendimento é ambicioso. Pretende ser uma “Itaipu dos ventos”, mas para virar realidade depende do desenvolvimento de uma tecnologia inovadora, ainda inexistente no País, a qual consiste na fabricação de super aerogeradores.
Recursos para esta pesquisa nem são cogitados nos gabinetes. Mas no universo empresarial, nomes de peso como Vestas, GE, Villares Metals, Impsa e Siemens exibem disposição para investir pesado no negócio das eólicas aqui no Brasil.


Riscos não calculados
Para prospecções no pré-sal,  este ano, a Petrobras já tem garantidos US$ 12,5 bilhões do BNDES e mais US$ 5 bilhões de empréstimo-ponte de bancos brasileiros, sendo que US$ 1,5 bilhão já foi lançado no mercado de capitais.  Mas nessas águas, o mar não está para cruzeiro. Em agosto do ano passado, durante sua apresentação no seminário “Os Desafios do Pré-Sal”, promovido pelo Instituto Brasileiro de Petróleo e a Fundação Getúlio Vargas, o presidente da Devon no Brasil, Murilo Marroquim, lembrou que mais de 100 poços já tinham sido perfurados na bacia de Campos, na camada do pré-sal, sem sucesso. E arrematou: “Essa história de que não há risco no pré-sal não existe. Não há risco no pólo Tupi. Também já houve casos em que os Testes de Longa Duração no pré-sal de Campos não confirmaram o volume previsto inicialmente”.
A Petrobras não se pronunciou. Quanto à estimativa de custos, alguns estudos como o elaborado pelo banco USB Pactual, diz que seriam necessários 600 bilhões de dólares (35% do PIB brasileiro) para extrair os 50 bilhões de barris estimados para os blocos de exploração de Tupi, Júpiter e Pão de Açúcar (apenas 13% da área do pré-sal).
 “Tal volume [de dinheiro], mesmo diluído ao longo de vários anos, coloca grandes desafios para a economia brasileira. Não se trata, simplesmente, do financiamento dos investimentos. Mesmo se houver influxos de capitais externos para financiá-los, persistirão ameaças ao equilíbrio macroeconômico”.
A análise é de Márcio G. P. Garcia, Ph.D. por Stanford, e professor do Departamento de Economia da PUC-RJ, no artigo Macroeconomia do Pré-Sal, em  http://www.econ.puc-rio.br/Mgarcia/Artigos/Artigos%20Valor/080829%20valor%20v08.pdf


Discriminação positiva para os ventos
O secretário-executivo do Conselho Global de Energia Eólica, Steve Sawyer, defende a necessidade de o governo brasileiro fazer mais investimentos em energias alternativas, já que, segundo ele, “a energia hídrica não será suficiente para suprir o crescimento da demanda energética, calculada em 5 mil MW por ano”.
Faz coro com Sawyer o secretário-executivo da Associação Brasileira de Energia Eólica, Pedro Perreli. E ele vai longe: quer que o Congresso Nacional estabeleça uma legislação que faça a energia eólica entrar de verdade na matriz energética tupiniquim. Para isso sugere um modelo semelhante ao das hidrelétricas, com prazos de contratos de 10 a 30 anos para venda de energia e condições de financiamento amigáveis.


Alto custo para quem?
Polêmicas à parte, nossas generosas “jazidas de ventos” são tangíveis e seu potencial  está bem mapeado em estudos sérios como o Atlas do Potencial Eólico Brasileiro. Fica a pergunta que não pode calar: por que a exploração de petróleo no pré-sal pode receber uma dinheirama, mesmo com o mencionado risco de “mico”, e as eólicas continuam a deriva, só porque seus críticos afirmam que os aerogeradores ainda tem alto custo?
Se o problema é fazer bom uso do dinheiro público, então a matemática e a teoria do risco favorecem as eólicas.
Moral da história: as eólicas só precisam ganhar um pouquinho do tratamento VIP dado ao petróleo na camada do pré-sal, ou às hidrelétricas e termoelétricas. Cá entre nós, nada capaz de colocar em risco os interesses dos lobistas de plantão.